A Austrália amanheceu em estado de graça na última terça-feira após a vitória sobre o Japão. E cheia de confiança de que pode fazer frente ao Brasil hoje, empatando ou, quem sabe, até ganhando. Para quem nunca deu muita bola, redonda ou achatada, para o futebol, a pretensão é estarrecedora.
- Um a zero para a Austrália - arrisca Ken Muñoz, australiano, com pai equatoriano e mãe chilena. - Tenho muitos amigos brasileiros que não acreditam no nosso futebol, mas acho que eles vão ficar chocados com o que a Austrália pode fazer. A maioria dos meus amigos australianos acredita que podemos chegar lá.
- Empate em dois a dois - aposta o também australiano George Herbert. - O Brasil não está levando a Copa muito a sério, parece que estão treinando. E contra a Croácia estavam caminhando no campo.
Apesar da euforia, a mídia australiana tem sido bastante didática no país do rúgbi. Nos jornais, seções intituladas \"futebol para idiotas\" explicam as regras do esporte. A TV ensina que a bola é redonda e que nunca se pode tocar nela com as mãos - mas com a cabeça, sim - e que se deve sempre tentar fazer gols. A lição de hoje é sobre o significado dos cartões amarelos.
Um dos mais respeitados comentaristas de futebol do país, Tony Palumbo, ítalo-australiano de 64 anos que já fez a cobertura de seis Copas, acha que a gigantesca explosão de entusiasmo dos australianos é ditada mais por patriotismo que por conhecimento de futebol.
- Se falarmos de favoritos, o Brasil leva. Se falarmos de possibilidades, tudo pode acontecer. Especialmente com esta seleção australiana, capaz de qualquer coisa. Digo isso desde o começo, quando todo mundo ria da Austrália. As pessoas esqueciam que a seleção é formada por jogadores que atuam nas ligas mais difíceis do mundo - disse ele, da TV SBS.
Em pleno inverno e com noites geladas, muitos australianos vão preferir acompanhar o jogo de hoje embaixo das cobertas, em casa. Mas em Sydney foram espalhados telões gigantescos, onde brasileiros e australianos estarão juntos para acompanhar o jogo, de madrugada, numa confusão verde e amarela (cores também da camisa australiana). Por toda a Austrália, o lugar de acompanhar qualquer esporte são os pubs, quase que um em cada esquina do país. Há TVs por todos os lados, em muitos até uma em cada mesa.
Mas há quem prefira assistir ao jogo sozinho. Agenor Muniz, que completa 57 anos na semana que vem, ex-jogador do Vasco, de 1966 a 1971, e que defendeu o verde e amarelo da Austrália em 40 partidas pelos \"socceroos\", não vai sair de casa durante o jogo.
- Eu me emociono demais, prefiro ficar em casa e assistir ao jogo sozinho. Só de falar fico todo arrepiado, porque a minha vida sempre foi futebol, e agora a Austrália está chegando lá. - disse ele, que vai torcer pelo país. - Meu coração está aqui, mesmo sendo brasileiro. Seria injusto se não fosse assim, pois foi este país que me deu a chance de jogar duas Eliminatórias, em 1978 e 82.
Sonhar faz parte da magia do futebol. Mas um comentarista bem mais pé-no-chão, Michael Cockerill, aconselha, de Stuttgart, os australianos: \"Pegue um jornal, fotografe a tabela de pontos do Grupo F, amplie ao máximo e ponha numa moldura. A Austrália à frente do Brasil na Copa. Um momento para a posteridade, com certeza. Mas apenas isso: um momento\".