Para os jornalistas de esporte do GLOBO, o fim da era Eurico Miranda no Vasco teve um efeito semelhante ao da anistia para os exilados políticos da ditadura brasileira.
Impedidos de entrar em São Januário por ordem do ex-presidente, o colunista FERNANDO CALAZANS e os repórteres GIAN AMATO, FELIPE AWI e ANDRÉ FREITAS puderam ontem voltar ao estádio, pela primeira vez em anos. Foram recebidos pelo diretor de patrimônio, Abílio Borges, na Tribuna de Honra, um lugar histórico, escolhido pelo ex-presidente Getúlio Vargas para fazer o discurso de Consolidação da CLT, em 1ode maio de 1943.
— Neste século, não havia pisado em São Januário — disse Calazans, freqüentador do clube desde o tempo de repórter nos anos 70 e que fora impedido de entrar em 99.
Para celebrar a anistia, Calazans, que sempre criticou a administração de Eurico, comprou um calção e um boné na butique do Vasco.
Para o jogo com o Sport, amanhã, às 20h30m, o primeiro no estádio sob a presidência de Roberto Dinamite, a diretoria estuda permitir a volta da imprensa à tribuna.
Com Eurico no poder, os jornalistas ficavam do outro lado do estádio, expostos ao sol e aos humores das torcidas organizadas.
— Com o fim das restrições, toda a imprensa espera por melhores condições — disse GIAN AMATO, afastado em 2007 após escrever que o estádio fora penhorado.
Barrado pela primeira vez em 1998, AWI foi afastado do clube a partir de 2004, após noticiar problemas de Eurico com a CPI do Futebol e acompanhar uma audiência na Justiça em que foi pedida a prisão do ex-dirigente.
— Torço para que o clube reencontre a sua tradição democrática — disse Awi.
Já o exílio de ANDRÉ FREITAS começou em 2007, após uma reportagem sobre falta de pagamento do aluguel do Vasco-Barra.
— Estranhei, mas fiquei orgulhoso de ver os colegas que também foram proibidos.
Além dos quatro jornalistas, foram anistiados também o colunista RENATO MAURÍCIO PRADO e o repórter PEDRO MOTTA GUEIROS, que ontem não puderam ir ao estádio.