Em uma roda com cerca de 15 pessoas, Eurico Miranda, sentado numa cadeira do clube, comandava o bate-papo à espera do resultado final das urnas em São Januário. Com a certeza da vitória - "já ganhei há muito tempo", disse depois de recusar um pedido de cinegrafistas para adiantar o discurso pós-eleição pela hora adiantada da madrugada -, o encontro no centro do ginásio do Vasco servia para distribuição de charutos e rodízio de fotos com o candidato vitorioso da chapa "Volta Vasco! Volta Eurico!". Com oito votos a mais do que a soma das duas legendas concorrentes, Eurico comemorava discretamente até o grito de guerra do "casaca" ser puxado depois das 3h. Para antigos aliados, o presidente que vai assumir o Vasco a partir de 1º de dezembro, mais de seis anos após ser substituído por Dinamite, hoje é menos centralizador e tem menos resistências a opiniões divergentes.
Em quase todos os pronunciamentos desde o início da campanha, aliás, Eurico passou essa imagem. Com a fala mais mansa nos vídeos veiculados pela agência que fez sua campanha nas redes sociais e até em uma Twittcam realizada com torcedores, o atual presidente do Conselho de Beneméritos, que costumeiramente contesta a imagem que as pessoas têm dele próprio, citava a força de vascaínos tradicionais, da velha guarda de seus tempos de dirigente no clube, com a juventude, em referência aos membros do grupo político Casaca!.
Em recente entrevista ao GloboEsporte.com, para as eleições canceladas de 6 de agosto, Eurico, ao responder, sobre seu estilo de administração, disse que seu jeito era simples: defender o Vasco como objetivo principal. "Pessoalmente, não tenho nada de truculento", lembrou Eurico, que para a Folha de S. Paulo, em fevereiro, revelou vonta de desfazer uma imagem de poderoso chefão de São Januário.
- Não deixei de fumar charuto, mas fica a imagem de que você é mafioso. Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Eu sinceramente queria que essa imagem [de mafioso] fosse desmistificada - disse Eurico ao jornal paulista no início do ano.
Fernando Horta, presidente da Unidos da Tijuca, vê uma liderança de Eurico "mais madura" hoje no Vasco. Para o empresário do carnaval carioca, o dirigente encara essa nova gestão como desafio de "resgatar as vitórias" no clube. Resgate e respeito talvez tenham sido as palavras que Eurico mais repetiu ao longo dessa campanha. Com apoio de José Luis Moreira, ex-vice-presidente de futebol, o secretário executivo do Ministério dos Esportes, Luis Fernandes, entre outros, Eurico se policia para ser menos personalista nesse seu retorno.
- Eu tenho apoio, não só do Horta, mas do José Luiz Moreira, do Silvio (Godói), eu tenho apoio do grupo jovem, cheio de ideias, com vontade de trabalhar. É um grupo jovem que tem o mesmo sentimento de Vasco que eu tenho. Eu não tenho dúvida de que nós vamos tirar o Vasco dessa situação em que se encontra - afirmou Eurico.
Vice-presidente do Conselho de Beneméritos do Vasco, Silvio Godói tem a opinião de que Eurico "estava acomodado" da vida política do Vasco, que não queria mais retornar para São Januário. Horas antes da confirmação da vitória de Eurico, ele disse que os problemas da administração de Dinamite e os apelos de pessoas próximas o fizeram se candidatar novamente ao Vasco.
- Ele estava parado com a política do Vasco. A desgraça que foi a administração do Dinamite, o fracasso, fez com que ele ressurgisse, e um grupo que o cerca, do qual eu me incluo, pediu para que ele retornasse ao Vasco, para tentar que o Vasco volte a ser um clube de primeira grandeza. Ele resistiu no início. Estava com uma vida arrumadinha, ele queria ficar na dele - disse Godói, que pode suceder Eurico na presidência do Conselho de Beneméritos, em eleição marcada para o início de 2015.
- Hoje, ele está mais maduro. A vida vai mostrando para nós as dificuldades que você tem que superar. Ele fez isso. Hoje ele é um homem diferente, um homem de diálogo, uma pessoa bastante diferente, e eu tenho certeza que ele vai ter bastante sucesso.
Questionado sobre o que alguns aliados políticos disseram do "novo Eurico", o futuro presidente do Vasco minimizou a importância de uma nova postura à frente da presidência com bom humor e o reforço de seus compromissos de campanha.
- Se eles gostam mais de mim agora, ótimo. Acho isso uma beleza, melhor assim. Eu, mais maduro, menos verde, com rompante, sem rompante, só tenho uma finalidade: resgatar o Vasco.