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A relação entre Vasco, São Januário e Barreira

São Januário e a comunidade da Barreira do Vasco, vizinha ao estádio e que ganhou o nome do cruz-maltino (assim como o bairro, um trecho de São Cristovão) coexistem desde os anos 1930. De lá para cá, o clube, que na década anterior daria passos históricos na luta pela presença de negros e pobres no futebol, viveu boa parte das suas maiores glórias no estádio e construiu uma ótima relação com os moradores que ali vivem, que vai dos projetos sociais a relações comerciais e até à revelação de atletas. Essa história explica tamanha revolta por parte de moradores, torcedores e clube com a interdição do estádio, perto de completar dois meses.

A interdição se deu pelos episódios de confusão entre torcedores policiais após a derrota do Vasco para o Goiás por 1 a 0, no dia 22 de junho.

"De acordo com o Ministério Público (MP), o clube réu não tomou as providências concretas necessárias voltadas a coibir a violência e a garantir a segurança dos participantes do espetáculo em São Januário, tendo ocorrido atos generalizados de violência no interior do estádio com o arremesso de sinalizadores, rojões e outros artefatos pelos torcedores vascaínos no campo contra jogadores, comissão técnica, policiais, jornalistas e outros profissionais. Destaca, ainda, que confronto iniciado dentro das instalações de São Januário descambou para fora do estádio e as ruas do entorno", diz nota do Tribunal de Justiça do Rio na ocasião da interdição.

De lá para cá, o clube conseguiu decisão que permitia partidas com portões fechados e assim cumpriu os quatro jogos sem torcida impostos em punição do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD). No último deles, contra o Grêmio, no último dia 6, ainda tentou receber mulheres, crianças e pessoas com deficiência (medida alternativa autorizada pelo STJD), mas teve o pedido negado pela Justiça comum.

Enquanto moradores da Barreira do Vasco protestam e o clube trabalha por um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o MP e demais autoridades pela liberação do estádio, torcedores resgataram nas redes sociais um trecho do relatório do juiz de plantão no Juizado Especial do Torcedor e Grandes Eventos na derrota para o Goiás (uma das bases da ação do MP pela interdição na Justiça do Rio), Marcello Rubioli, que, entre os acontecimentos da partida, relatou que "se houve (sic) comumente estampidos de disparos de armas de fogo oriundos do tráfico de drogas lá instalado, o que gera clima de insegurança para chegar e sair do estádio", mencionando a Barreira. À TV Globo, Rubioli afirmou que o trecho foi tirado de contexto e que apenas relatou à partida, prezando pela segurança do torcedor, sem intenção de ofender a comunidade.

Na quinta-feira, O GLOBO mostrou, por meio de levantamento do aplicativo Fogo Cruzado, que os arredores de São Januário tiveram o exato mesmo número de ocorrências de tiros que os do Maracanã em 2023: 22. O Nilton Santos teve 16. Outra pesquisa feita na plataforma mostra que, desde 19 de setembro de 2021, quando o Vasco voltou a mandar jogos na Colina após a pandemia da Covid-19, apenas 14 dos 4.057 relatos de tiroteio na cidade ocorreram na Barreira do Vasco. Ou seja, 0,35% dos relatos. Pelos dados, não é possível determinar qualquer problema aprofundado de forma específica com cruz-maltino, com São Januário ou seus arredores. Mas sim a influência da violência conjuntural e do crime organizado, que assolam boa parte da cidade do Rio de Janeiro.

Pelo contrário, a Barreira do Vasco é local sagrado de integração entre torcedores antes das partidas, que fortalecem o comércio local nessa relação. A comunidade também é alvo de uma série de ações sociais do Vasco, de seus atletas e até ex-atletas, como Philippe Coutinho. O atacante Rayan, uma das maiores joias das categorias de base do cruz-maltino atualmente, é cria da comunidade. Não é o primeiro nem o último exemplo de carreiras e vidas que vão da Barreira para dentro dos muros de São Januário.

Desafios estruturais

Foto: Daniel Ramalho/VascoTorcida
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A quatro anos de seu centenário, São Januário tem desafios estruturais inegáveis, que vão do acesso a questões internas, de conforto do torcedor no dia de jogo (alguns deles alegados no relatório). Para além da polêmica, são questões com as quais o clube lida há alguns anos, e contempladas em projetos de possíveis reformas. Ao mesmo tempo, foram poucos os episódios de problemas graves de segurança na Colina nos últimos anos.

A última interdição aconteceu em 2017, há seis anos, num confronto entre torcidas na parte interna, em clássico contra o Flamengo. Na época, o clube cumpriu uma solicitação de obra de proteção que separasse os torcedores das cabines de transmissão. A interdição durou pouco mais de um mês. Daquele ano para cá, o estádio recebeu outros clássicos e jogos de grande porte sem incidentes significativos.

Agora, o Vasco conversa com as autoridades, que devem fazer exigência para reabrir o estádio à torcida. Com a partida contra o Atlético-MG, neste domingo, marcado para o Maracanã, o Vasco volta a ser mandante nos dias 16 e 19 de setembro, contra o rival Fluminense e o Coritiba.

Fonte: Agência O Globo
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