O Vasco até teve um momento de instabilidade diante do Náutico, mas o gol aos 32 minutos do primeiro tempo encorajou o time de Jorginho a construir a goleada por 4 a 1 na noite da última sexta-feira, em São Januário, pela 30ª rodada da Série B. Resultado que mantém a equipe no G-4 e, mais importante, dá confiança para a sequência decisiva que vem por aí.
Para deixar tudo melhor, o Londrina, que estava a apenas um ponto do Vasco, empatou com o Tombense, e a vantagem dos cariocas aumentou para três pontos. Em duas rodadas, as equipes vão se enfrentar no Rio de Janeiro.
Na coletiva após o jogo, Jorginho frisou mais de uma vez o desejo de fazer um trabalho consistente no Vasco e participar do projeto de 2023. É possível? Isso vai depender de como o time vai conquistar o acesso caso o objetivo se concretize ao fim da Série B. Mas a princípio podemos dizer que a vitória da última noite teve dedo do treinador, que já conseguiu mexer com os ânimos dos jogadores nas primeiras duas semanas de trabalho.
Insatisfeito principalmente com a postura ofensiva do Vasco diante do Grêmio, quando o treinador estreou com derrota em Porto Alegre, Jorginho promoveu uma mudança firme na equipe ao barrar Alex Teixeira, principal contratação do clube para a temporada. O atacante não vinha de bons jogos, e a escolha do técnico de manter Nenê e Raniel exigia a saída do camisa 7 e a entrada de alguém com mais fôlego pelo lado esquerdo. A aposta foi em Eguinaldo.
Também mexeu em duas posições que vinham recebendo críticas da torcida vascaína. O zagueiro Quintero e o lateral-esquerdo Edimar estavam com a confiança em baixa e perderam suas posições para Danilo Boza e Paulo Victor.
E foi no lado esquerdo que o treinador conseguiu vencer o jogo, com três gols por ali. A intensidade de PV e Egg, apelido dado pela torcida ao atacante, deu trabalho para a defesa do Náutico e foi naquele setor que o Vasco começou incomodando o adversário com um chute colocado de Andrey Santos.
- Tivemos uma semana muito boa, primeira coisa que fiz foi chamar Quintero, Edimar e Alex pra conversar e pedir a compreensão, todos foram sensacionais. Respeitaram muito a decisão. A gente queria dar mais intensidade principalmente pelo lado esquerdo. A vida é feita de oportunidades, eu não desisto de nenhum jogador, mas precisava agir para termos uma postura mais ofensiva - avaliou o técnico na coletiva após a partida.
O time de Jorginho impôs a postura ofensiva que o técnico pediu nos primeiros 10 minutos, com três boas chegadas logo de cara, mas perdeu as rédeas e viu o Náutico responder em seguida. Foi nesse momento que o Vasco apresentou maior instabilidade na partida. O adversário, com a clara estratégia de forçar a bola parada, chegou a ter seis escanteios em um curto período de tempo.
Mas a noite era mesmo do ataque vascaíno. E aqui cabe mais uma referência aos primeiros dias de trabalho de Jorginho. Raniel, que vem oscilando na Série B, ganhou a confiança do treinador e é um jogador, que por mais que a torcida pegue no pé, deverá ser mantido pelo comandante, que gosta de jogar com um homem fixo de referência.
O camisa 9 teve um gol anulado, em lance que parecia até estar na mesma linha que o adversário, e puxou a goleada ao marcar de pênalti o primeiro gol do Vasco. Depois se movimentou bem, deu referência para a garotada, fez o pivô e participou da jogada do terceiro gol, marcado por Andrey após Eguinaldo furar a finalização.
Com três garotos de apenas 18 anos do meio pra frente, as presenças de Nenê e Raniel no time se tornam necessárias. A qualidade de Andrey, Marlon Gomes e Eguinaldo é indispensável. O garoto Egg bailou no segundo gol do Vasco, limpando dois marcadores e colocando a bola quase que com as mãos no canto esquerdo de Jean. "Não tinha como alcançar", resumiu o atacante após o jogo.
Com a vitória consolidada, Jorginho deu chance aos barrados, colocando Quintero, Edimar e Alex Teixeira em campo. O técnico quer ganhar o grupo. Também lançou Pec e Figueiredo, figuras importantes no melhor momento do Vasco nesta Série B.
Quando Eguinaldo foi deslocado para o centro do ataque, foi Figueiredo quem assumiu a ponta esquerda para marcar outro golaço no jogo - um tiro de perna direita no ângulo. A ousadia dos Meninos da Colina precisa ser encorajada. O time não pode desperdiçar os talentos, afinal é a força da base que sobressai na temporada.
- Precisamos dar coragem para esses jogadores. Se tiver que driblar, dribla lá na frente e seja seguro na parte defensiva. Mas que na frente sejam ousados - resumiu Jorginho.
Enquanto isso, os experientes ajudam a equilibrar. Foi Nenê quem chamou a responsabilidade ao entregar a bola para Raniel cobrar o pênalti e pedir para a torcida apoiar o camisa 9. Depois o meia-atacante, já sentado no banco de reservas no segundo tempo, levantou e foi em direção à arquibancada pedir para que o torcedor parasse de vaiar Edimar, que havia acabado de entrar na partida. Aos 41 anos, o camisa 10 pode até não entregar tanta intensidade, mas é decisivo e líder - peça necessária ao Vasco na caminhada pelo acesso.
- Ele é um ídolo. Um dos melhores jogadores que tive oportunidade de treinar. Agradeço a ele e à torcida pelo apoio. Foi fundamental para ajudar o Edimar a se levantar - completou o técnico.
O ataque teve ótima noite em São Januário, mas a defesa teve espaço para críticas do treinador. PV levou, pelo menos, duas bolas nas costas e uma delas terminou em gol do Náutico quando o Vasco vencia por 3 a 0. Sem motivos para crise, mas o garoto, que fez boa dobradinha com Eguinaldo no ataque, levou puxão de orelha de Jorginho. Há indícios de que o técnico vai se dividir entre ele e Edimar na reta final da temporada, a depender do que os adversários exigirem.
Em uma noite fria, com recorde de baixa temperatura no Rio de Janeiro em 2022, o caldeirão de São Januário ferveu para não deixar o Vasco perder o fio da meada. Com discurso firme e alterações que vieram a calhar, Jorginho agora tem o desafio de fazer o time voltar a jogar bem fora de casa. É questão de sobrevivência para ele e para o Vasco.
Em sua terceira passagem pelo clube, Jorginho foi o técnico que mais tempo permaneceu no Vasco na última década: 16 meses entre 2015 e 2016. Em 2018, voltou e ficou apenas dois meses. Agora terá mais oito jogos para convencer a 777 de que é o nome ideal para o projeto de longo prazo que se desenha para 2023. O próximo será contra o Cruzeiro, às 21h de quarta-feira, no Mineirão.