Cada vez mais ativo nos bastidores do Vasco, à medida que mais uma eleição se aproxima, Eurico Miranda deu seu parecer sobre a interminável crise no clube, que volta a respingar nos resultados em campo. Em entrevista à Rádio Tupi, o ex-presidente desta vez adotou tom ameno em relação a seu sucessor, Roberto Dinamite, e ofereceu ajuda em meio ao momento conturbado - mesmo já tendo anunciado que será oposição nas urnas, em 2014. De resto, não poupou ninguém e apontou o dedo na direção de todos os setores: detonou o trabalho do técnico Dorival Júnior e diz que reprova Ricardo Gomes na função atual.
Segundo Eurico, parte das dificuldades foram motivadas pela sequência de dirigentes que deixaram São Januário nos últimos 12 meses e colocaram o mandatário, seu desafeto de longa data, em xeque.
- As pessoas colocaram o Roberto no mais alto posto e o abandonaram, largaram. E de repente vejo eles de novo querendo postular, eles que tinham obrigação de estar do lado dele e o deixaram praticamente sozinho. O vice de futebol foi embora, o de finanças foi embora, o primeiro vice-presidente foi embora... Deixaram ele numa situação extremamente complicada. Ele está se vendo em enorme dificuldade para resolver os problemas do Vasco, que são muitos - ponderou.
O presidente do Conselho de Beneméritos foi além e mostrou que deseja participar diretamente do comando para ajudar a evitar que o Vasco seja rebaixado mais uma vez - hoje, a equipe ocupa a 17ª posição no Brasileirão e perdeu os últimos quatro jogos.
Hoje me sinto, acima de tudo, que possa agregar ao Roberto, que está no poder, com alguém que possa ajudá-lo. Ele queria ajuda, isso que é fundamental. Dificilmente você vai conseguir agregar todas as correntes do Vasco, mas sim quem quer ajudar com quem está no poder. Me sinto na obrigação de vir oferecer ajuda, para que aquilo que estou vendo acontecer, com o tempo que tenho de futebol"
Eurico Miranda
- Eu já disse que se o Vasco tivesse para cair, que eu ia intervir e fazer tudo que fosse necessário. Hoje me sinto, acima de tudo, que possa agregar ao Roberto, que está no poder, com alguém que possa ajudá-lo. Ele queria ajuda, isso que é fundamental. Dificilmente você vai conseguir agregar todas as correntes do Vasco, mas sim quem quer ajudar com quem está no poder. Eu me sinto na obrigação de vir oferecer ajuda, para que aquilo que estou vendo acontecer, com o tempo que tenho de futebol.
Reprovação a Dorival e Ricardo Gomes
Ao que tudo indica, sua primeira ação seria demitir Dorival. Com aproveitamento de 42,5% dos pontos disputados, o treinador permanece prestigiado pela diretoria, mas não escapou de críticas duras feitas por Eurico, que curiosamente fala em primeira pessoa, como se estivesse no poder.
- Não posso ter um treinador com o discurso de que estamos fazendo experiências, porque vai melhorar, acredito no fulano, no cicrano... Tenho 16 jogos para jogar. O Vasco precisa de sete vitórias, sendo que três empates é uma vitória, para chegar aos 45, pontuação que permite não cair. Só que, diante do que está acontecendo, vamos jogar só três em casa. Perdemos quatro mandos de campo. E com adversários fortíssimos, um deles o Cruzeiro. Então, acho que tem que trazer o choque, no sentido de pessoa que conheça, dirigida, com objetividade - declarou o cartola, emendando na sequência ao pôr a culpa em Dorival.
- O time do Vasco, se é bom, ruim, eu não discuto. Qual o jogador do Vitória jogaria no atual time do Vasco? O Vasco perde. Com qualquer outro, o Vasco perde. Então quem é o culpado, o time? O fato de não ter pago o salário? Evidente que a culpa é do treinador. Culpado direto nisso. E quando você precisa de um choque de comando, precisa da mudança. É fundamental que o Vasco hoje tenha um treinador cascudo, que conheça o Vasco e que não pode ir sozinho, mas com uma pessoa que lhe dê respaldo.
Para Eurico Miranda, o diretor Ricardo Gomes, responsável pelas contratações e pelo elo entre o grupo e a alta cúpula, não tem condições físicas de exercer o papel, apesar dos elogios à sua capacidade. Gomes não é mais treinador por ter sofrido um AVC em 2011 e ainda estar em processo final de recuperação, tanto da fala quanto da parte motora.
- Com todo respeito, gosto muito dele, mas o Ricardo Gomes não tem hoje a condição física, pode ter a intelectual, mas não tem a física para enfrentar uma barra como essa. Dizer para mim que vai deixar o CEO (nomenclatura do cargo de Cristiano Koehler) do Vasco resolver e vai manter da mesma maneira o salário não resolve o problema. Se fosse falta de salário, tem exemplo em todos os clubes, principalmente aqui no Rio, como o Botafogo que está lá em cima. O que precisa é de um choque, como teve o São Paulo trazendo o Muricy. Uma nova filosofia e dizia o seguinte: "Não venho para resolver, nosso objetivo é fugir do rebaixamento". Pronto, três partidas e três vitórias - simplificou.
Com a torcida furiosa pelos maus resultados, Eurico também não tem passado impune aos protestos e se viu envolvido em episódios desconfortáveis recentemente no estádio. Na derrota para o Vitória, na noite de quarta-feira, por exemplo, ouviu ofensas assim como Dinamite. O ex-presidente lamenta a postura de quem o ataca e garante que não quer chamar a atenção de ninguém em seu camarote, onde leva seus netos.
- Eu vou aos jogos, para o meu camarote, que é propriedade minha, sento lá no meu canto e não faço qualquer tipo de incentivo, nem a favor e nem contra. Assisto, levo meus netos, é o maior prazer que tenho levar meus netos para São Januário. É evidente que não vou para procurar confusão, mas infelizmente tem um grupo radical xiita que fica na expectativa de dizer "Eurico nunca mais", esquecendo que eu sou o dirigente mais vitorioso na história do Vasco. Não sei se no futebol brasileiro teve um dirigente tão vitorioso como eu. Eles ficam esperando uma oportunidade para jogar coisas contra mim - defendeu-se.