Neste início de temporada, é até possível concentrar a análise de um clássico apenas no enredo dos 90 minutos. E, sob este ponto de vista, o empate por 1 a 1 de São Januário pode ter um sabor amargo para o Botafogo, que perdeu bons contragolpes antes de sofrer o gol, a cinco minutos do fim, de um Vasco com pouquíssima capacidade criativa àquela altura.
Por outro lado, longe de ter uma grande atuação ofensiva, os vascaínos haviam criado duas boas chances na primeira etapa, ainda antes de o Alvinegro abrir o placar. O empate não chega a ser uma brutal injustiça.
Mas o momento dos dois clubes indica que há outro tipo de análise mais importante: a perspectiva de futuro. Vasco e Botafogo precisam sair do Estadual, com ou sem troféu, com um time montado para a Série B. Ambos promovem mudanças profundas. Para que se tenha ideia, apenas 70 dias se passaram desde o último encontro entre os rivais. Juntos, Vasco e Botafogo só repetiram cinco titulares daquele clássico: dois no time anfitrião, três no visitante.
O jogo de qualidade técnica baixa disputado neste domingo indica que não há fartura de recursos, mas mostrou um Botafogo ligeiramente mais evoluído em sua estrutura de time. Talvez porque Marcelo Chamusca tente aplicar uma ideia de mais fácil absorção, apostando numa marcação forte e ataques em velocidade. Neste domingo, em especial a partir da segunda metade do primeiro tempo, o técnico fez Rickson passar a marcar pelo lado direito, formando duas linhas de quatro homens e evitando que Marcinho se desgastasse correndo para acompanhar MT.
O Botafogo permitiu muito pouca criação ao Vasco, mas também custava muito para agredir. Construiu a jogada do gol contra de Zeca após boa infiltração de Frizzo, meio-campista que participa desde o início da construção, marca como segundo volante e tenta se aproximar da área.
Por outro lado, Marcinho ainda parece bem longe da melhor forma, e o escape do time foi Warley. No segundo tempo, ele e Ênio conseguiram ligar bons contragolpes, mas houve erros técnicos demais. Felipe Ferreira, que ganhou alguns minutos, deixou bons sinais. No fim do jogo, o Alvinegro, que se defendia bem, perdeu um volante e se viu obrigado a usar Marcelo Benevenuto à frente da zaga. Sofreu mais para combater, mas o erro mais clamoroso foi de posicionamento na bola parada, o que custou o empate vascaíno.
A ideia de jogo de Marcelo Cabo no Vasco é distinta. Busca um pouco mais de valorização da posse e, quando possível, tenta pressionar mais à frente. Ocorre que também tem muitas dificuldades criativas. Diante de um meio-campo mais forte do Botafogo, Marquinhos Gabriel não conseguiu jogar e cresceu quando foi buscar a bola pelos lados.
A boa notícia pode ter sido a participação de MT como meia no segundo tempo, fosse partindo do lado do campo, fosse como um meia-esquerda. Só que até na notícia boa há razões para ponderar: ele é mais um jogador jovem demais para carregar o peso de subir o nível do time. O ataque, aliás, expõe claramente a questão. Entre titulares e substitutos usados por Cabo, o Vasco botou cinco atacantes em campo no clássico: todos têm entre 18 e 21 anos.
Outra vez, o meio-campo com Andrey, Bruno Gomes e Marquinhos Gabriel mostrou dificuldade para competir. E pior: o problema crônico de marcação à frente da área persiste. O gol do Botafogo e o início da segunda etapa expuseram claramente a dificuldade. E, como observou Marcelo Cabo, o time foi se espaçando e cedendo espaços ao Botafogo conforme tentava pressionar na frente.
O Vasco ainda espera por Cano e por contratações. O Botafogo tem reforços lesionados e outros que sequer estrearam. Os dois rivais têm muito trabalho pela frente.