Tão virtuoso quanto ter boas ideias é saber identificar quando elas não dão mais certo. Se no começo de trabalho Marcelo Cabo obteve resultados com boas atuações, o atual momento do Vasco escancara a necessidade de mudar o esquema tático e a forma de jogar. Ou pelo menos fazer adaptações.
A derrota para o Avaí, quarta-feira, em São Januário, novamente com futebol pobre, foi a segunda consecutiva em dois jogos em casa na Série B. Com o 4-2-3-1 e a sua variação ao 4-3-3 esgotado, a equipe passou a ser inoperante ofensivamente e ficou exposta defensivamente. Destoa pela falta de intensidade e pelo excesso de erros coletivos e individuais na marcação.
Não à toa ocupa a 14ª posição, com quatro pontos, e preocupantes 33% de aproveitamento (uma vitória, um empate e duas derrotas) - verdade que recentemente avançou às oitavas da Copa do Brasil. No sábado, novamente no Rio, recebe o CRB, um jogo que ganhou contorno de tensão dada a necessidade de subir na tabela.
Apenas trocar peças não resolve
Cabo, no início do trabalho, definiu time e forma de jogar. Teve o mérito de fazer os atletas entenderem e rapidamente executarem um futebol com marcação adiantada, intensa movimentação e aproximação e construção ofensiva na base da troca de passes - triangulações e/ou inversões de jogo.
Desde a final da Taça Rio, porém, a realidade é outra. O time parou de evoluir e até regrediu, afinal, o que havia consolidado não existe mais. Na quarta, o técnico não dirigiu o time à beira do campo pois estava suspenso. Mudou novamente a escalação, afinal, a vitória sobre o Brasil, em Pelotas, não escondeu os problemas. Como manteve a forma de atuar, não deu certo. Só trocar peças não resolve.
Com Michel e Juninho como titulares (Romulo foi preservado e Galarza voltou ao banco), o meio continuou com três jogadores. Marquinhos Gabriel, mais uma vez, ficou sobrecarregado e isolado na articulação. Tanto que, muitas vezes, calhava de os zagueiros (Ricardo Graça e Miranda) terem de avançar e tentar organizar a saída de bola. No segundo tempo, o centroavante Daniel Amorim foi quem fracassou na tentativa de fazer algo que não lhe cabia.
A verdade é que, como Gabriel Pec e Léo Jabá quase nunca recompõe defensivamente, o Vasco fica com inferioridade numérica no setor. Além disso, a marcação do adversário se torna fácil pela postura dos jogadores. Mais uma vez, a falta de intensidade saltou aos olhos. O Vasco trocou passes laterais quando tinha a bola e sem ela olhou o rival jogar.
Erros individuais e coletivos em excesso
O Vasco nunca controlou o jogo, apesar dos 62% de posse de bola - a maior parte no campo defensivo. O Avaí, então lanterna, controlou as ações e, além dos dois gols, acertou uma bola na trave e obrigou Vanderlei a fazer duas grandes defesas. A chance mais clara do time carioca ocorreu quase ao final do jogo, após tabela entre Marquinhos Gabriel e Riquelme.
Fabio Cortez, o auxiliar que substituiu Cabo, fez trocas parecidas com as que os técnico normalmente faz. Para melhorar o ataque, apostou em Daniel Amorim. O centroavante sofreu do mesmo mal de Cano: não foi abastecido. Sarrafiore poderia ser uma alternativa para ter uma figura a mais no meio, alguém capaz de tentar dialogar com Marquinhos Gabriel. Ele, porém, não entrou. Até MT poderia ser testado, o que também não ocorreu. O fato é que um meio com mais uma peça, com uma recomposição melhor e/ou um posicionamento mais organizado é urgente.
Para completar a trágica noite, o Vasco voltou a repetir erros na marcação. No primeiro gol, o erro de marcação foi coletivo. O Avaí trocou passes de cabeça na área sem ser incomodado. No segundo, Léo Matos, ao tentar afastar, serviu o adversário para marcar. É preciso ter mais atenção para efitar equívocos infantis.