Confira a entrevista de Romário ao Lance!

Na quente tarde desta quarta, em São Januário, Romário fez aquilo que o consagrou como um dos maiores personagens do esporte. Dentro de campo, dois gols. Fora dele, brilhou em uma entrevista coletiva ao mesmo tempo bem-humorada e emocionante, sincera e sarcástica. Foram tantos os assuntos abordados, desde sua infância, que o craque teve de avisar: \"calma, que essa não vai ser minha última entrevista, não.\" A seguir, os principais trechos da entrevista:

Romário aos 40
\"Dizem que a vida começa aos 40. Mas me disseram isso aos 20 e aos 30 anos. Hoje, sou uma pessoa feliz, continuo fazendo o que mais gosto. Posso dizer que conquistei 80% ou 90% do que eu almejei.\"

Personalidade
\"Tive problemas com algumas pessoas durante a vida. Mas 95% deles foram resolvidos. Sei que não sou uma pessoa fácil de lidar. Tenho um comportamento diferente da maioria. Nem melhor, nem pior, apenas diferente. Mas garanto que fiz mais amigos do que inimigos.\"

A hora de parar
\"Muita gente disse para eu parar ano passado, artilheiro. Mas não quis. O ideal seria parar campeão, porque artilharia é uma vitória pessoal, e futebol é coletivo. Não tenho medo de não terminar por cima.\"

Polêmica dos mil gols
\"Nunca fui unanimidade, nem na Copa de 94. Vou continuar fazendo meus gols, contra times mais fracos ou não. Quem tem boca fala o que quer. Uma coisa que me motiva a continuar nesta luta é o povo. O povo brasileiro sempre me apoiou. E quero dar mais esta alegria. Na rua, até mesmo tricolores, rubro-negros e botafoguenses vêm dizer que estão torcendo para eu chegar lá. Isso me dá força para continuar. Estou com 949 gols, até a Fifa já reconheceu. Não é a minha conta, é a conta oficial.\"

Medos
\"Sou uma pessoa normal, tenho alguns medos, como qualquer um. De cachorro, porque, quando era pequeno fui mordido por três e levei 40 pontos na barriga. Tenho medo de avião, apesar de já ter voado muito. E de comer peixe com espinha, outro trauma de infância.\"

Origem pobre
\"Sou favelado com orgulho. Ouço as pessoas falarem \"comunidade\", mas acho \"favela\" uma palavra até mais bonita. Por ter vindo de onde eu vim, dando duro no Jacarezinho, e conquistar tudo o que tenho, só posso ser muito feliz.\"

PSV
\"Fui para a Holanda com 22 anos. Tive muita dificuldade com a língua, e o clima. Imagina sair daqui do Rio e pegar um frio de 21 graus negativos. Mas acabei me dando muito bem por lá.\"

Barcelona
\"No Barcelona foi onde eu mostrei todo o meu potencial. Foi quando o mundo pôde conhecer o meu futebol. Sou muito grato e sempre torço pelo Barça.\"

Volta para o Brasil
\"Tenho consciência de que se eu ficasse mais tempo no Barcelona, seria muito mais reconhecido. Teria sido eleito mais duas ou três vezes o melhor do mundo. Mas não me arrependo de ter voltado.\"

Gênio da área
\"Sempre tive o dom de fazer gols. Dentro da área, pelo menos entre os que eu vi jogar, só o Pelé foi melhor do que eu. E olha que, para mim, é mais fácil fazer gols hoje do que antigamente.\"

Frasista
\"Tem várias frases que eu lembro, nesses anos todos. A do bobo da corte (no Estadual de 2000, Edmundo disse que Romário era o príncipe de São Januário. O Baixinho respondeu que o Animal era o bobo da corte). Tem a do ônibus (Romário disse que o técnico Alexandre Gama tinha acabado de entrar no ônibus e já queria sentar na janelinha). E tem muita coisa que botam na minha conta. Não aparento muito, mas sou um cara engraçado. Meus amigos riem muito comigo.\"

Ivy
\"Minha filha que vai ficar ao meu lado para o resto da vida. As pessoas têm de encarar a Síndrome de Down com naturalidade. Faz parte da vida. Amo a Ivy como todos os outros filhos. Ela só precisa de um pouco mais de atenção.\"

Noite
\"Sempre gostei da noite e continuo assim. A diferença é que antes eu ia azarar as mulheres. Hoje, só quero tomar meu refrigerante e curtir meu funk, meu hip-hop. Se você me perguntar por que eu gosto da noite, é simples: é que à noite você vê só o que você quer. De dia, é obrigado a ver tudo (risos).\"

Frustrações
\"Tenho algumas. As duas Copas que não disputei, 98 e 2002, e a Olimpíada. Mas não guardo mágoa. Nem dos técnicos que não me levaram para essas competições. Cada um segue sua vida. Os 10% ou 20% que eu disse que não conquistei, foram as finais que perdi. No Vasco, no Flamengo.\"

O que fazer quando parar
\"Ainda não sei, mas vou ter de arrumar um trabalho, né? O que eu mais queria era ter um programa de TV só para dar porrada em vocês (jornalistas). Tô brincando (risos). Não quero ser técnico. O treinador tem de ficar no clube mais tempo do que os jogadores, não dá (risos).\"

Imprensa
\"Sou agradecido à imprensa, teve um papel muito importante na minha carreira. Diria que 70% foi positivo, mas, no geral, está bom.\"

Política
\"Existe essa possibilidade. O presidente Eurico me convidou para o partido dele (PP), e eu estou filiado. Mas ainda não decidi. Se eu entrar, vai ser para ajudar as crianças, em especial as que têm Síndrome de Down. Já me disseram que, estando na política, é mais fácil de conseguir fazer as coisas pelos outros.\"

Ficar no Vasco
\"Conversei com Fluminense e Corinthians. Mas pesou muito a amizade com o Eurico. Só aqui no Vasco eu recebo essas condições de trabalho. O fato de o Renato ser o técnico também pesou, ele me entende, sabe como eu rendo melhor. Não posso esquecer a torcida. Na outra passagem aqui, a relação era complicada. Agora está perfeito.\"

Brigas
\"Essas atitudes, como eu falo na minha galera, foram derrotas. Não diria que eu me arrependo, ou que não faria de novo. Mas certamente pensaria duas vezes. Para o Andrei e o Cafezinho, ficam as desculpas.\"

Melhor jogador
\"O melhor de todos com quem joguei foi o Michael Laudrup, dinamarquês, que jogou comigo no Barça, por poucos meses juntos. Mas ele jogava muito.\"

Melhor marcador
\"Mozer, Ricardo Rocha, Ricardo Gomes, Mauro Galvão. Esses eram casca-grossa.\"

Gol mais marcante
\"Tem alguns. Um, pelo PSV, acho que contra o Steua Bucareste. Driblei uns oito caras. Acho que eram oito, toda hora aparecia um na minha frente, e eu derrubava (risos). Contra a Holanda, na Copa de 94, naquele cruzamento do Bebeto. E o de hoje de letra (risos).\"

Pára este ano?
\"Os outros estão muito fracos, vou ficando. Quem mais sabe sobre minha carreira é minha mãe. Eu digo que vou parar, ela diz para eu continuar. Pode ser esse ano, ou o ano que vem, vamos ver.\"