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1ª Regata do Estadual nessa manhã de Domingo terá Vasco fortíssimo

Competição esportiva mais antiga do Estado do Rio, promovida desde 1898, o Campeonato Estadual de Remo terá sua abertura neste domingo, dia 22, a partir das 9h, tendo como cenário a Lagoa Rodrigo de Freitas, que em agosto de 2016 será sede do torneio da modalidade nas Olimpíadas. Ao contrário de edições anteriores, quando ficou polarizado entre Botafogo, bi em 2013/14, e Flamengo, este deve ser o campeonato mais equilibrado dos últimos anos, graças aos investimentos feitos pelo Vasco. A entrada é franca.

Indiretamente, o Estadual é uma etapa na luta de todos os remadores para obterem vagas em competições internacionais, como por exemplo, os Jogos Pan-Americanos de julho, em Toronto (CAN) e a longo prazo, obviamente as Olimpíadas do Rio, ano que vem. Cada remada conta neste processo em que eles vêm sendo postos à prova. O fato recente que agitou as águas e que aumentou a expectativa quanto a esta temporada foi a volta da remadora Fabiana Beltrame ao Vasco. A atleta catarinense viera de Florianópolis para o clube em 2005, mas em 2009 se tranferiu para o rival Flamengo, onde permaneceu até o ano passado.

Este ano, Fabiana retornou à garagem de barcos vascaína, esperançosa de que se cumpra o projeto de reerguimento do remo do clube, prometido pelo presidente Eurico Miranda. Campeã mundial de single skiff em 2011, ela vem sendo apresentada como o símbolo dessa retomada. Contratada por dois anos, Fabiana quer traçar no Vasco o caminho para sua quarta participação em Olimpíadas. Mas evita prometer título, apesar de, pela primeira vez em anos o clube voltar a disputar todas as provas em cada regata.

— O Vasco ficou cinco anos num marasmo. Não é de uma hora para a outra que vai ressurgir das cinzas. Mas é um começo para os próximos anos voltar a ser campeão. É difícil falar em ser campeão, mas é um processo de reconstrução — analisa a especialista em provas de skiff, com 32 anos, sendo 17 de remo.

Também especializada em skiff, Beatriz Tavares teve Fabiana como companheira de Flamengo até o ano passado. Para a prova de skiff, neste domingo, a atleta rubro-negra prevê muito equilíbrio, entre ela, a própria Fabiana, Yanka Vieira Brito, também do Vasco, Nayara Pena, do Flamengo, e as alvinegras Camila Cunha e Gabriela Salles.

— O Estadual deste ano deverá ser mais disputado, equilibrado. Nos últimos anos, vinha ficando polarizado entre Botafogo e Flamengo — comenta Beatriz, de 20 anos, nove deles dedicados à modalidade. — Houve época em que o Botafogo estava mal, mas ele trabalhou muito e foi bicampeão. Agora, é o Vasco que está tentando sair da má fase. Quando um clube está mal, isso é ruim poara o esporte. O bom é quando todos estão bem.

Atleta sente falta da torcida

No masculino, Ailson Eráclito, do Botafogo, estará na água em duas provas, a do dois sem e a do double skiff. Amazonense, o atleta de 27 anos é remador há 15. Curiosamente, começou carreira não em Manaus, mas em Belém do Pará, pelo Tuna Luso, de onde veio para o Botafogo há cinco anos. Ele ajudou o alvinegro na conquista do bi carioca e agora também acredita que vá haver um enorme equilíbrio ao longo da temporada. Ele lamenta, porém, que, apesar de no Rio estarem os principais clubes e atletas de remo do país, o Estádio de Remo não receba muitos torcedores, embora a entrada seja gratuita.

— Nos cinco anos em que estou aqui, só vejo no estádio as famílias dos remadores, mas nada de torcida. Em Belém, o centro das regatas é a Estação das Docas (complexo turístico erguido no antigo porto fluvial da cidade). Lá em Belém as torcidas acompanham os clubes tanto no futebol quanto no remo, mas aqui as torcidas só vão ao futebol — explica Ailson, lembrando que na capital paraense os clubes Remo, Paysandu e Tuna Luso que têm equipes de futebol também contam com guarnições de remo.

Técnico bicampeão estadual pelo Botafogo, Alexandre Monteiro Dias Fernandes Fernandez, o Xoxô, atribuiu o sucesso de suas guarnições ao fato de ter contado com a melhor equipe nessas temporadas. Para 2015, porém, prevê muitas dificuldades porque os rivais Vasco e Flamengo vêm investindo muito.

— Vai ser duro, mas pela equipe que temos, podemos esperar o tricampeonato. Vai ser apertado. Estamos (o clube) encarando uma crise financeira, e não tivemos grandes investimentos (contratações). Nossos remadores, nossa comissão técnica e eu mesmo recebemos propostas dos rivais, mas o ambiente no Botafogo é tão bom, que não valia a pena sair — diz o treinador alvinegro, lembrando que o remo é o único esporte do Rio, exceto o futebol, que na classe adulta reúne tantos clubes grandes. — Só mesmo o remo, além do futebol reúne as camisas de Botafogo, Flamengo e Vasco. Os adversários estão gastando muito, mas nós ganhamos dois anos seguidos com uma flotilha adquirida na China. Para que se tenha uma ideia, um skiff alemão custa cerca de R$ 70 mil para ser importado, enquanto um chinês custa uns R$ 20 mil. Ganhamos porque contávamos com a melhor equipe. Quando o remador é bom faz a diferença.

No Flamengo, o técnico é Marcos Amorim, o Marcão, que retornou ao clube há dois meses e conta com uma boa base de jovens atletas e muitos remadores de alto nível, apesar da perda de Fabiana Beltrame.

— O que se vê é um equilíbrio entre os três clubes. No caso desta primeira regata, a maioria das provas é de categorias de base, como infantil, juniores, aspirantes. São atletas que no dia da competição se tornam um tanto imprevisíveis (pela inexperiência). É muita garotada junta. De qualquer forma, não vejo favoritismo nem para a regata nem para o campeonato. Há um equilíbrio entre os três — analisa Marcão.

Motivado pela volta de Fabiana e outras contratações, Marcelo Neves, treinador do Vasco, enfatizou que o mais importante é ver o cluve novamente participando de todas as provas de uma regata, pela primeira vez nos últimos cinco anos.

— Na administração anterior, com todos os cortes (de investimentos), viramos coadjuvantes. De 13 provas, fazíamos cinco ou seis. Agora, nossa ideia é participar de todas as provas, para disputá-las. Nós esperaos fazer uma boa regata e um bom Estadual — sublinhou Neves. — O Botafogo é o favorito, por ser o atual bicampeão e por contar com um grupo formado há três anos. O Flamengo também está muito forte e vem investindo. Mas prometemos muita disputa. Há muito tempo não ocorre um campeonato assim, com os três investindo.

Fluminense no remo?

Este ano, o Estadual terá apenas quatro etapas. A segunda será apenas no dia 20 de setembro, e a terceira a 25 de outubro de 2015. A quarta e última será no aniversário do Flamengo, dia 15 de novembro. O calendário foi encurtado por causa do Mundial de Júnior, em julho, na Lagoa, evento-teste para os Jogos de 2016.

Durante a semana, a Casa Civil do governo do Estado anunciou o investimento de R$ 14 milhões na reforma total do estádio, visando à adequá-lo às exigências olímpicas, com a reconstrução do pontão de largada (atualmente destruído), instalação da raia Albana (que demarca o espaço pelo qual cada guarnição pode passar) e a construção de uma nova torre de observação das provas, entre outros itens. Enquanto os projetos não saem das telas dos computadores, a situação do estádio de remo não agrada aos atletas, como atesta Fabiana.

— O Estádio de Remo está abandonado, totalmente abandonado — comenta Fabiana, antes de pôr em dúvida as promessas feiras. — Sou como São Tomé. Só acredito vendo. Tanta gente passou por aqui prometendo 1001 coisas, e depois do Pan, nada ficou.

Na esfera política, o presidente da Frerj, Paulo Carvalho, se diz otimista depois do que foi anunciado pelo governo estadual. Ele crê que o estádio será reformado e que depois dos Jogos Olímpicos o remo carioca e nacional irão lucrar com a remodelação da instalação esportiva. Ao olhar para o terreno desocupado no lugar onde antes funcionava uma academia de ginástica, próxima ao estádio, ele quer apelar ao prefeito Eduardo Paes para que ali seja construído um centro de treinamento nacional com o nome de Fabiana Beltrame, a quem considera a melhor remadora do país e um nome admirado por toda a comunidade deste esporte.

Neste domingo, Carvalho deverá lançar a campanha pelo CT durante a regata, para mobilizar todos os amantes do remo. Atleta master, o dirigente tem para o futuro, um projeto ousado, em relação ao Fluminense.

— O Fluminense (fundado especificamente para o futebol em 1902) nunca foi praticante do nosso esporte, mas queremos motivá-lo a também vir para o remo e formar guarnições. Na realidade, a princípio, ele só precisaria de uma garagem de barcos no estádio de remo depois de reformado — imagina. — Assim, nós teríamos os quatro grandes do futebol também no remo.

Outra ideia é a de uma regata dos 450 anos da cidade, a ser disputada na Lagoa, porém no trecho que está voltado para Ipanema, nas imediações da Rua Vinícius de Moraes. Sem contar para o Estadual, as provas seriam curtas (as do Estadual têm 2km de extensão) e de velocidade, com muita emoção para o público. Tal evento ainda tem de ser elaborado em conjunto com a prefeitura.

Esporte mais popular no Rio no século 19

Levando-se em conta todos os campeonatos das diversas ligas, desde 1898, o Flamengo tem 47 títulos, o Vasco, 46, e o Botafogo, seis. Muito longe da popularidade de que desfrutou no século 19 e começo do 20, o remo é uma prática que na cidade remonta ao século 16, no Brasil Colônia. Em 1565, após expulsar os franceses da Baía de Guanabara, Estácio de Sá fundou a 1 de março a cidade do Rio de Janeiro, cujo padroeiro, São Sebastião é celebrado a 20 de janeiro. Desde 1567, esta data passou a ser comemorada com a Festa das Canoas. Provas com barcos a remo eram comuns no Rio e em Niterói, até o século 19. Em 1851, ainda no Império, foi fundado em Niterói o primeiro clube de regatas do atual Grande Rio, o Grupo dos Mareantes. Em 1862, o próprio imperador Pedro II e membros da corte compareceram a uma competição do gênero organizada pela Marinha.

Foi no fim do século 19, porém, já no período republicano que começaram a surgir os clubes de regatas existentes até hoje, como o Clube de Regatas Botafogo, de 1894, que em 1942 se uniu ao Botafogo Futebol Clube, dando origem ao atual Botafogo de Futebol e Regatas. Em 1895, foi fundado o Clube de Regatas do Flamengo, que na virada de 1911 para 1912 criou seu departamento de futebol com dissidentes do Fluminense. Em 1898, foi criado o Clube de Regatas Vasco da Gama, que passou a atuar no futebol a partir de 1915.

Existente desde 1895, a União Fluminense de Regatas, precursora da atual Frerj, organizou em 1898 o primeiro campeonato do Rio, vencido pelo clube Gragoatá de Niterói (ainda existente), num evento a que esteve presente o então presidente da República, Prudente de Moraes. À época, o cenário das regatas não era a Lagoa, como agora, mas a Enseada de Botafogo, defronte ao Pão de Açúcar. A importância do esporte náutico era tão grande, e este era tão popular no século 19, que ali Pereira Passos, o então prefeito do Rio (que era a capital federal), mandou erguer o Pavilhão de Regatas, para acomodar o público que ia em massa assistir às provas. O pavilhão existiu entre 1906 e 1941, embora desde 1933 as provas de remo tenham passado a ser disputadas na Lagoa.

Beatriz Tavares (Flamengo), à esquerda, Ailson Eráclito (Botafogo) e Fabiana Beltrame (Vasco)

Fonte: O Globo Online
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