O 1 a 1 entre Flamengo e Vasco no Mané Garrincha teve na dupla face do time de Dorival Júnior seu ponto de equilíbrio. O esquema retraído e tímido do primeiro tempo, que favoreceu o domínio rubro-negro, deu lugar a uma formação mais arejada após o intervalo - e justamente no momento em que o treinador sacou Juninho, o jogador que costuma ditar o ritmo de sua equipe. Seguiu em campo, no entanto, uma peça emergente e cada vez mais importante: Pedro Ken. Com Willie e André, o time cresceu e até poderia ter virado. No fim, em um jogo de baixo nível técnico e muitos erros, foram exatamente as falhas individuais de Cris e João Paulo que selaram o destino das duas equipes.
O posicionamento no primeiro tempo deixou o Vasco em situação complicada. O Flamengo se colocou mais à frente, com até cinco homens na marcação no campo de ataque, o que permitiu que retardasse a saída de bola do rival (veja exemplos no vídeo ao lado). Do outro lado, quando não tinha a bola, o Vasco voltava até a linha do meio-campo, com Marlone e Jhon Cley na ajuda aos laterais, e Juninho e Edmílson no primeiro combate. Na saída vascaína, com o Reizinho mais avançado, ficavam poucas opções para esticar o contra-ataque quando ele recebia a bola. Assim, o time emperrou.
No segundo tempo, com Willie e André nos lugares de Edmílson e Juninho, Dorival mudou o esquema tático e adiantou seu time, que passou a ter um atacante de velocidade ao lado de uma referência na área adversária. A presença no campo de ataque aumentou, e o Vasco encurralou o adversário. Jhon Cley, que teve um primeiro tempo apagado, cresceu na etapa final e formou boa dupla com Marlone. Este último começou a jogada que originou o gol vascaíno.
O Rubro-Negro tinha muitas dificuldades de criar lances de perigo por causa dos muitos erros de passe (foram 36 em todo o jogo, mesmo número do Vasco). As bolas esticadas, em ligação direta, passaram a ser a vávulva de escape, embora sem muito sucesso. Com a conhecida capacidade de Juninho nas bolas paradas, o time da Colina tentava surpreender nas cobranças de falta, mas o camisa 8 não estava em um dia inspirado.
Jayme de Almeida tentou igualar as forças no meio-campo com as entradas de Luiz Antonio e Gabriel nos lugares dos já desgastados Carlos Eduardo e André Santos, sem resultado. O Flamengo só voltou a ter sua presença notada no clássico quando, inexplicavelmente, Dorival sacou Jhon Cley para a entrada de Wendel, recuando novamente seu time, que era melhor no jogo. As ações se equilibraram, e o empate permaneceu.
Duelo dos meninos
Dorival Júnior vem aproveitando jovens promessas vascaínas e encontrou uma boa forma de explorar o potencial de Jhon Cley e Malone no segundo tempo. Mais solta, a dupla se aproximou de Willie e Andre e criou boas situações. John Cley errou apenas um passe no jogo, e os dois contabilizaram, juntos, quatro roubadas de bola. No Flamengo, ao contrário, continua a saga em busca de um lugar para nomes como Gabriel e Rafinha no time. O primeiro ficou apenas 19 minutos em campo e pouco participou. Teve, ao menos, a chance de finalizar uma vez ao gol, em situação melhor do que Rafinha, que entrou já nos minutos finais e quase não foi notado.
Falhas individuais decidem o jogo
A partida sofreu com o baixo nível técnico e os muitos erros. Decisões erradas por parte dos jogadores, falhas de posicionamento e muitos erros de passe prejudicaram a fluência do clássico. Nada mais emblemático do que o jogo ter sido decidido em dois erros individuais. No gol do Flamengo, Cris perde o tempo de bola ao tentar o corte, Paulinho recebe e encontra Hernane livre na área. Jomar bobeou outras duas vezes, uma em cada tempo. Na primeira, quando ainda estava 0 a 0, permitiu que Hernane quase fizesse o gol. Na etapa final, foi ele próprio que por pouco não marca contra.
No gol vascaíno, é o lateral-esquerdo João Paulo quem não consegue afastar o perigo, e Willie aproveita para empatar. Outras falhas poderiam ter gerado gols para o Vasco. No segundo tempo foram duas saídas de bola equivocadas do Flamengo, ambas pelo lado direito, uma com Paulinho, outra com Léo Moura, que geraram roubadas de bola por parte do rival (veja os lances no vídeo). Pequenos detalhes que poderiam ter mudado o rumo da partida.
Os patinhos feios
Pedro Ken foi, por meses, perseguido pela torcida. Vaiado, teve a barração pedida em diversas oportunidades. Dorival Júnior persistiu com o volante no time, até que encontrou a posição ideal para utilizá-lo. Mais recuado, o jogador vem ganhando destaque no Vasco, como um dos responsáveis diretos pelos momentos de mais equilíbrio do time. O jogador não errou um dos 23 passes que tentou, roubou três bolas e ainda apareceu na frente para finalizar uma vez. Do outro lado também há uma insistência do técnico Jayme de Almeida. Amaral chegou de mansinho, sob desconfiança dos torcedores, mas vem se estabelecendo no time titular. Com um futebol mais baseado na força (às vezes em exagero: foram cinco faltas no clássico, com uma roubada de bola e um desarme), o jogador é o cão de guarda do treinador rubro-negro.
números
Paulo Victor
Em um quesito que o titular Felipe não costuma ir bem, o reserva rubro-negro se destacou no clássico: foram quatro saídas de gol certas.
vilões
Cris e João Paulo ficaram marcados pelas falhas, mas ainda lideraram seus times em desarmes: seis do vascaíno, e quatro do rubro-negro.
Fillipe Soutto
Pedro Ken merece elogios, mas o outro volante do Vasco também foi bem na saída de bola. Foram 35 passes certos e apenas três errados no jogo.
Análises rápidas
* Os laterais tiveram participação muito apagada na partida. Léo Moura até começou bem, mas caiu muito no segundo tempo. João Paulo foi pouco efetivo no apoio e ainda falhou no gol do Vasco. O vascaíno Yotún voltou a mostrar problemas no setor defensivo, e Fagner afunilou demais pelo meio, facilitando a marcação.
* Se Juninho não foi bem nas bolas paradas, Chicão mostrou que ainda pode ajudar o Flamengo no quesito. Cobrou falta com muito perigo no segundo tempo.
* Um bom exemplo do baixo nível técnico da partida foi o pequeno número de chances claras de gol. Os goleiros trabalharam pouco. Paulo Victor e Diogo Silva fizeram apenas uma defesa normal cada na partida, e nenhuma intervenção considerada difícil.