Já passava das 18h30 dessa segunda-feira quando me deram um recado: Telefone para você, é alguém com sotaque. Como na sexta tinha feito entrevista com um pernambucano, foi a única coisa que me veio à cabeça.
- Señor Zarko? perguntou uma voz com aquela língua que costumamos chamar de portunhol.
Do outro lado da linha, direto de Rosario, na Argentina, era Andrada, goleiro argentino que fez história no Vasco e ficou famoso por levar o milésimo gol do Pelé.
No domingo havia feito contato por e-mail com o Rosário Central, clube que o revelou e pelo qual hoje ele é coordenador das divisões de base. No início da segunda, quando recebi um retorno do departamento de prensa de que el sr. Edgardo Andrada tiene mis dados y se comprometió a se comunicar conmigo pensei que isso jamais fosse acontecer.
E foi assim, no susto, que tive uns 15 minutos de conversa com o arqueiro do Rei, aquele que meu pai sempre disse ter sido o melhor camisa 1 da história do Vasco.
No papo, tentei saber um pouco dele sobre a final de 1974 em que o Vasco venceu o Cruzeiro por 2 a 1, no dia 1 de agosto de 1974 há 35 anos e dois dias. Foi o primeiro título brasileiro de um clube do Rio de Janeiro.
- Maravilloso, maravilloso repetiu o goleiro que jogou entre 1969 e 1975 no Gigante da Colina, sendo também campeão carioca com o clube, depois de 12 anos Ganhar com um time no Brasil, com a quantidade de equipes muito boas, foi maravilloso. Eu considerava o Vasco minha segunda casa.
Aos 70 anos, Andrada não se recorda ou não soube precisar muito bem de lances ou momentos marcantes daquela final, como quando perguntei sobre os dois gols anulados apesar da conveniente lembrança dos mineiros do gol de Zé Carlos no fim, Jorginho Carvoeiro faria 2 a 0 no 1 tempo se não fosse marcado um impedimento absurdo depois de um lançamento primoroso de Zanata.
Precoce despedida do herói
Andrada lembrou com carinho do ponta Jorginho Carvoeiro, o herói daquele título, que recebeu passe de Alcir, dividiu a bola com o goleiro Vitor e completou para as redes para explodir o Maracanã. Carvoeiro faleceu em 1977, de leucemia.
- Era muito bom garoto, uma pessoa sensacional. Era humilde e jogava muito bem pela parte direita. Foi uma pena.
O ex-goleiro é casado com uma argentina e tem três filhos que não se interessaram por jogar futebol (o próprio Andrada começou tarde, aos 19 anos). Num tom de provocação e surpreendente intimidade, ele me disse que era mais brasileiro do que eu. Foi então que explicou ser naturalizado e ter virado um brasileiro por opção, por ter sido muito bem tratado por aqui depois do Vasco ele ainda jogou um ano no Vitória-BA.
Quando perguntei se ele mantinha contato com algum jogador daquela época, Andrada se mostrou bem informado ao citar que Dinamite agora era dirigente e que o clube estava na Segunda Divisão.
Alcir
Aquele time de 1974 não era brilhante, não era extremamente técnico como o Cruzeiro. Porém, venceu com méritos e principalmente porque era a cara de Alcir Portela, um jogador que dedicou mais de 40 anos da vida ao Vasco.
E foi justamente o capitão Alcir que Andrada quis saber como estava.
- Pelo amor de Deus? Como é que ninguém me avisou disso?
reagiu desolado o ex-goleiro, depois que tive que dar a triste notícia da morte por câncer de Alcir Portela em agosto de 2008.
Lá em cima, ele se juntou a Jorginho Carvoeiro e Moisés (que faleceu uma semana antes de Alcir). A essa hora eles se recordam daquela tarde heróica no Maracanã, daquele título inesquecível.