Não foi apenas com a camisa do Santos ou da seleção brasileira que Pelé fez história. O Rei também levou sua majestade a outros clubes do país, como Flamengo, Fluminense e Vasco, que tiveram a honra de vê-lo vestindo seus uniformes, mesmo que apenas uma vez. Mas bastou um jogo para Pelé arrecadar milhões para doação, esquentar o coração de crianças e até mesmo impedir uma tragédia na África.
Boa ação com a 10 do Flamengo
Pelé usou a camisa 10 do Flamengo em em 6 de abril de 1979, no Maracanã, quando aceitou o convite para participar de um jogo amistoso contra o Atlético-MG. A renda seria revertida para as vítimas das chuvas que atingiram Minas Gerais, seu estado natal, naquele ano — a tragédia fez 246 mortos e milhares de desabrigados.
Ao todo, o estádio recebeu 139.953 torcedores, o que gerou uma renda de mais de 8 milhões de cruzeiros. Pelé tinha 38 anos e havia acabado de se aposentar do futebol. Por isso, só jogou o primeiro tempo daquela partida. O Flamengo contava com grandes jogadores, como Rondinelli, Júnior e Andrade, base da equipe que seria campeã da Libertadores em 1981.
— Meu grande sonho era jogar com o Pelé. Nunca imaginaria jogar ao lado dele. Por coincidência, acordei de madrugada e vi que tinha um cara do meu lado. Quando vi, era o negão dormindo do meu lado. Foi fantástico — recordou Uri Geller, em entrevista concedida ao site oficial do Flamengo, há uma década.
O Rei recebeu a camisa 10 de Zico, que entrou em campo com a 9. O Flamengo venceu o amistoso por 5 a 1, com gols de Marcelo (21 do primeiro tempo), Zico (35, 10 e 14 do segundo tempo), Luisinho (28) e Cláudio Adão (39).
Dez anos antes daquele jogo, o Flamengo havia tentado contratar Pelé. No entanto, o então presidente do Santos, Athiê Jorge Cury, recusou uma oferta de 2 bilhões de cruzeiros por considerá-lo "inegociável".
Com a camisa tricolor, para evitar uma tragédia
Foi com a camisa do Fluminense que Pelé evitou uma verdadeira tragédia. O episódio aconteceu no dia 26 de abril de 1978, na Nigéria.
O tricolor realizava uma excursão à Africa e disputou dois amistosos no país. No primeiro, venceu a seleção da Nigéria por 3 a 1, com o Rei no time adversário. O craque, já estrela mundial e recém-aposentado, protagonizava uma ação de marketing na região e jogou apenas 35 minutos da partida, que levou mais de 50 mil torcedores para o estádio, em Lagos, capital nigeriana.
Depois, o tricolor enfrentou o Racca Rovers, campeão nacional da época, na cidade de Kadunae, e foi aí que Pelé teve que entrar em campo com a camisa do Fluminense para evitar uma batalha campal. Ele foi convidado para dar o pontapé inicial no amistoso. Mas não foi bem essa a notícia que circulou na imprensa local.
Rádios e jornais da região divulgaram que o Rei jogaria a partida. O simples boato não apenas esgotou os 30 mil ingressos comercializados antecipadamente, mas fez com que o estádio superlotasse — segundo registros da época, cerca de 60 mil pessoas se aglomeraram nas arquibancadas para ver Pelé (e o Fluminense). Quando o presidente tricolor da época, Sylvio Vasconcellos, tentou desfazer o mal-entendido, um princípio de confusão foi criado.
Então, o chefe da polícia local entrou em contato com o Fluminense e afirmou que não teria condições de conter a revolta popular se Pelé não jogasse. Sylvio conversou com ele, que, com receio de uma tragédia, decidiu ir a campo. Atuou por 45 minutos com uma chuteira emprestada por um atleta tricolor. Não marcou gols, mas fez a alegria dos torcedores.
O Fluminense venceu o Racca Rovers por 2 a 1. No primeiro tempo, Marinho Chagas marcou o gol do tricolor. Já sem Pelé no segundo tempo, Arturzinho anotou o tento da vitória.
Torneio com o clube do coração: o Vasco
Pelé é ídolo de todos, mas seu coração pertence a um só: ao Vasco. Antes de se imortalizar com a camisa do Santos e criar com o clube paulista um vínculo vitalício, houve o amor infantil pelo cruz-maltino, que resistiu ao tempo, aos encontros e aos desencontros da carreira do maior jogador de futebol da história. A maior benfeitoria de Pelé ao cruz-maltino foi nunca ter negado sua primeira paixão.
Ela começou quando, ainda criança, na década de 1940, via o pai, Dondinho, jogar pelo Vasco de São Lourenço, cidade do interior de Minas Gerais. Pelé crescia cercado por corintianos, mas era a cruz-de-malta que mexia com ele. Dondinho trocou de time, mas o carinho pelo "Vasquinho", como Pelé chama o Vasco, ficou.
Na adolescência, vestiu a camisa do clube do coração e com ela teve o primeiro divisor de águas da carreira. Era 1957 e um combinado entre Vasco e Santos foi formado para disputar um torneio amistoso. Aos 16 anos, ele assombrou a então Capital Federal e abriu caminho para iniciar sua história na seleção brasileira.
Os jogos com a camisa do Vasco foram em junho. Em julho, ele já estava marcando seus gols com a amarelinha. O frisson em torno de Pelé fez com que o Cruz-maltino tentasse sua contratação. O clube, que então vivia grande momento, foi até a Vila Belmiro para levar o craque. O emissário? um jovem Antônio Soares Calçada, que na década de 1950 já era vice-presidente de futebol.
Depois de 1957, ele vestiria novamente o uniforme do time do coração em 1969. Após marcar seu milésimo gol na carreira justamente em cima do Vasco, Pelé virou o centro de uma festa que tomou conta do gramado do Maracanã. Um dirigente vascaíno conseguiu furar a barreira de torcedores e jornalistas para entregar ao craque uma camisa vascaína. Pelé não hesitou em vesti-la.
Campanha publicitária com a camisa do Cruzeiro
Quando Pelé completou 80 anos, em outubro de 2020, o Cruzeiro resgatou um quadro, que fica na sede administrativa do clube, de uma campanha publicitária na qual o Rei do Futebol vestiu a camisa celeste.