Quando acabou fevereiro, rebaixado, o Vasco estimou em R$ 100 milhões a perda de receita na Série B. Quando junho terminou, longe do acesso à elite, o clube conseguiu uma redução de custo para caber nas rendas disponíveis, teve superávit e controlou a dívida. O próximo passo é consolidar a maior parte do seu débito dentro de parcelas, o que deve ser feito até o final do ano.
Não há dúvidas que a gestão esportiva apresenta resultados abaixo do esperado em 2021 —o 9º lugar na Segundona fala por si mesmo. Mas as contas do clube, sim, sofreram uma mudança significativa.
"O Vasco hoje já é um clube lucrativo, mesmo com receitas muito abaixo do seu potencial por estar na Série B, mas não o suficiente para quitar suas dívidas, apesar destas já estarem sendo reduzidas. O projeto principal de subirmos à Série A é primordial para agilizarmos este processo, mas o mais importante é que o clube já se encontra ajustado para continuar nessa trajetória independente do cenário", afirmou o vice-presidente de Finanças e Estratégia do Vasco, Adriano Mendes.
O balancete do meio do ano mostra a despesa total do futebol R$ 46 milhões (folha + custo), o que daria um valor anual de R$ 92 milhões. Mas esse valor é inflado por dois meses com o time antigo e por gastos da transação de Talles Magno. A folha atual é de R$ 5,5 milhões, o que dá pouco mais de R$ 60 milhões por ano.
No ano passado, o Vasco gastou um total de R$ 99 milhões com o futebol. Esse valor seria inviável na Série B. Também houve cortes na parte administrativa, mas esses só poderão ser percebidos no segundo semestre porque houve gastos com demissões.
De saldo, sobrou um superávit de R$ 18 milhões. É preciso lembrar que o clube recebeu receitas de TV referentes a 2020 no total de R$ 23 milhões. Ou seja, teria um déficit de R$ 5 milhões sem elas. Mas é um valor bem inferior aos R$ 64 milhões de buraco de 2020.
Em relação às receitas, o clube fechou com R$ 111 milhões. Mas, sem o dinheiro de 2020, seriam R$ 88 milhões. É um valor, proporcionalmente, similar ao do ano passado. Isso graças às vendas de jogador como Talles Magno.
Receitas de sócios e marketing, no entanto, despencaram. O clube tem um sério trabalho a fazer nestes campos, e também em bilheteria com a volta do público. Se de fato não subir, as receitas de TV continuarão no patamar de R$ 30 milhões e será preciso vender melhor jogador e engajar seu público de novo. O plano para isso, claramente, passa pelo Maracanã, em associação ao Flamengo.
Fato é: o Vasco conseguiu adaptar os seus custos às receitas reduzidas. Equilibrado, o clube não teve crescimento de dívida. O valor de débitos onerosos se manteve estável na casa de R$ 830 milhões. Se consideramos o débito líquido, houve até uma certa redução de R$ 20 milhões.
Mas, com essas dívidas altas, o clube poderia ser inviável para ser administrado pelo excesso de compromissos. Basta lembramos que a Justiça do Trabalho chegou a executar R$ 95 milhões em débitos de forma automática, o que foi revertido pelo clube. E aí está o segundo passo do Vasco em sua reestruturação. "Hoje, elaboramos um plano de 10 anos para o clube, com cenários alternativos que nos permitem pensar na viabilidade do clube no longo prazo", afirmou Mendes.
Pois bem, o Vasco conseguiu já decisões judiciais cíveis e trabalhista para centralizar a cobrança de seus débitos. Para isso, usa como base a Lei do Clube-Empresa, que permite esse tipo de mecanismo. Com isso, o clube será obrigado a separar 20% das receitas para esses débitos, mas não terá mais penhoras.
Para se ter ideia, as obrigações trabalhistas e acordos cíveis e trabalhistas e contingências representam R$ 389 milhões. É quase metade de todo o débito vascaíno. O Vasco agora está negociando com a Justiça uma forma de organizar a fila dos credores. É possível que possa dar preferência na fila a quem der mais descontos no débito. Também está sendo conversado se todas as receitas entram na conta, incluindo vendas de jogadores.
Por fim, há o débito tributário. Por falta de pagamento, o Vasco estava ameaçado de ser excluído do Profut. Já houve uma notificação recente ao clube, que não pagou durante o ano passado e início de 2021.
A negociação da diretoria agora foi feita diretamente com a Procuradoria-Geral da Fazenda. Pelos termos do acordo, próximo de ser finalizado, há uma previsão de um desconto no débito que poderá cair para R$ 200 milhões. Atualmente, o valor registrado no balanço é em torno de R$ 300 milhões, mas com as consolidações, subiria mais.
A estimativa do Vasco é de pague entre R$ 8 milhões e R$ 9 milhões por ano ao governo neste novo acordo. Com isso, no caso de uma receita pouco acima de R$ 100 milhões, o Vasco teria de pagar em torno de R$ 30 milhões pelas suas dívidas principais.
Faltaria resolver os empréstimos, feitos com entidades como a Globo, CBF e empresários. O próprio presidente Jorge Salgado, já empregou um total de R$ 26,6 milhões ao clube. E não há intenção de injetar mais dinheiro desta forma, e, sim, por meio de fundos. No total, há débitos de R$ 117 milhões com empréstimos.
"Estamos trabalhando para que o Vasco possa voltar ao seu caminho de conquistas. É um trabalho longo, apesar de ser possível soluções de curto prazo, mas necessário para que possamos entregar um clube pronto para, de forma definitiva, buscar a hegemonia que possuía até o ano 2000", concluiu o vice Adriano Mendes.
Como conclusão, o Vasco tinha uma situação bem difícil, quase incontornável, e agora traçou um caminho financeiro. Seus salários têm tido pequenos atrasos, mas longe dos meses de 2020. Mas a permanência por mais um ano na Série B —que atualmente parece provável— manterá o clube sem possibilidade de gastos altos por enquanto, a não ser que surjam projetos extraordinários.