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Análise: 'A Colina Histórica viveu uma noite de esgotamento'

O silêncio nas arquibancadas de São Januário, que não conseguiam sequer vaiar ou protestar de forma contundente ao ver o Vasco voltar a sofrer um gol após fazer boa partida — e terminar derrotado pela sexta vez consecutiva, desta vez por 1 a 0 para o Goiás — precedeu cenas muito tristes. A Colina Histórica viveu uma noite de esgotamento, que terminou em um cenário de praça de guerra previsível, embora com uma esperança factível, até determinado momento, de que tudo pudesse não terminar daquela forma.

A vitória era vital para o clube, que de qualquer jeito já terminaria a rodada na zona de rebaixamento após os nove jogos seguidos sem vitórias. Diminuir a distância para a 16ª colocação, dar tranquilidade interna e externa para o trabalho de Maurício Barbieri e tirar a pressão dos ombros de um time que vinha se abalando ao longo de tamanha sequência péssima de resultados. Tudo isso estava em jogo.

De fato, o que se viu em São Januário antes das cenas de violência, explosões e confrontos, era uma tentativa, de todas as partes, de tentar virar a fase: a torcida compareceu, apoiou e até segurou as vaias no primeiro tempo. Não poupou o técnico Maurício Barbieri e o CEO Luiz Mello dos xingamentos, mas havia confiança de que o trabalho poderia passar por uma reviravolta, dada a casa cheia.

Nem assim o momento virou. Num segundo tempo em que ficou muito previsível, o time viu desmoronar a boa partida que fazia até o intervalo. O momento de choque e decepção, numa cena quase repetida entre várias que a torcida e o elenco vascaíno vêm vivendo ao longo das últimas semanas, veio no gol de Morelli, em chute de longe que encontrou lentamente o canto direito de Léo Jardim.

A partir dali, o clima virou. Gritos de “time sem vergonha” e “time de frouxo” tomaram as arquibancadas, que já tinham torcedores deixando o estádio na metade do segundo tempo. Até o primeiro aviso sonoro pedindo para que não fossem arremessados objetos no gramado, o movimento de revolta era pequeno. A partir dali, a coisa escalou: sinalizadores no gramado, spray de pimenta, bombas, rojões, balas de borracha e uma série de invasões dentro e fora do estádio deixaram o clima ruim da noite ainda pior.

Sem qualquer vírgula ou asterisco, a mistura de violência e futebol sempre será reprovável. Trata-se de mais um episódio triste para a história do Vasco e de um estádio tão importante para o futebol brasileiro como São Januário.

No escopo do dia a dia do futebol e da relação em seu aspecto mais saudável com a torcida, os sinais de esgotamento dos cruz-maltinos já estavam claros há algum tempo. Em campo, o esgotamento do trabalho também transparecia. Barbieri escalou as peças que tinha em melhor momento: Puma Rodríguez era dúvida pelo desgaste, mas foi para o jogo. No lugar de Capasso, entrou Miranda, mais experiente que o jovem Lyncon, cotado para a vaga. No ataque, Rayan ganhou sequência. Pouco inspirado criativamente, o Vasco usava as suas armas mais efetivas, as ultrapassagens pela ponta. Andrey chegou a abrir o placar de cabeça, mas o gol foi anulado pelo VAR — o Goiás também teve um gol cancelado. Marlon Gomes acertou a trave, e o próprio Rayan teve boas chances.

No fim, a pressão foi total e desordenada, mas o empate não veio. A sexta-feira deve marcar a formalização da saída de Barbieri após as seis derrotas seguidas, os apenas seis pontos no Brasileiro e a vice-lanterna. Um fim de ciclo que parecia a cada dia mais inevitável e algumas vezes adiado pela confiança no projeto. Mas que infelizmente fica marcado por uma noite das mais cinzentas de São Januário.

Fonte: Agência O Globo
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