Como zagueiro, o carioca Alfredo Sampaio nunca chamou atenção. Suas grandes jogadas aconteceram fora dos gramados, como presidente do Sindicato dos Jogadores e técnico de clubes pequenos. Foi campeão da Taça Rio pelo Madureira, em 2006, e, no domingo, pode levar o Boavista ao inédito título da Taça GB.
O GLOBO: Trabalhar no Boavista é muito diferente dos clubes mais tradicionais? ALFREDO SAMPAIO : Aqui é mais ameno, mais caseiro, os sentimentos são mais verdadeiros. A única experiência que tive em clube grande foi no Vasco, e posso dizer que é diferente. Aqui é mais honesto, no sentido de que não há tanta coisa dita ao pé do ouvido, é mais light. É que nem em bairro em que você dá bom dia para o padeiro.
E as condições de trabalho?
ALFREDO SAMPAIO: Olha, o CT do Tigres tem toda a estrutura, concentramos em hotel cinco estrelas, o pagamento sai em dia, o bicho é dado na sexta-feira seguinte aos jogos, as vitaminas que os grandes tomam nós também temos... É claro que não dá para comparar a questão de salários, e a camisa não tem peso. Mas é bom trabalhar aqui.
Em campo, muda o que do Fluminense para o Flamengo?
ALFREDO SAMPAIO: Vai ser bem próximo do que fizemos (contra o Flu), mas temos que tomar alguns cuidados. Os dois meias, Ronaldinho e Thiago Neves, jogam muito próximos do ataque. Vem muita gente de trás em velocidade, o Léo Moura, o Renato... Temos coisas a neutralizar, mas a verdade é que o importante é o Boavista estar bem. Podemos fazer um bom jogo.
Qual a razão do sucesso do time até aqui?
ALFREDO SAMPAIO: Na semana do jogo com o Fluminense, diziam que chegar já estava bom, mas procurei bloquear esse pensamento e mostrar a realidade aos jogadores . Quando cheguei, em dezembro, fiz apresentação em powerpoint com os objetivos do trabalho: chegar a uma semifinal, depois à final, pontuar para não cair, classificar para a Série D e para a Copa do Brasil. A coisa andou por causa da seriedade de todos.
Dá para acreditar no título?
ALFREDO SAMPAIO: É claro. Será um jogo difícil, contra caras de muita qualidade, mas a gente não pode se assustar, não faria sentido. Tem que curtir esse momento de forma responsável, ser zen, sem trauma. E vai ser nessa tecla que vou bater, não quero ninguém deslumbrado nem entrando em campo com um saco de cimento nas costas.
Você fez bons trabalhos em clubes pequenos. Ainda ambiciona voltar a um grande?
ALFREDO SAMPAIO: A única chance que tive, no Vasco, não perdi por falta de competência (após desavença com Edmundo, que quebrou a hierarquia, Alfredo deixou o clube). Eu quero, mas não me estresso. Se acontecer, vou ficar amarradão. Caso contrário, sigo a vida. Eu gosto de fazer futebol, joguei, sou técnico há 20 anos e presidente do sindicato. Não fico angustiado quando venho dar treino, ao contrário do que às vezes acontecia no Vasco.