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Análise do atual Vasco da Gama: Um castelo de areia não suporta o tsunami

O título vem de uma música chamada “Hat-Trick”, de Djonga, cantor de rap nacionalmente conhecido. Antes do verso que inspirou este post, há outro com as seguintes palavras: ‘Perca para um grande adversário, não para a sua incompetência’. O Vasco, nesta final de Campeonato Carioca, acabou perdendo para os dois. Mas foi a incompetência do Cruz-Maltino que pautou o título rubro-negro.

O técnico Alberto Valentim ficou para 2019. Fez a pré-temporada, ganhou reforços em que participou das escolhas e teve tempo para trabalhar. Mesmo pressionado pela campanha pífia (33% de aproveitamento) em 2018, a diretoria resolveu bancar a permanência do comandante que reintegrou um lateral-esquerdo afastado e o tornou o camisa 10 do time acreditando que ele era o homem mais adequado para organizar um clube que já teve nomes como Roberto Dinamite, Geovani, Juninho Pernambucano, Felipe e tantos outros nesta função.

O Vasco começou, estatisticamente, bem o ano de 2019. Campeão da Taça Guanabara invicto. Para quem olhava placares, acreditava-se em um time forte de Alberto Valentim. Para quem assistia aos jogos com um olhar minimamente crítico, principalmente quem já viu o Cruz-Maltino em outras temporadas, sabia que ali estava sendo construído um castelo de areia. Resultados contra times fracos, vitórias escoradas em bolas paradas e no goleiro Fernando Miguel, o melhor jogador do time. Números que mascaravam um trabalho mal feito em campo e fora dele. E o tempo se encarregou de mostrar.

Problemas políticos e financeiros minavam o Vasco. A equipe que não ficou nem sequer 10 dias sem salários ou pendências atrasadas em 2019. O presidente Alexandre Campello se blindava fora de campo e tentava resolver a todo custo as questões relacionadas ao dinheiro. O problema é que ele, sempre respeitado pelo grupo, acumulava o cargo de Vice-presidente de futebol (lacuna deixada por brigas políticas) e deixou a “pasta” a cargo do diretor de futebol Alexandre Faria.

Mesmo ciente de tudo o que acontecia, a ausência de Campello custou uma das poucas coisas boas que ainda sustentavam o Vasco: o clima. Começou pela renovação de Maxi López, melhor explicada nesta matéria. Depois, a clara desconfiança do grupo no então homem forte do futebol, Faria, já que Campello se mostrava ausente. Os salários atrasados começavam a pesar e se fora de campo as coisas começavam a desandar, dentro dele também.

Alberto Valentim, além de não contar com o respaldo da torcida, começava a se atrapalhar também com o grupo. Barrou Maxi López para colocar Tiago Reis, que correspondeu fazendo quatro gols seguidamente, mas com duas partidas ruins, virou quarta opção. Sim, quarta opção, incoerência mostrada na final deste domingo, quando o comandante optou por Marrony na posição e depois colocou Maxi e Ribamar, mesmo com Tiago no banco.

O comandante também barrou Yago Pikachu, artilheiro do time em 2018, Thiago Galhardo e Raul sem ao menos conversar com os atletas. Andrey, um dos pilares do Vasco na temporada passada, joia da base, colocado na geladeira. Tirava e colocava jogadores na relação (lista dos jogos) sem diálogo com os atletas. O clima só piorava na relação de boa parte do elenco com Valentim, e veio a reunião de atletas com o diretor de futebol Alexandre Faria, sem a presença do técnico, antes de jogos decisivos com Flamengo pelo Carioca e Santos pela Copa do Brasil.

O resultado, em resumo, foi o afastamento de Thiago Galhardo, um dos melhores amigos de Maxi no elenco, por curtida no Instagram de Fernando, o Zé Colmeia, proveniente do incômodo externa do diretor de futebol, Alexandre Faria, com a “Turma do Quiosque”, responsável por trazer Maxi López, Leandro Castan e Bruno César. Todos os três nomes não eram do agrado de Faria, mas pela, até então, boa relação da “Turma do Quiosque” com Campello, eles chegaram.

A maré subia. As finais e o jogo contra o Santos aconteceram. Na primeira partida contra o Flamengo, apatia e um desempenho pífio. 2 a 0 com um baile do rival. Depois, o enfrentamento com o time da Vila Belmiro, mais um 2 a 0 e a tranquilidade do time adversário de construir espantava. Fora a grande decisão do departamento de futebol de confiar em um goleiro que já havia se mostrado inseguro e sem condições de substituir o titular, machucado.

Hat-trick: 2 a 0 para o Rubro-Negro no segundo jogo, um Vasco que até jogou melhor, mas o resultado foi o grito de campeão do maior rival. A coincidência além dos placares iguais? O time de Valentim nem sequer chegou perto de repetir as escalações ou mostrar alguma coerência no trabalho. Claro que as lesões afetaram, mas o motivo principal foram as escolhas.

O tsunami no Vasco vem em três ondas: a política do clube, que nunca parece dar um trégua na ressaca, a gestão de futebol, que foi deixada na mão de um profissional que não tem a confiança do grupo, pelo presidente que acumula um cargo de extrema importância em qualquer clube, e o trabalho do técnico, que se limitava a bolas paradas, um sistema minimamente organizado na defesa (que desmoronou contra os principais times) e na incapacidade de gerir o elenco. Não há castelo de areia que aguente.

O Campeonato Brasileiro começa em sete dias. A Copa do Brasil está batendo à porta. O torcedor vascaíno agoniza por não aguenta mais cair da prancha e muito menos ficar escondido atrás de castelos frágeis. Os pedreiros não são dos piores. Eles podem construir algo melhor. Que os engenheiros, depois de mais uma destruição sintomática, estejam atentos ao mar…

Fonte: Blog do Pedrosa
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