Como disse Fernando Diniz no pós-jogo, o Vasco deixou o Estádio dos Aflitos com sabor amargo pelo empate por 2 a 2 com o Náutico. De fato esperava-se mais de um time que tinha 2 a 0 de vantagem aos 18 minutos de partida, mas a verdade é que os vascaínos saíram no lucro em função de todo o sufoco sofrido desde o princípio.
O pontinho conquistado no Recife veio pelos pés de Nenê, figura fundamental nos gols vascaínos. Uma pena que levou o terceiro amarelo - por reclamação - e tornou-se desfalque de peso para o duelo com o CSA, marcado para a próxima sexta-feira, em São Januário.
A verdade é que apesar da vantagem significativa conquistada rapidamente, o Vasco não mandou no jogo em momento algum nos Aflitos. Sofreu muito para sair jogando diante da marcação alta do Náutico. Desde Lucão aos volantes, a insegurança era muito grande para deixar a própria área. Antes de abrir o placar, Nenê notou isso e se aproximou do goleiro algumas vezes para iniciar a saída de bola.
Repare no mapa de calor publicado pelo site Footstats o quanto o Vasco ficou acuado dentro de sua área durante a maior parte do jogo.
Nenê quebra o abafa do Náutico com talento
O Vasco iniciou o duelo nos Aflitos com muita dificuldade. Com marcação impressionante do Náutico dentro da área vascaína, os cariocas não conseguiam sair e estavam acuados. Até a genialidade de Nenê dar o ar da graça.
Se o Vasco estava espremido em seu campo e parecia tentar entregar o ouro com uma saída de bola pra lá de arriscada - um lance em que Bruno Gomes deu passe de calcanhar e depois tentou passar a bola por cima de um atacante rival com muito risco serve de exemplo -, o Náutico nem tentava. Entregava mesmo.
Rafael Ribeiro errou domínio fácil ao receber de Yago, e Nenê apareceu como uma flecha para bater de primeira. Gol de visão. Gol de quem antevê os movimentos dos adversários. Gol de quem sabe.
Dez minutos depois, o Náutico continuava tomando iniciativa do jogo, mas seguia errando na saída de bola. E Nenê estava impossível. O goleiro Anderson saiu mal, Pec tocou de ombro, e o camisa 77 deu um passe de calcanhar que desmontou a defesa alvirrubra. Marquinhos Gabriel avançou e deixou Cano livre para marcar.
Apesar do toque primoroso de Nenê, bom destacar que a estratégia do Fernando Diniz de povoar um dos lados de ataque - neste caso o esquerdo - mais uma vez deu certo. Gol que teve passe de craque, mas participação coletiva fundamental.
Para não dizer que o grande protagonista do primeiro tempo teve atuação perfeita, é preciso destacar que Nenê errou passe e entregou nos pés de Hereda, que driblou Cano e cruzou para Vinícius marcar de cabeça. Quem também vacilou foi Zeca, que cochilou na marcação.
Segundo tempo muito ruim e mais um gol na bola aérea
O Vasco voltou do intervalo com postura ainda mais passiva do que a apresentada nos minutos iniciais do confronto. Lucão e os defensores continuavam com muita dificuldade para sair, e o Náutico, liderado por Jean Carlos, passou a agredir muito mais. O chuveirinho promovido pelo camisa 10 não tardou a dar resultado, e Yago conseguiu o empate em outra cabeçada. Foi o 28º gol sofrido na bola aérea pelo time de São Januário na atual temporada.
Zeca mais uma vez ficou olhando um adversário subir para marcar. O camisa 37 até esboçou um movimento com o braço direito para bloquear o zagueiro alvirrubro, mas ficou plantado no chão.
Enrolado na saída de bola e sem desafogo com Morato, que fez uma de suas partidas mais discretas pelo Vasco, Diniz optou por sacar o camisa 10. Colocou Andrey, que faz bem a transição da defesa para o ataque, mas isso não deu resultado.
Também não funcionou a troca de jogadores do mesmo setor. Gabriel Pec foi substituído por Léo Jabá, que errou praticamente tudo que tentou. Além de falhar em lances simples, Jabá recorreu ao lugar comum de receber na ponta, cortar para fora e cruzar. Não deu em nada.
A verdade é que o Vasco recuou excessivamente no segundo tempo para segurar a vitória. O próprio Diniz admitiu que a equipe não deveria "ter ido para trás". E a ida para trás ficou marcada pela insistência de sair jogando com passe curto dentro da própria área, o que trouxe muita intranquilidade para o time. O treinador afirmou que a bola longa poderia ter sido uma alternativa.
- Tem alguns aspectos que interferem. Aqui o Náutico faz uma pressão alta muito incisiva. Treinamos bastante para sair dessa pressão. No jogo a gente estava com certa dificuldade de encaixar os movimentos e dar a velocidade adequada na bola. No segundo tempo, a gente optou praticamente por sair com a bola mais longa na maioria das jogadas no segundo tempo, talvez a gente tivesse que ter feito um pouco mais no primeiro tempo. Treinamos para sair jogando, mas não somos obrigados a sair jogando.
- O Náutico também tem característica de tentar propor o jogo embora usem um jogo mais direto, e acabamos nos aproveitando de duas bolas que roubamos no campo do Náutico. Não devíamos ter ido para trás como a gente foi. A intenção não foi deixar de pressionar o Náutico, a gente pressionou também.
O Náutico foi melhor, finalizou mais do que o dobro de vezes em relação ao Vasco (19 a 9) e esteve mais perto da vitória. Dito isso, com os cariocas ainda vivos na luta pelo acesso e tendo freado um potencial adversário na busca por vagas no G-4, o empate pode até ter sido amargo pelo início promissor, porém esse pontinho pode ter outro sabor mais à frente. Dos males o menor e bola pra frente em São Januário.
- Eu acho que é um sabor amargo porque a gente saiu vencendo por 2 a 0 e tomamos gols na jogada que mais tínhamos treinado para evitar, que era a jogada de bola aérea, tanto com bola parada quanto com bola em movimento. Obviamente que a equipe não fez das melhores atuações, já não foi um primeiro tempo dos melhores embora a gente tenha aberto placar. No segundo, estivemos mais abaixo ainda do que foi no primeiro tempo. Em termos de performance, não performamos bem - admitiu o treinador.