Na reunião do Conselho Deliberativo da última sexta-feira, Alexandre Campello chegou com uma proposta e saiu com um resultado completamente oposto. A ideia de passar aos conselheiros a decisão sobre a aprovação de sócios não foi aceita, e a comissão que ele sugeriu foi refeita de forma diferente: nove nomes, nenhum de sua base de apoio, já previamente encaminhados pelos grupos contrários ao presidente.
A atual situação de Campello não é confortável. A comissão de sindicância vai analisar o processo de adesão de sócios - que virou polêmica depois que a diretoria passou a rejeitar candidatos sob suspeita de mensalão. Mas há outro caso na mira: a campanha que anistiou cerca de 2,5 mil sócios, no ano passado.
Os próprios membros da comissão sabem que há pouco a se fazer em relação à questão dos sócios. Na reunião do Conselho Deliberativo, o presidente do poder, Roberto Monteiro, afirmou que esta era uma prerrogativa da diretoria administrativa. O máximo que se poderá fazer será dar um parecer. A aprovação ou não segue nas mãos de Campello.
Há, porém, grande chance de o presidente voltar atrás e decidir aprovar os sócios. A expectativa é de que isso aconteça nesta segunda-feira.
Caso seja confirmada a aceitação dos sócios, será uma mudança no pensamento de Campello. A postura inicial dele neste episódio gerou mal-estar até mesmo entre seus aliados. Muitos deles afirmam que não foram consultados pelo presidente na ideia de recusar sócios. Nomes fortes da gestão ficaram incomodados.
O que vem por aí
Além da comissão, outro tema entrará em pauta na próxima semana: a aprovação das contas de 2018. O Conselho Fiscal já enviou parecer negativo. Entre a oposição, há a tendência forte de que haja a reprovação.
Caso as contas sejam reprovadas, há o risco de o Vasco sair do Profut, programa do governo para parcelamento de dívidas. Pessoas da oposição, porém, acreditam que o risco é pequeno: outros clubes tiveram as contas reprovadas e não saíram do programa.
De acordo com a Sempre Vasco, o assunto será analisado, e uma decisão será tomada com base em informações levantadas pelo grupo.
- Estamos analisando tecnicamente as contas e também estamos levando em consideração a experiência do nosso conselheiro fiscal suplente, que teve acesso as informações. Não há um encaminhamento fechado, mas se houver motivos para reprovar, serão reprovadas. Se não existirem, não serão reprovadas. Na primeira reunião do Conselho Deliberativo tivemos a chance de afastar o presidente Campello e não fizemos. Não há revanchismo. Defendemos o Vasco.
Roberto Monteiro, por sua vez, foi mais firme nas críticas. Ele questionou o superávit apresentado pela diretoria no último balanço e também acusou a auditoria contratada pelo clube, a BDO, de sonegar informações.
- A posição do Conselho Fiscal está refletindo resumidamente o que é o descalabro deste gestor, documentos não entregues, não cumprimento do que é decidido pelo próprio Conselho Deliberativo e por fim a possibilidade de fraude no balanço, que teve representação do Conselho Fiscal no CRC e na CVM em face da BDO.
- A auditoria independente está adstrita a cumprimentos da lei que não o fez, sonegando deliberadamente informações ao CF, o que maculou sua própria auditoria. Acho q essa gestão se perdeu e principalmente se perdeu na falta de credibilidade de seu presidente. Não existe democracia sem regras. E essas são para serem cumpridas - disse Monteiro.
Para Campello, uma possível saída do Vasco do Profut seria um golpe forte nas finanças do clube. Ele defendeu a auditoria realizada pela BDO:
- O Vasco já foi advertido uma vez, pode ser excluído do Profut. Aí, fica ingovernável. O tamanho da dívida fica enorme, porque ela vem para o curto prazo. Não sei se em relação ao balanço vai haver essa mobilização. Sabemos que muita gente é contra isso. As contas foram elaboradas e auditadas por empresas com estatura. A gente vai, no momento exato, contestar aquele parecer do Conselho Fiscal, que é ridiculo. Eles tinham um prazo e se abstiveram de dar o parecer.
Identidade Vasco e Sempre Vasco: juntas ou não?
A questão também tem seu viés político. Nos grupos de oposição, o Identidade Vasco é quem mais pressiona pela reprovação. A Sempre Vasco, por sua vez, tem mais interesse na pauta das eleições diretas, marcada para novembro.
Um entendimento entre esses grupos nas próximas pautas pode ser decisivo para que a comissão dos sócios avance. Membros da situação acreditam que o processo é o início de um afastamento de Campello - outra possível consequência é inelegibilidade do atual presidente para a eleição de 2020. Isso foi abordado numa nota divulgada pelos grupos que fazem parte da gestão (Cruzada, Desenvolve Vasco e PetroVasco):
- Na próxima quinta-feira teremos mais uma reunião do Conselho Deliberativo para apreciação das contas de 2018. Apesar do parecer favorável da auditoria externa, politicamente pode se tergiversar a vontade para se reprovar uma conta e criar o ambiente propício para mais uma tentativa de afastamento - diz um trecho da nota.
Identidade Vasco e Sempre Vasco, os principais da oposição, se posicionaram juntos na última reunião. Para Campello, foi a prova de que estão alinhados.
- A gente sabe que a preocupação não é com o sócio. Há o interesse comum ali de alguns grupos. A gente vê uma associação de grupos como Casaca, Sempre Vasco e Identidade Vasco. Não se preocupam com a imagem do clube, com o que pode causar de dano em relação a investidor e a projetos. Ninguém está preocupado com isso, só está preocupado em fazer política pensando em 2020 - afirmou o presidente.
A Sempre Vasco nega qualquer união com a Identidade Vasco e classifica o pensamento como "fofoca". Para Roberto Monteiro, líder da Identidade Vasco, há uma agenda em comum.
- O que há é uma aproximação nos temas. Só isso. Não é alinhamento para a eleição. Somente agendas em comum. Poderemos mais à frente termos pensamentos divergentes, natural. Se fôssemos iguais seríamos todos do mesmo grupo - ponderou Monteiro.
Sempre Vasco perde grupo de apoio
A aproximação entre Identidade Vasco e Sempre Vasco, porém, causou rupturas. No último sábado, o grupo Confraria anunciou que deixou a base de apoio da Sempre Vasco no Conselho Deliberativo, citando "divergências incontornáveis na condução do grupo de oposição".
Estas divergências são justamente o que o grupo considera uma aproximação com a Identidade Vasco.
- Sair de um bloco não significa em deixar de acreditar em um modelo profissional defendido pela Sempre Vasco. Os objetivos continuam os mesmos, os caminhos seguem paralelos e não divergentes. O respeito continua. Além de vascaínos, conquistamos alguns grandes amigos - disse a Sempre Vasco, ao ser procurada pela reportagem.
A eleição de 2020
Faltando pouco mais de um ano para a eleição, ainda é prematuro saber se os aliados de hoje serão os mesmos de 2020. Até agora, apenas um nome se oficializou como candidato: o advogado Leven Siano. Otto Carvalho, membro do Conselho Fiscal, busca a formação de uma chapa para concorrer.
Há ainda a expectativa sobre o candidato da Sempre Vasco - Julio Brant, a exemplo dos últimos pleitos, é o favorito. O ex-presidente do Conselho Deliberativo do clube, Luis Manuel Fernandes, também estuda se candidatar. Atual presidente do Vasco, Alexandre Campello ainda não definiu se tentará a reeleição.