Política

Alexandre Campello fala sobre seus projetos para o Vasco

Alexandre Campello – Entrevistado pelo Saudações Vascaínas

Seguindo com nosso projeto de entrevistar todo os candidatos a eleição do Clube de Regatas Vasco da Gama, que acontecerá no dia 07/11, o Saudações Vascaínas a entrevista com um segundo candidato a eleição. O entrevistado da vez é o candidato da chapa Frente Vasco Livre, Alexandre Campello, que foi médico do Vasco por muitos anos. A entrevista foi realizada no dia 18/10 e nela buscamos nos aprofundar nas propostas do candidato, abordando diversos temas, para que ele pudesse compartilhar seus projetos com todos os vascaínos.

O Saudações Vascaínas não tem preferência por qualquer candidato e zela pela imparcialidade. Todos os candidatos terão oportunidade de de mostrar um pouco de seus projetos, aqui.

Abaixo as perguntas e respostas da entrevista gravada, ao vivo, no dia 18/10 (ouça o áudio completo aqui) e, ao final, um vídeo gravado ao vivo pelo candidato, enviando o seu recado final para os leitores do Saudações Vascaínas.

“SV – Como você foi médico do clube por tantos anos, teve uma relação direta com o atual Presidente, enquanto este fora Vice de Futebol e Presidente (diferentes situações). Travestir sua trajetória e a relação com o Eurico nessas diversas fases…

Campello – Minha relação profissional com o Vasco começou em 1984, quando eu fui convidado por um médico antigo no clube, Dr. Nicolau Simão, para estagiar no Vasco. Comecei no amador, em meados de Julho, naquela época o Campeonato Carioca era sempre no segundo semestre, o Campeonato Brasileiro era no primeiro. Já naquela época o Vasco tinha uma base muito forte, tinha nos juniores uma equipe fortíssima que rivalizava com o Flamengo. Na época o Vasco tinha Romário, Mazinho… O Flamengo tinha Aldair, Zinho… Era um campeonato de altíssimo nível e nós fomos campeões cariocas. E aí segui meu trabalho ainda na base em 1985, já como médico, me formei e em Janeiro de 1985 fui contratado. Em 1986 surgiu uma vaga no futebol profissional, como o meu trabalho agradou aos profissionais que lá estavam comandando, eu fui levado para o profissional, e aí comecei minha trajetória no profissional do Vasco em Janeiro de 1986, na época com o técnico Antonio Lopes dirigindo a equipe. Já em 87 e 88 fomos Bi Campeões Cariocas, e aí segui a carreira até 2004. Passei todos aqueles anos de glória do clube, onde o Vasco foi Campeão Brasileiro três vezes, Mercosul, Tri Campeão Carioca… Nesse período, em 1985, quando o Calçada foi reeleito, quem era o Vice Presidente de Futebol na gestão anterior a essa eleição era o Mano, quando ele foi reeleito o Eurico era oposição e para pacificar o clube, não ter o Eurico na oposição, ele convidou o Eurico para ser Vice Presidente de Futebol. E, de fato, naquele momento, naqueles primeiros em que o Eurico foi Vice Presidente de Futebol, ele teve uma atuação bastante interessante, com algumas ideias de vanguarda em relação ao futebol, na relação com a torcida, na relação com o Maracanã, com a mídia, com a TV… Isso se deu até o 2000, quando ele foi eleito Presidente do clube, e a partir daí é que eu acho q ele se perdeu, com maior poder, maior autonomia, eu acho que ele se perdeu nessa trajetória. Começou a brigar com a Globo, com os veículos de comunicação, e, com isso, foi modificando a imagem do clube. A gente percebia uma certa rejeição, uma certa dificuldade de relacionamento com os veículos de comunicação, muita truculência, imposição. Eu acho que a partir daí o Vasco entrou em declínio, teve bastante comprometida a sua imagem, com isso uma desvalorização dos seus ativos, um afastamento grande dos investimentos, das empresas que poderiam estar investindo no clube, quer seja em patrocínio, quer seja em parcerias. Em 2004 eu me desentendi com ele, ele tentou interferir no trabalho do Departamento Médico e eu me desliguei do clube. Quando foi em 2008, quando o Roberto foi eleito, ele já conhecia o meu trabalho, pois trabalhei de 86 até o encerramento da carreira dele, ele me convidou para voltar e eu trabalhei de 2008 a 2012. Nesse período houve um primeiro momento da gestão do Roberto que foi bom, o primeiro mandato. No segundo mandato eu vi as coisas se deteriorarem, percebi que a gente não conseguia mais trabalhar como a gente gostaria avançar naquilo que precisava ser avançado, modernizar o departamento médico, os outros setores e aí eu resolvi sair.

SV – O primeiro momento de Eurico, como VP, de futebol foi bom… 

Campello – Enquanto Vice Presidente ele teve uma boa gestão, a partir do momento que ele assumiu a direção do clube como Presidente, eu acho que ele se perdeu.

SV – Então o Calçada seria como um freio ao então VP Eurico?!

Campello – É eu acho que o Calçada servia como um ponto de equilíbrio era um freio para o ímpeto dele, para esses rompantes, para essas atitudes muitas vezes intempestivas que a gente está acostumado a ver.

SV – Apresente, por favor, o seu plano de ação descrito no lançamento de sua candidatura.

Campello – Tem muitas coisas que precisam ser modificadas, né. Nós elencamos nove ações que nós entendemos como sendo vitais para essa transformação do clube. As duas mais importantes a meu ver é você resgatar a paixão do vascaíno, o relacionamento do vascaíno, do sócio, com o clube. Eu entendo que essas pessoas estão afastadas do clube. Inclusive a parte política do clube foi muito comprometida nesses últimos 20 anos, porque as pessoas acabaram se afastando do Vasco, permaneceram dentro do Vasco aqueles que se alinhavam com o Eurico. Todos aqueles que se mostraram opositores ao Eurico, não eram bem vindos, eram hostilizados dentro do clube. Isso acabou afastando muita gente boa, muitos empresários, muitas cabeças pensantes que poderiam contribuir com o clube, para o engrandecimento do clube. Eu acho que esse resgate de trazer o vascaíno, o sócio para dentro do clube, de transformar a torcida em sócio do clube é fundamental. Eu acho que isso é que vai alavancar todo esse processo de modernização do clube. E a segunda ação, que é fundamental, é equilibrar financeiramente, se você não tem um equilíbrio financeiro, anda funciona. Hoje a gente sabe que o clube gasta mais do que arrecada. E, a meu ver, há uma certa acomodação e um pouco de incapacidade dessa direção de aumentar a arrecadação. Se você olha o balanço de 2016, que é o parâmetro que a gente, que foi publicado pela atual direção, 80% da arrecadação é do futebol, então, a direção só contribui com 20%. Esses 80% já vem de qualquer jeito, a televisão que transfere. E aí só 20% que a direção consegue arrecadar, quer seja através de receitas quer seja por plano de sócios, quer seja da área de marketing comercial, e isso é muito pouco. A gente sabe que no Brasil tem clubes que tem uma faixa de arrecadação com cotas de TV, é dividido por faixas. Então clubes que tem uma menor faixa de arrecadação conseguem competir com esses que tem cota maior de TV porque eles são mais eficientes na sua arrecadação com patrocinadores, com venda de jogador, com programa de sócios, com receitas de jogos. Então, esse balanço, demonstra a ineficiência da atual gestão. Sem contar que os gastos do clube são altíssimos, estão fora da curva, estão fora do mercado. O gasto do clube com administração, com folha salarial de funcionários (não incluindo a folha salarial dos jogadores) e gastos administrativos, são a maior do Brasil. É altíssimo esse gasto. Então essa arrecadação do clube, essa receita do clube, ela precisa ser melhor gerida, no que diz respeito aos gastos, e o clube precisa ser mais ativo na captação de novas receitas.

SV – Existe algum projeto específico de modernização e recuperação das sedes sociais, como Calabouço e Lagoa?!

Campello – Sim, claro. Uma das nossas propostas, um desses nove itens é exatamente a valorização do patrimônio do clube. A gente sabe que São Januário é um estádio fantástico, uma dos maiores histórias, um dos estádios mais importantes na história do país. Mas precisa ser modernizado. A gente tem uma expectativa muito grande de modernização de São Januário, de construir um museu que valorize a história do Vasco, que valorize as conquistas do Vasco, isso associado a um aumento de venda de produtos licenciados. Isso tem que estar linkado a uma loja, como você vê nos grandes centros. Você faz um passeio pelo museu e já sai dentro de uma grade loja, com uma grande variedade de produtos licenciados, isso aumenta a arrecadação do clube, e aumenta o interesse do sócio. A gente quer aumentar a experiência do vascaíno quando ele vai a um jogo de futebol, que ele possa ingressar ao estádio antes. A gente está cansado de ver, pessoal fazendo churrasco e tomando cerveja do lado de fora, gastando nos arredores do estádio, ao invés de estar dentro do estádio consumindo. Isso traria maior receita para o clube, esvaziaria um pouco o entorno de São Januário, que facilitaria o fluxo dessas pessoas. Mas isso depende de vontade, de iniciativa. Você pode montar uma série de alternativas para que o vascaíno se sinta bem, que ele tenha o prazer de chegar mais cedo em São Januário e de viver essa experiência que é passar um dia em São Januário.

SV – E por que não se altera isso atualmente no clube??

Campello – A permanência longa no poder traz isso, acomodação. O que a gente vê é uma acomodação desse indivíduo. “Sempre fiz isso, sempre deu certo”, continua assim, não procuro o novo, não procuro o diferente. E o que a gente quer é exatamente dar oportunidade do novo!

SV – Explique, por favor, o Ciclo Virtuoso que você apresentou no lançamento de sua candidatura

Campello – A gente sabe que a marca é um ativo muito importante em qualquer empresa, e também nos clubes de futebol. Como eu demonstrei, tem ocorrido uma valorização muito grande dessas marcas, e o Vasco está na contramão de tudo isso. Então a gente sabe que uma marca pode valer até cinco vezes mais do que o valor do seu patrimônio. Você pega a Coca-Cola, ela tem um valor de marcar que é mais cinco vezes o valor de todas as suas fábricas. Você pega a Nestlé, a marca Nestlé, por exemplo, é enorme, certamente muito maior do que todas as suas fábricas. E aí quando você fala em marca o que vem a sua cabeça? O que que marca representa? É qual a lembrança que ela te traz, se essa experiência é boa. Então para uma marca se fortalecer ela depende de como o seu público te enxerga e como você se comunica com ele, e o Vasco faz muito mal as duas coisas. Então a gente sabe que se você tem uma marca valorizada, se a sua marca se valoriza, você tem um maior interesse dos patrocinadores. Todo mundo fala “Por que não traz? Você vai trazer patrocinador?”. Primeiro a gente precisa melhor a marca, precisa melhor a transparência, precisa melhorar a forma como os nossos futuros parceiros nos enxergam. Então é isso que a gente quer, é dar transparência ao clube, é dar democracia, é trazer o sócio, porque na medida em que você aumenta o interesse do sócio, você está fortalecendo a marca Vasco da Gama. E aí as empresas que querem investir em marketing, no futebol, elas vão ter mais interesse em investir no Vasco. E a partir do momento que elas investem mais no Vasco, você melhora seu fluxo, melhora sua receita, com mais receita você pode investir mais no futebol, investindo mais no futebol certamente os resultados virão mais facilmente, e na medida de que o resultado faz, os títulos fazem aumentar a torcida. Os títulos atraem a admiração, o interesse. Em última análise, você está novamente valorizando a marca, e valorizando a marca a gente volta para todo esse círculo que vai novamente aumentar receita, aumentar a qualidade de futebol, aumentar o sócio, aumentar a marca. Isso que é um círculo virtuoso, que é o que a gente espera criar no Vasco, criar esse círculo virtuoso positivo. Porque hoje ele é negativo, o Vasco arrecada mal, investe mal, o time tem menos sucesso, desvaloriza marca, diminui o público, briga com a imprensa… Essa é uma das outras bandeiras que nós levantamos é exatamente isso, o resgate da imagem do clube, e da dentro do resgate da imagem do clube, além do resgate do relacionamento do sócio, é o resgate da relação com os veículos de comunicação.

SV – A torcida do Vasco é muito grande fora do RJ. Como fazer esse torcedor se associar se o grande atrativo dos programas de sócio torcedor é a facilidade na compra do ingresso. Mas, se o torcedor é de fora do RJ, como fazê-lo se associar e se manter como sócio?!

Campello – Sim, é claro. Você tocou em um assunto que é importante. Apenas 30% do torcedor vascaíno é do estado do Rio de Janeiro. Você tem, na verdade, 71% de fora do estado. E aí você tem que criar condições para isso, a gente estudou vários programas de sócio. E o Benfica, por exemplo, tem sócio até fora de Portugal. Mas para você ter sócios fora do Rio de Janeiro, ele precisa ter uma sensação de pertencimento, ele precisa saber que faz parte daquilo ali. Eu conheço grupos no Rio que são fãs do Sporting/POR, por exemplo, mas existe uma relação desse clube com esses sócios, e o Vasco não consegue manter essa relação, não tem um canal aberto. Não é só criar um programa de vantagens, um programa de benefícios, isso é importante também e estamos criando isso, programa de benefícios, de vantagens, mas especialmente um canal de comunicação. Na gestão anterior o Vasco conseguiu fazer 65 mil inscritos no programa de sócios, mas ele não teve capacidade de administrar isso. O programa de sócios atualmente, o sócio gigante, ele não consegue cobrar dos associados. Então, muitos sócios acabaram interrompendo essa relação por dificuldades no pagamento, por dificuldades de comunicação. Eu, por exemplo, todas as vezes que quis pagar, tive que ir lá. Cadastrei meu cartão de crédito três vezes e não conseguia a pagar. Aí sou obrigado a ir em São Januário fazer os pagamentos. Esse ano, por exemplo, paguei o ano inteiro para não ter problema. Mas muitas pessoas deixaram de ser sócias porque acabaram interrompendo, e aí os dias passam, ele não resolve, quando vai ver tem três/quatro meses em atraso e aí ele não consegue quitar esse montante e acaba se desligando do clube. Então, o próprio clube cria dificuldades para essa adesão. E o que a gente pretende montar é um programa, que, primeira a gente capacite pessoas, uma empresa, para que elas consigam absorver esses sócios, gerir toda essa relação, quer seja de cobrança, ou relação com o sócio através de canal de comunicação, para que essa fidelização seja eficiente.

SV – Este ano São Januário completou 90 anos e nada foi feito efetivamente. Inclusive houve uma missa campal muito mal divulgada….

Campello – Eu acho que tinha que ser dentro do estádio, aberta ao vascaíno. Porque a gente sabe que a capela de São Januário é linda, uma coisa que nos dá orgulho, mas ela é pequena. Mas mais que isso, eu acho que deveria ser feito um show, com grandes eventos. O Vasco precisa pensar grande, hoje o Vasco pensa muito pequenininho.

SV – Isso está previsto na modernização de São Januário?!

Campello – Então, a gente tem o pé muito no chão. A gente pensa grande, a gente ousa, mas a gente não quer prometer ao sócio vascaíno nenhuma ilusão, nada que não seja factível. A gente não pode imaginar que você vai entrar pegar um clube com mais de R$ 600 milhões em dívidas, com um orçamento deficitário e querer construir uma arena. Então o que a gente pretende é equilibrar o Vasco financeiramente nesses três primeiros anos, paralelamente modernizar São Januário, melhorar o que nós temos, porque São Januário sempre atendeu os vascaínos, mas ele pode ser muito mais eficiente. Então o que a gente quer nesse primeiro momento, é modernizar o que lá está. Tornar o estádio mais confortável, mais aprazível pro torcedor. Melhorar o entorno, nós perdemos várias oportunidades de melhorar o entorno, na Copa do Mundo, nas Olimpíadas, mas não é por isso que a gente deve cruzar os braços e achar que não é mais possível. Eu acho que existe uma serie de ações que podem ser feitas, desde que você busque o poder publico, desde que você tenha iniciativa, que tenha comprometimento do que quer fazer. A gente chega em São Januário, a Rua Ricardo Machado, aquela rua tem apenas duas pistas de rolamento, a calçada fica toda ocupada com carrocinha, com carros velhos, coisas acorrentadas aos postes, que impede o transito de pedestres. Nas duas faixas de rolamento da rua, uma é ocupada pelos veículos dos moradores da Barreira do Vasco, e resta uma faixa de rolamento para trafegar os veículos e para a circulação dos pedestres. Não é possível que o Vasco consiga, de maneira amistosa, melhorar esse fluxo. Abrir o estacionamento para que os moradores estacionem o carro em dias de jogo em outro lugar, que não estacionem na rua, remover as barraquinhas, criar um outro espaço para que essas pessoas possam ganhar a vida, mas abrir a calçada para os pedestres, abrir a rua para os veículos, isso já melhoraria muito o entorno. Então tem uma série de coisas que podem ser feitas, coisas simples, e que não é feita, e que nunca foi feita.

SV – E essa situação dos jogos terem passado para a o Maracanã bem perto das eleições. Tem algo a ver com o processo eleitoral?!

Campello – Pra mim não é nenhuma novidade, eu já sabia que isso ia acontecer. Na realidade isso já vem sendo preparado pela atual diretoria muito antes daquele fatídico jogo contra o Flamengo, quando no primeiro desentendimento, o primeiro problema que teve na social, o primeiro vascaíno que se manifestou de forma contrária ao Eurico na social do Vasco, que foi colocado pra fora, e que causou confusão, ele disse que era coisa da oposição, que naquele momento estava muito longe da eleição, que não era momento de começar, que era coisa política e que era culpa da oposição. Aquilo ali foi emblemático. Naquele momento, ele já sinalizou que estava criando um ambiente para culpar a oposição pelos acontecimentos. E aí, nessas brigas que acabaram ocorrendo no jogo contra o Flamengo, muito em função da utilização, como já ficou provado, de pessoas oriundas de torcidas organizadas na segurança do clube, pessoas essas que iam para o enfretamento com aqueles, quer seja da torcida que tava na arquibancada, ou na social, que se manifestasse contrario a atual gestão. E aí, vale lembrar que a torcida teve um comportamento maravilhoso, porque apoiou o time do primeiro minuto até o final, só foi falar contra a direção ou no intervalo, ou no final do jogo, durante os 90 minutos a torcida sempre incentivou a equipe. Então, acho que esse foi um cenário para isso, pro primeiro problema que acontecesse tirar os jogos de São Januário. Por que tirar os jogos de São Januário? Porque impede a verdadeira oposição de se mostrar, de conversar com o sócio, de mostrar o trabalho que está sendo feito, que é o que a Frente Vasco Livre fazia. É a única que tem essa atuação dentro de São Januario. E aí isso foi um processo construído lá atrás. Então era de se esperar que ao terminar essa suspensão, ele usasse de qualquer subterfúgio para retirar os jogos de São Januário. Isso é uma medida eleitoreira.

SV – Um dos grandes problemas dos clubes tem sido a ligação umbilical com as torcidas organizadas. Qual seria a relação, no seu mandato, com as organizadas?

Campello – Eu acho que todo clube deve apoiar os seus torcedores. As torcidas organizadas tem uma importância dentro do clube, mas acho que tem que ser encarado com muita responsabilidade e de maneira institucional. Primeiro sem favorecimento para A, B ou C. Segundo que essas torcidas têm que se enquadrar dentro de uma legalidade. A gente quer as torcidas, é bacana ver as torcidas cantando, bacana ver as organizadas movimentando as bandeiras do Vasco, agitando a arquibancada… Faz parte da nossa paixão, mas tem que ter responsabilidade. Então, dentro do nosso programa de sócios, a gente não só cria uma modalidade para atender os vascaínos de fora do Estado do Rio, mas a gente também cria uma modalidade para o sócio que é de torcida organizada. E aí sim, na medida em que eles tenham um comportamento dentro daquilo que é esperado, e que tenha uma maior relevância em relação ao número de sócios, eles serão agraciados com programa de fidelidades, programa de benefícios, de vantagens, mas que também ao participarem ou terem qualquer conduta contrária aquilo que a gente espera, eles também serão punidos nesses programas de vantagens e benefícios.

SV – No seu lançamento veio a apresentação do CT, previsto em uma área cedida pela Prefeitura anteriormente, mas que, em razão de não realização de obras, foi retomada pelo ente público. Este projeto se mantém?!

Campello – Então, de fato esses espaços foram cedidos tanto para o Vasco, quanto para o Botafogo, assim como Fluminense também recebeu uma área. O Fluminense desenvolveu seu projeto e fez seu CT, e Vasco e Botafogo não fizeram. Pela falta de ação dos clubes, esses terrenos foram retomados pela Prefeitura. A gente já buscou conhecimento dentro da Prefeitura, não é mais possível reaver esses terrenos de forma gratuita, como doação, mas é possível sim reaver esses terrenos a partir de contra partidas, e que não é um valor elevado. Então, a ideia é viabilizar esses projetos. Quando a gente fala de fluxo de caixa, em equilíbrio financeiro, dentro de nossos estudos nós fizemos uma projeção com o aumento dessas receitas, alem da receita das cotas de TV, a gente aumentando a receita com programas de sócios, com contribuições colaterais que são contribuições que o sócio escolhe para onde ele quer direcionar mais 10, mais 20 ou mais 50 reais, se ele quer destinar isso para o basquete, remo ou para o CT. Através de uma criação de uma modalidade de sócio, a venda de títulos, que é do bem feitor remido, prevista em estatuto, que já foi utilizada anteriormente para o aumento do patrimônio, a gente consegue uma arrecadação capaz de viabilizar o estádio. Dentro desse programa, você aumentando as receitas, além das cotas de TV, a gente chega a um equilíbrio financeiro em 2020. E é possível sim fazer um CT com verba própria, independente até dessa arrecadação.

SV – Por que na sua projeção de receitas a projeção do 4° trimestre é sempre maior?!

Campello – É eu cheguei a falar. Na apresentação que eu fiz, eu até suprimi isso, porque poderia dar confusão. Mas tem uma explicação, porque na contribuição que se faz ao clube, nas mensalidades, você tem o décimo terceiro.

Naquela projeção elas vem aumentando gradativamente. Porque, qual é a previsão? É de você sair de 16 mil sócios, aproximadamente é o que temos hoje, e chegar em torno de 70 mil no final de 2020. E aí obviamente a cada trimestre você vai aumentando. Então nós fizemos uma primeira projeção para 2018, e aí você conta a parte financeira por trimestre. Então, no primeiro trimestre você arrecada X, no segundo trimestre X + Y, no terceiro X + Y + Z, aí você chega no quarto trimestre com um valor. Quando você pega o primeiro trimestre de 2019, você vai ver que ele é menor que o quarto trimestre do ano anterior. E por que acontece isso? Porque no último trimestre do ano anterior teve a contribuição para o décimo terceiro, isso é o que tinha lá.

SV – Você citou o Vasco Dívida Zero. Existe alguma parceria de sua chapa com o projeto?!

Campello – Aquele é um processo independente da gestão do Vasco, né. Aquilo é uma iniciativa de um grupo e eles arrecadaram uma quantia expressiva para ajudar o Vasco a pagar dívidas.

Quando a gente fala do “Dívida Zero”, no primeiro momento do nosso programa de sócio é o resgate. Resgatar aquele sócio que por algum motivo deixou de pagar, porque não conseguiu pagar, ou porque ficou insatisfeito com a atual gestão e parou de pagar. A gente via convidar essas pessoas a voltarem, e dar uma anistia para elas voltarem a pagar. Essa é a melhor maneira de você trazê-las. O segundo seria a captação, você captar novos sócios, de que maneira? Diminuindo o que a atual gestão fez, a nosso ver, para que não houvesse um aumento na quantidade dos sócios votantes, e facilitar a reeleição da atual gestão, eles desestimularam isso com o aumento expressivo da joia, da entrada que você da na compra do seu título. Então a gente quer reduzir esse valor, e até parcelar esse valor. Então, se para entrar de sócio hoje você tem que pagar R$ 1.500,00, a gente que colocar a R$ 800,00, e a gente divide em seis vezes esses R$ 800,00. Então isso facilita isso aumenta a captação de sócios.

SV – Mas necessitaria de uma aprovação do Conselho para isso…?

Campello – Não. Não, não. Está previsto em estatuto. Você pode fazer. Você tem quem adquirir o título, é sócio proprietário. Então você tem que abrir novos títulos, mas está previsto em estatuto. Então essa seria a captação.

E o terceiro ponto, nesse primeiro semestre, onde a gente ainda não abriu pro nosso programa, que a gente ainda está preparando o clube, a infra-estrutura do clube pro lançamento do nosso programa, a gente também faz uma movimentação que é a do reconhecimento. Ou seja, reconhecer essas pessoas, que muitas vezes, não é sócia, mas contribuiu com o “Dívida Zero”. Então, pra nós, ele já pagou ali a sua cota. A gente quer facilitar pra ele vir a ser sócio, como reconhecimento. Não só esses vascaínos que participaram do “Dívida Zero”, mas também aqueles vascaínos que participaram do crowndfunding para a reforma do ginásio.

SV – Existe algum empresário, grupo empresarial ou patrocinador/investidor já alinhavado com a candidatura?

Campello – É a gente tem buscado manter um relacionamento com diversos seguimentos, com empresários. A gente tem tido uma receptividade muito boa. Obviamente que num processo em que você é um candidato ninguém quer, obviamente, assumir nada. Mas até pela respeitabilidade, pelo conhecimento que nós temos, eu tenho 33 anos de Vasco, sou médico, fui médico do Vasco esses anos todos, operava todos os jogadores, e por conta disso, tratei e trato uma centena de grandes empresários vascaínos, e a gente tem acesso a essas pessoas. Então a gente tem acesso a pessoas de supermercados, de empresas de ônibus, de indústrias… Existe uma vontade dessas pessoas em participar, mas hoje elas tem receio de associar a sua marca ao clube, e especialmente fazer qualquer tipo de negócio com a atual gestão, porque muitas vezes os acordos não são cumpridos. A gente faz muita questão de não vender ilusão, então não vou dizer que “esse” ou “aquele” vai anunciar. Essa não é a nossa proposta, a gente não tá aqui pra enganar o vascaíno.

SV – Há poucos dias parece que houve um distanciamento em relação à chapa Sempre Vasco, a qual parecia haver uma aproximação. Ainda há chance de unificação da oposição?

Campello – Até então a gente estava muito, e continuamos ainda com alguma expectativa, na unificação. Então a gente sempre teve o entendimento o seguinte, se eu pretendo unificar a oposição, eu não posso ocupar os espaços. Isso tem que ser decidido em comum acordo. Por isso nós não escolhemos o primeiro VP, o segundo VP. E até mesmo, o único nome que nós temos, e é um consenso, nas conversas com a Sempre Vasco, seria o Presidente da Assembleia, que seria o Dr. Alcides Martins. Esse é o único nome que nós temos. Os demais quer sejam cargos eletivos, ou executivos, nós deixamos isso fora de discussão, para que essa discussão fosse feita a partir da unificação. Porque não é justo você querer unificar já tendo os espaços ocupados. A gente entende que a unificação deve se dar de maneira consistente, e para que isso ocorra à gente tem sentar a mesa e decidir em conjunto as ações. Foi essa a nossa prática.

SV – E quanto ao Horta. Há chance de unificação?

Campello – A gente tem um entendimento de que o Horta é uma dissidência da situação, a gente não enxerga ele como oposição. Até porque, as pessoas que lá estão foram as que colocaram o Eurico no poder. E o modo de operar é semelhante, não é isso que a gente quer pro Vasco. O que nós queremos pro Vasco é governança, gestão, é mudar o que está lá, é modernizar o Vasco. Nesse aspecto, a gente acha que o alinhamento maior é com a Sempre Vasco. A unificação ela está nas mão da Sempre Vasco. Nós tivemos várias conversas, foram conversas maduras, colocamos a mesa, e cumprimos o que acordamos. Eles tinham uma proposta de pesquisa, a gente não concorda com essa proposta, porque entendemos que a eleição do Vasco é diferente. Tem muitos sócios que sequer respondem.

SV – Então ainda há chance de união de parte da oposição com o Júlio Brant?

Campello – Quando você vai fazer uma pesquisa, a gente tem que entender qual é o eleitor do Vasco. Pra quem não sabe, se você pegar, o Vasco hoje tem pouco mais de 7 mil sócios elegíveis (com mais de 5 anos de vida associativa), e 10.500, aproximadamente, de sócios votantes (com mais de 1 ano de vida associativa). Quando a gente pega esse público, que a gente vai fazer uma estratificação por idade, a gente vai ver que a absoluta maioria é de pessoas acima dos 56 anos. Então, o senhor que faz questão de ir lá votar, ele não atende ao telefone, não responde a pesquisa. Então quem é que é mais afeito a pesquisa? É o público mais jovem, que é o público de quem? E esse publico às vezes não vai a São Januario. Então como é que você vai fazer uma pesquisa? A gente ta cansado de ver aí pesquisa e que fura. Se dependesse da pesquisa, quem estava no governo dos Estados Unidos era a Hillary, não o Trump. Se dependesse de pesquisa, a Grã-Bretanha continuaria na União Europeia, não teria saído. E assim a gente vê um monte. O próprio Jorge Salgado, aqui no Vasco, teria sido eleito quando concorreu, e perdeu a eleição. Então vejamos a pesquisa não é um retrato fiel daquilo que acontece, e aí nós propusemos uma prévia. Ora, se eu tenho condições de botar o meu sócio lá pra votar, eu tenho condições de botar ele na prévia. E aí você faz uma previa, com o mesmo modelo, uma terça-feira, de manhã até a noite, o vascaíno que quer eleger quem é a oposição, o vascaíno vai escolher quem é o candidato de oposição. Essa é a nossa defesa. Mas ainda assim, nessa mesa de negociação, como a Sempre Vasco recusou, achou que não podia que ia causar problema. Tudo bem! Não vamos mais colocar a mesa, não vamos colocar esses dois pontos, vocês não aceitam um, a gente não aceita outra, vamos achar uma outra forma. Ao longo desse último mês ou mais, nós temos tratado isso de uma forma muito madura. E agora nós fomos surpreendidos com essa questão. Os caras liberaram uma pesquisa, que segundo pessoas dele mesmo, os números não eram exatamente o que eles falaram. E eles não apresentam a pesquisa.

SV – E quanto à declaração do Sr. Sendas em relação à união das chapas?

Campello – Uma declaração absurda, que quer nos emparedar. Não nos parece uma atitude madura, de quem quer de fato a união. Em várias conversas tentamos exercitar de que maneira seria a unificação. Eles pensam o candidato deles na cabeça, eu como primeiro vice. Ta bom! Agora façam o exercício contrário. Eles sequer fazem esse exercício. Ou seja, pra eles só serve se forem eles na cabeça. Nós queremos sim a união e estamos dispostos. O Julio foi a uma das reuniões dos beneméritos e lá declarou que aceitaria qualquer forma de avaliação, ou pesquisa, ou prévia, par ou ímpar, ele aceitava. Ele admitiu que aceitaria a prévia, quando fizemos a proposta, ele não aceitou. Então ta aí a minha convocação, a gente propõe uma prévia, se eles estão tão grandes quanto dizem, se eles tem esse apelo todo do vascaíno, que façam à prévia. O vascaíno vai votar e decidir quem ele quer como candidato de oposição. A gente vai aceitar a vontade do sócio. Se o sócio acha que é o Julio quem tem que concorrer contra o Eurico, deposita o voto. Nós vamos aceitar a vontade do vascaíno. É um compromisso meu. Mas que faça esse movimento, vamos fazer a previa, e não só ficar jogando com palavras, sabe? A gente quer uma coisa clara, vamos fazer a previa. Vai lá, votou. Ganhou lá de 500 a 20, nós vamos te apoiar, incondicionalmente. É um compromisso meu!

SV – E o que achas dessa “lista dos 1.200” que vem sendo alardeada pelo Otto de Carvalho?

Campello – Eu acho que, em um momento desses, o momento em que o Brasil tem sido passado a limpo, acho que a justiça, o Ministério Público, eles tem a obrigação de olhar para isso. Isso é parte da sociedade. A gente sabe que ingressaram mais de 600 sócios em Dezembro de 2015, a gente sabe que existe um número grande de funcionários como sócios, e de parente de funcionários como sócios. Isso não é à toa.

Houve um mandato para que se obtivesse o HD do Vasco, foi pedida uma perícia. Não sei por que razão, mas alguém sentou em cima do processo. Eu acho que a justiça tem obrigação de dar uma resposta a sociedade. O Vasco é um clube de 20 milhões, são 20 milhões de vascaínos que não querem o que está aí, e a nossa justiça tem obrigação de olhar isso, o Ministério Público tem obrigação de ir lá e dar legitimidade ao que está acontecendo, o Ministério Público tem obrigação de cuidar transparência do processo.

SV – Em relação aos demais esportes “olímpicos” que o Vasco sempre teve tradição. Algum plano específico?

Campello – Primeiro que eu faço parte dessa tradição, né. Eu tenho 30 e tantos anos de Vasco, dentro do Vasco, cansei de ir a jogos de basquete, de ir ao remo, e a gente tem defendido exatamente isso. Embora a maior notoriedade seja para o futebol, a gente sabe que o vascaíno da importância, gosta do basquete, que o remo foi à origem de tudo isso. Eu acho que isso faz parte da nossa proposta, a manutenção desses esportes, ainda que o Vasco precise bancar esses esportes. Mas a gente entende que o ideal é que esses esportes venham a ser auto-suficientes. É obvio que pro remo existe uma dificuldade muito grande de alcançar a auto-suficiência, mas eu acho que é importante você ir em busca de um patrocínio, alguma coisa que, minimamente, contribua para a manutenção do esporte, isso aliviaria o gasto. O que a gente vê no futebol é o seguinte, normalmente o futebol não gasta 40% do que arrecada. O Vasco, por exemplo, quanto arrecada o futebol? Da cota de TV 100 milhões + CEF + TIM + bilheteria… Quanto é que da isso? Uns 100 e tantos milhões. Você sabe quanto é a folha salarial do Vasco? Em 2016 eram 5,5 milhões/mês, hoje deve estar uns 6 milhões e pouco. A gente ta falando de 60 e tantos milhões, e ele arrecada muitíssimo mais do que isso. Deveria arrecadar até muito mais, talvez o Vasco gaste mais de 50% porque arrecada pouco. Mas enfim, você acaba tendo que desviar recurso do futebol para custear o estádio, pra custear as sedes, pra custear os outros esportes. Então, se você quer ter um futebol competitivo e é ele que traz dinheiro, você não deve sangrar o futebol. Então é fundamental que os outros esportes tenham projetos que os tornem autossuficientes. É importante o basquete ter uma receita própria, mas se não tiver é um compromisso da Frente Vasco Livre em bancar o basquete. Mas isso não quer dizer que a gente não vai trabalhar para torná-lo autossuficiente. Eu entendo que qualquer outro esporte, além do basquete e do remo, pra ele subexistir, ele precisa ser autossuficiente. Senão a gente vai estar sangrando o futebol, e aí você diminui o investimento do futebol, e em última analise acaba diminuindo a receita, a arrecadação do clube.

SV – O que é o Vasco na sua vida?

Campello – O Vasco? Cara é uma parte grande da minha vida. Porque toda minha vida foi ligada ao clube. O vasco influenciou minha vida em tudo. Eu casei no Vasco, a minha formação foi influenciada pelo Vasco.

SV – Qual é a sensação de trabalhar no Vasco e para o Vasco?!

Campello – Maravilhosa! É indescritível! Você viver aquilo ali, participar daquelas conquistas, do dia a dia. Vou te dizer que eu dediquei ao Vasco uma parte muito significativa da minha vida, das minhas horas, muito além do que eu era exigido. É mais ou menos como se você fosse pago para trabalhar de 8:00 as 16:00 e ficar até as 20:00 todos os dias.

SV – Qual o sentimento que sente ao entrar em São Januário lotado?!

Campello – É de arrepiar!

SV – E por que Alexandre Campello como Presidente do Vasco?!

Campello – Porque o Vasco, como eu disse, é muito importante pra mim e pra minha família, pros meus filhos. Eu vivi um período de glória enorme e eu vejo o Vasco, a cada dia, diminuindo de estatura. Isso me incomoda profundamente! E eu acho que eu posso, e que eu tenho o dever, a obrigação de fazer alguma coisa para mudar isso.

Fonte: Saudações Vascaínas
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