É normal em qualquer começo de trabalho: uma boa atuação é seguida de outra com mais dificuldade. No Vasco de Ramon Menezes, a oscilação de desempenho entre as vitórias sobre Macaé (domingo) e Madureira (quinta) se explica pela qualidade do adversário e pela necessidade de ajustes.
O fato é que, em que pese a eliminação precoce no Carioca, o novo técnico começou a implantar uma ideia de jogo. Em duas partidas, manteve a escalação e o mesmo desenho do time, que busca valorizar a posse de bola, tenta triangulações e ataca em bloco. É preciso, porém, melhorar especialmente na construção ofensiva pela esquerda, na recomposição defensiva para diminuir risco nos contragolpes e na dependência dos gols de Cano.
Ramon corrigiu um problema grave na época de Abel Braga: os espaços no meio. Sempre que o time vai se preparar para atacar, o lateral-esquerdo Henrique vira um terceiro zagueiro, ao lado de Leandro Castan e Ricardo Graça. Com isso, os volantes Andrey e Fellipe Bastos atuamm centralizados no meio, os atacantes Vinícius e Talles abrem e quase ficam rente à linha lateral, o que permite a Pikachu e Benítez atuar por dentro. A ideia é clara: confundir a defesa rival.
Funcionou bem contra o Macaé, mas na quinta houve mais dificuldade. O técnico Leandro Passos formou o Madureira com uma linha defensiva de cinco jogadores e congestionou os espaços. Assim, Vinícius não conseguiu dar as suas arrancadas e praticamente não teve vitória pessoal. Fellipe Bastos quase não foi a terceira figura do lado direito. E, na esquerda, Benítez e Talles não se acertaram. Resultado: além de Cano não ser abastecido, a equipe foi lenta, se precipitou e errou passes. Em um deles, de Andrey, o contragolpe não virou gol pois Igor Catatau perdeu grande chance.
- Lógico que em algum momento você propicia o contra-ataque. Precisamos melhorar muito no sentido do pós-perda, de estarmos próximos. Isso é o tempo, é construção, é a melhora do condicionamento físico e a própria tática - disse Ramon.
No segundo tempo, o Vasco melhorou. Agrediu mais. Verdade que o Madureira cansou, e a diferença física pesou a favor. O número de finalizações comprova: sete (duas certas) antes do intervalo contra 22 (oito certas) após o período de descanso. Talles cresceu especialmente após a entrada de Bruno César, que soube aproveitar o espaço na ponta esquerda - Benítez foi para a direita na vaga do substituído Vinícius.
- É uma construção. Temos muito pouco tempo de trabalho e depois é a busca do equilíbrio. No lado esquerdo, o Talles vem de lesão e tem a própria adaptação do Benítez, que vai nos ajudar muito e demonstrar todo seu potencial. Ele já vem crescendo muito. Fixar o Henrique faz parte da ideia, para ele ser praticamente um apoio, mas ele também teve a oportunidade de passar - comentou Ramon.
Cano, mais uma vez, balançou a rede. Tem nove gols no ano - a equipe marcou 12. Ou seja, há uma dependência do argentino. Ramou concordou que é preciso diversificar:
- É um jogador muito importante, que já vem fazendo tudo o que se espera dele, que é colocar a bola para dentro. Se a bola chegar, ele tem essa capacidade. Jogador inteligente, se posiciona muito bem dentro da área, mas vamos ter que trabalhar muito porque a responsabilidade é de todos de fazer os gols. Temos criado muitas oportunidades, vários jogadores tiveram chances de fazer gols nesses dois jogos.