O Vasco mais uma vez sofreu para passar de fase, mas avançou com o apertado 1 a 0 sobre o ABC para a terceira fase da Copa do Brasil. Se o sufoco evidenciou a enorme dificuldade que o time tem para matar jogos e novamente mostrou o quão inconstante é durante os 90 minutos, ao menos pontos positivos apareceram: Vinicius sobrou pelo lado direito, Marrony, mesmo que timidamente, cresceu na outra ponta, e Guarín, ainda muito aquém fisicamente, apresentou-se como liderança técnica em nova função. É o meia de Abel Braga, que comanda agora um time invicto há seis partidas.
Criação sob a batuta de Guarín
Quem assistiu à partida observou que Fredy Guarín está muito longe do ápice físico. Sabedor disso, Abel resolveu transformá-lo em armador. Após o primeiro toque na bola, uma tentativa de passe de letra, recuperou-se no lado esquerdo do ataque e lá ficou por um bom tempo.
Ciente de que o colombiano é o seu líder técnico, o treinador propositalmente o adiantou. Ganhou qualidade no último passe e deixou o camisa 13, reconhecidamente dono de um bom chute de longa distância, mais perto do gol.
Deu certo. Mesmo com dificuldade na movimentação, Guarín obrigou Rafael a fazer duas grandes defesas na etapa inicial, numa delas após linda matada no peito e bomba de pé direito. Ainda deu primoroso lançamento para Cano em lance de improviso.
No primeiro minuto do segundo tempo no que era, àquela altura, a melhor chance do Vasco, faltou pontaria. Exausto, saiu ovacionado aos 25 minutos do segundo tempo.
Com cinco finalizações, Guarín só foi superado neste quesito por Cano na partida (seis). Fez quatro desarmes e completou 20 dos 29 passes tentados.
- O escalamos um pouco mais pra frente, para não ter mais desgaste. Ele criou mais chances, até ele teve chances. Ele tem um negócio muito diferente. Na maneira que ele recebe a bola, já sabe o que vai fazer. Encontra qualquer companheiro no campo. É diferenciado. Vamos procurar aproximá-lo mais ainda dos atacantes - explicou Abel.
Com pontas à vontade, Vinicius faz a festa pela direita
Nos papos entre jornalistas e torcedores vascaínos após o jogo, uma certeza: Vinicius, se não foi o melhor em campo, deixou o Maracanã como um dos destaques. Sem tem dúvidas, não deixe de assistir aos melhores momentos do jogo no topo da matéria. Praticamente todas as jogadas de perigo do Vasco passaram por seus dribles, cruzamentos e passes. Marlon, o camisa 6 do ABC, vai sonhar com o arisco moleque da Colina.
Entendeu-se muito bem com Yago Pikachu, sobrou pelo lado direito, mas mostrou que não vive apenas de velocidade. No segundo tempo, sua habilidade fez o Vasco sair do sufoco com um giro típico do futsal que o fez se livrar de três rivais no campo defensivo. Além disso, deixou Guarín e Marrony na boa para perderem ótimas chances.
No lance em que entrega ao camisa 7, aos três minutos, mais uma vezes tira um trio de adversários da jogada. Nesta oportunidade, pedalando em velocidade e em direção ao gol adversário antes de tirar um passe certeiro.
Por fim, no gol da classificação, feito por Cano, Vinicius, de 19 anos, mostrou personalidade de jogador cascudo. Enquanto conduzia pela direita, Guarín o mais técnico dos vascaínos, enfiou-se no meio da defesa rival e pediu a bola. O jovem "desobedeceu" e apostou num passe cruzado para Raul, que esticou para Marrony servir o argentino.
Após o jogo, Abel não escondeu a satisfação por ter visto seus pontas mais à vontade. É bem verdade que Marrony não se destacou, porém deu assistência, puxou bons contra-ataques e, de fato, participou melhor do que nos últimos jogos.
Oscilação e insistência pelo lado direito
Os inícios dos dois tempos deram impressão de que o Vasco dominaria. Abafou o ABC, marcou pressão e atacou bastante. Mostrou, porém, pouca variação de jogo, insistindo pelo lado direito. Pikachu e Vinicius eram sempre as opções mais interessantes, enquanto Henrique e Marrony não conseguiam fazer o mesmo no outro extremo.
A medida em que não aproveitava as chances criadas, o Vasco se desligava e mostrava o quanto alterna bons e maus momentos. É capaz de pressionar um adversário em poucos minutos, mas também de repentinamente parar de criar e não encontrar espaços para furar bloqueios.
No segundo tempo, por exemplo, começou atacando com volúpia, mas não aproveitou com Guarín e Marrony, no primeiro e no terceiro minuto respectivamente. Aos cinco, quase sofreu gol em erro de Andrey, que atrapalhou Castan na lateral egsquerda. Sorte é que Paulo Sérgio, um dos goleadores do Brasil em 2020, perdeu a chance mais cristalina do jogo.
Com a vantagem no marcador, obtida com Cano, voltou a dominar o jogo, mas não aproveitou. No final, por erros individuais, quase entregou o empate de mão beijada.
Falta de efetividade e aproveitamento ofensivo muito ruim
Na coletiva, Abel Braga admitiu deficiências, mas destacou que o Vasco sofre poucos gols (sete em 2020) e defende uma invencibilidade de seis jogos. É preciso, porém, repetir: o desempenho ofensivo da equipe na temporada é sofrível. São apenas oito gols em 11 partidas (média de 0,72 por confronto).
Desperdiçar as oportunidades criadas quase custaram caro ao Vasco contra Oriente Petrolero e Altos-PI, duelos em que os rivais se aproximaram de levar as disputas das respectivas vagas para os pênaltis.
Contra o ABC, não foi diferente. Ora por pontaria ruim, ora por tomada de decisões erradas. Nas imagens abaixo, na pressa de resolver a parada, Cano e Andrey vacilam ao tentar chutes com adversários marcando em cima.
Foram 18 finalizações e apenas um gol contra o ABC. Na temporada, dos oito gols marcados, cinco foram de Cano, dois de Werley e um de Andrey. É muito pouco.
A madrugada de sexta vascaína foi de comemoração e alívio por manter o time na competição que melhor paga ao campeão em território nacional. A sexta e os próximos dias, porém, merecem dedicação especial ao ataque.