Análise: Vasco encontrou protagonistas para um final feliz

Técnico demitido na Série A, veterano abrindo mão do brilho da elite, e jovens não se intimidando: clube tem 11 jogos para uma virada histórica.

Antes tarde do que nunca. O novo Vasco surge já na reta final da temporada, em setembro, e a partir de muitos protagonistas. De um técnico demitido na Série A e que pode se reerguer com um gigante na Segundona. De um veterano que escolhe voltar para casa, abdica do brilho da elite e assume uma briga que não era sua: a do acesso. De dois jovens que não se intimidam com a volta da torcida no Colina e participam dos gols no sobre um concorrente direto.

Enquanto Riquelme deu assistência para o primeiro gol da noite e se emocionou ao fim do jogo, recordando do falecido avô vítima da Covid-19 há três meses, Gabriel Pec balançou a rede após receber passe do ídolo. O triunfo diante do Goiás de Marcelo Cabo, ex-treinador vascaíno, confirma a competitividade de uma equipe cuja folha salarial é a maior da Série B, mas que ainda (pasmem!) não conseguiu firmar presença uma rodada sequer no G4.

A maré, contudo, parece ter mudado. O Cruz-Maltino vinha de uma vitória maiúscula sobre o Brusque, fora de casa. Obviamente não pelo 1 a 0, mas por ter atuado com um a jogador menos durante todo o segundo tempo. Se por um lado coube a Nenê comandar o Cruz-Maltino em Santa Catarina com uma atuação exuberante do goleiro Vanderlei, por outro o experiente meia teve a companhia de muitos protagonistas na noite de segunda, em São Januário, com torcida.

Fora os já citados, menção honrosa para Morato, que abriu o placar após cruzamento do menino com nome de craque argentino. O atacante já havia se destacado no empate amargo com o Cruzeiro. Impressiona como Fernando Diniz logra êxito na recuperação de jogadores em baixa com outros técnicos. Morato não teve a sequência que tanto almejava sob os comandos de Cabo e Lisca. Mas com o novo comandante a história é outra.

A desconfiança, aliás, em relação à metodologia implementada por Diniz vem sendo superada a cada rodada. Seu estilo ofensivo e sem rifar a bola segue ditando o ritmo. O fato novo é que o time está sabendo sofrer quando necessário ao recuar para defender a vantagem construída. Prova disso foram os três arremates no segundo tempo se comparadas às 12 finalizações do primeiro. Os goianos, por sua vez, chutaram 14 vezes somente nos últimos 45 minutos.

Ao apito final e o 2 a 0 no placar, a emoção deu lugar à festa entre equipe e torcida. A habitual troca de camisas com os adversários deu lugar à reverência ao público, na arquibancada e social. Os jogadores vascaínos arremessaram suas camisas para os torcedores naquela que pode ser a retomada de uma relação há anos machucada e de desconfiança. Mas que pode fazer a diferença nesta reta final de competição.

Neste contexto, os seis pontos alcançados depois dos quatro perdidos por conta de gols sofridos nos acréscimos dos jogos contra CRB e Cruzeiro mantêm os cariocas com chances, a quatro pontos do grupo que garante o acesso, ainda que com uma partida a mais do que o quarto colocado. Das 11 rodadas restantes, sete vitórias são inegociáveis, se somados três empates. Assim, o Vasco chegaria a 64, número tido como mágico para assegurar uma das vagas.

Em meio ao “Vamos todos cantar de coração”, mantra de Fernando Diniz, cujo trecho dá o pontapé do tradicional hino do clube, a torcida já se acostumou a cantar na arquibancada que “O Vasco é o time da virada e do amor”. Com o surgimentos de protagonistas em um roteiro imprevisível, os últimos capítulos da Série B-2021 estão a espera para serem escritos, vividos e eternizados na história do clube.