Com cara de mera formalidade, ficou para esta terça-feira o anúncio oficial do ponto final da curta passagem de Paulo Autuori pelo Vasco. Após tomar a dianteira na luta de jogadores e funcionários por salários em dia, após ter feito da regularização dos pagamentos sua única exigência ao acertar seu contrato com o clube, Autuori se sentiu fragilizado após sucessivos fracassos da diretoria de cumprir sua parte. Diante de um cenário nada promissor e ao ver terminar o prazo oferecido pelo clube para quitar as dívidas, o treinador decidiu sair, segundo informou na segunda-feira Renato Maurício Prado em seu blog no GLOBO. No fim da noite, ainda haveria uma última conversa, embora a decisão estivesse tomada.
Na última sexta-feira, Paulo Autuori aguardou o fim do prazo dado pela diretoria para quitação dos atrasados. O clube ainda não pagou os salários de maio. No entanto, quando o assunto são direitos de imagem, há casos de atrasos de até 12 meses, como o do meia Carlos Alberto e o do atacante Éder Luís. Naquele dia, ao esgotar o prazo, Autuori comunicou por e-mail que estava decidido a sair. Mesmo assim, viajou com o grupo para Caxias do Sul, onde comandou o Vasco na derrota para o Internacional por 5 a 3. Na volta, embora afirmasse que deixaria para a diretoria fazer o anúncio oficial, deixava claro que não mudaria de ideia. Mesmo assim, a pedido do Vasco, decidiu comparecer a um encontro ontem à noite com o presidente Roberto Dinamite, o diretor técnico Ricardo Gomes e o diretor geral Cristiano Kohler. Nesta terça, o clube deverá confirmar a saída do treinador.
Sou realista, pragmático em relação a algumas coisas. Hoje, não estou confortável, então a situação é muito difícil para continuar disse Autuori ontem, no desembarque do time no Rio de Janeiro. Se eu dissesse que, hoje, estou acreditando como estive em outros momentos, seria mentira. Esperam que eu empurre as coisas com a barriga. Não vou fazer isso.
Quando aceitou dirigir o Vasco, em março, Autuori disse que não faria exigências de contratações de impacto, não imporia nomes para treinar o clube, mesmo com as deficiências do elenco. Queria, apenas, a regularização dos pagamentos a jogadores e funcionários. Foi quando o clube começou a acenar com prazos, o último deles para sexta-feira passada. Além disso, encontrou o clube com dificuldades estruturais.
Houve uma frustração enorme para todo mundo, era o prazo dado pelo clube para a regularização disse Autuori, referindo-se ao momento de sua decisão de sair, na última sexta-feira. Todos no clube sabem que sempre tomei decisões pela responsabilidade que tenho como técnico. E não seria diferente agora. Há momentos em que as coisas só se resolvem com o choque. O Vasco vive uma situação muito grave, precisa ser confrontado com a realidade.
interesse do São Paulo
Autuori sabia que os jogadores acompanhavam atentamente sua luta junto à diretoria pelo pagamento de salários e, mais do que isso, observavam qual seria a sua postura caso o Vasco não pagasse. Entendeu que ficaria frágil diante do grupo caso recuasse e aceitasse uma nova promessa. Além disso, diante da situação no clube, teve a certeza de que, mesmo se um pagamento fosse feito nesta semana, nada indicaria que a diretoria teria fôlego para manter os salários em dia pelos próximos meses.
De imediato, o nome de Paulo Autuori é ligado ao São Paulo, que demitiu Ney Franco na última semana e busca um substituto. O técnico disse a pessoas próximas não ter conversado com dirigentes do cube paulista até agora, o que só faria após ter sua situação oficialmente resolvida com o Vasco.
Na chegada Rio, ontem, ele não fechou as portas para uma possível volta ao São Paulo, onde foi campeão da Libertadores e do Mundial da Fifa em 2005.
Nos últimos anos, o São Paulo me procurou diversas vezes. E eu ficaria imensamente feliz de poder dizer não, pois isso indicaria que eu estou confortável no clube em que trabalho hoje. Mas não estou confortável. Uma vez resolvida a minha situação com o Vasco, estarei aberto a qualquer possibilidade afirmou Autuori.