Aposentadoria é um assunto que não ronda a cabeça de Fabiano Eller. Prestes a completar 35 anos, o zagueiro multicampeão fala com a mesma empolgação e bom humor que o caracterizaram em clubes como Flamengo, Vasco, Fluminense, Inter e Atlético de Madri (assista ao lado a gols pelos clubes). A diferença é que, agora, o talento e a simpatia de Eller escaparam um pouco do foco dos holofotes. Depois de passar pelo São José de Porto Alegre, ele tenta retomar a carreira no Brasil de Pelotas, time com a maior torcida no interior do Rio Grande do Sul.
E parece que o apoio dos fanáticos xavantes é capaz de manter a chama acesa no campeão mundial de clubes 2006 - quando o Inter bateu o temido Barcelona de Puyol, Xavi, Iniesta e Ronaldinho. O xerife da equipe do Sul do estado sonha alto e reafirma o desejo de disputar novamente a primeira divisão do Campeonato Brasileiro. Em entrevista, Eller assume ser um \"andarilho do futebol\", ressalta sua liderança dentro e fora de campo e cogita até vestir terno e gravata para se tornar parlamentar em 2014.
Em Pelotas, cidade a 250km de Porto Alegre, o zagueiro mantém uma rotina diária de treinos no Estádio Bento Freitas, erguido em 1943, e se esforça para seguir em boas condições físicas, sem graves lesões, o que não acontece há mais de 35 partidas. A disputa da Copa Federação Gaúcha de Futebol, também chamada de Hélio Dourado, considerada uma competição pequena, não desanima o jogador.
A Baixada - apelido da casa do clube - está sempre lotada, o que ajuda os atletas a buscarem o título da \"Copinha\", principal ambição xavante na temporada. No último clássico contra o arquirrival Pelotas, em setembro, o resultado não poderia ter sido melhor: 1 a 0 e festa dos quase 10 mil rubro-negros que entupiram o Bento Freitas. No próximo sábado, o Brasil entra em campo contra o Cruzeiro-RS para a segunda partida das oitavas de final da competição. Na primeira, em Porto Alegre, o time do técnico Rogério Zimmermann venceu por 1 a 0.
- Joguei o Gauchão deste ano pelo São José. Em seguida, assinei contrato com o Brasil de Pelotas. Até agora foram mais de 35 partidas na temporada e apenas uma lesão muscular leve. Fui ficando velho e me afastando desses problemas - brinca.
E, como andarilho do futebol, Eller preferiu não comprar casa em Pelotas. Ainda mora em um hotel no Centro do município gaúcho. Sabe que, da noite para o dia, pode mudar de endereço para um desafio maior. Mesmo assim, virou referência na cidade. É tratado como ídolo nas ruas e recebe o carinho dos torcedores apaixonados.
- Estou morando em um hotel bem próximo ao clube. Quando ando na rua, o reconhecimento da torcida é muito grande. Tanto do público em geral quanto dentro do clube, né? As pessoas me respeitam bastante por tudo que já passei. Eu me considero um andarilho do futebol - diz o zagueiro, recordando suas passagens pelo Atlético de Madri, Al-Ahli e Al-Wakrah (Qatar), Trabzonspor (Turquia), Inter, Flamengo, Vasco, Santos, Palmeiras, Fluminense e São José-RS.
O número de taças erguidas na carreira espanta até mesmo o próprio Eller e causa inveja aos iniciantes: até agora foram dois Brasileiros (Vasco), três Libertadores (Vasco e Inter), três Taças Guanabara (Vasco, Flamengo e Fluminense), Taças Rio e Campeonato Carioca (Flamengo e Fluminense), um Torneio Rio-São Paulo (Vasco), uma Copa Mercosul (Vasco) e ainda o mais importante deles: o Mundial de Clubes pelo Inter, em 2006, mesmo ano em que faturou a Libertadores.
Na vitória de 1 a 0 sobre o Barcelona, o então zagueiro colorado foi eleito um dos melhores em campo (assista no vídeo acima ao vídeo em que Eller se despede do clube, onde ganhou outra Libertadores, em 2010, já na reserva).
- Foram muitas alegrias. Hoje, sou um cara mais experiente, consigo transmitir confiança aos meus colegas. E fico feliz por estar aqui, ainda atuando em alto nível. O estádio está sempre lotado, a torcida é apaixonada pelo clube, todo mundo pede para eu ficar no ano que vem, mas o meu interesse mesmo é procurar um time de primeira divisão, disputar algum regional e talvez o Brasileiro de 2013 - afirma.
Eller admite que nunca foi um jogador veloz, embora eleja sua técnica e seu posicionamento em campo como o principal fator para não pensar em parar. Características de um volante, posição em que começou a carreira até se destacar como zagueiro no Flamengo, em 2004.
- A pegada aqui é muito forte. A dificuldade é muito maior do que disputar a primeira divisão porque os clubes são muito parelhos. Tenho que me superar no dia a dia para poder seguir jogando bem. Acho que minha qualidade técnica e meu posicionamento em campo favorecem o nosso time.
O zagueiro xavante prefere não revelar se houve alguma sondagem de clubes interessados em contratar sua experiência. Porém, Eller deixa escapar durante a entrevista que existe uma espécie de lobby dentro do São José-RS para que ele retorne e dispute novamente o Campeonato Gaúcho na próxima temporada.
- Minha passagem pelo São José foi muito boa. Sempre me dediquei ao máximo. Acredito que minha postura nesse ano tenha sido exemplar, tanto dentro como fora de campo. O Novelletto (Francisco, presidente do clube e da Federação Gaúcha de Futebol) andou conversando comigo, mas não há nada concreto.
Ademais, a incerteza de Eller acerca de seu futuro parece não contar com o apoio dos dirigentes do Brasil de Pelotas. No vestiário e nos corredores do Xavante, o zagueiro vem sofrendo com a pressão para tentar a vida política e repetir o sucesso de ex-jogadores como Romário e Danrlei, que também enveredaram para os gabinetes.
- Tem um diretor aqui dentro que sempre me fala isso. Ele diz que toda torcida xavante votaria em mim e eu me elegeria facilmente. Talvez em 2014 eu já esteja muito velho para o futebol. É de se pensar, né?
Títulos- Clubes
2 Brasileiros - Vasco
3 Libertadores- Vasco e Inter (2)
2 Cariocas- Flamengo e Fluminense
Rio-São Paulo - Vasco
Copa Mercosul- Vasco
Mundial de Clubes - Inter