Heroi e vilão. Ídolo e carrasco. Poucos jogadores representaram tão bem a camisa do Vasco durante a carreira. Ninguém marcou tantos gols pelo Cruzmaltino e foi alçado ao posto de presidente com tamanha expectativa. Só que, a partir deste domingo, também será exclusividade do dirigente Roberto Dinamite carrega a marca de ter sido rebaixado duas vezes no comando da equipe de São Januário.
A goleada por 5 a 1 para o Atlético-PR encerrou o ano para o clube liderado por Dinamite. Em São Januário, a torcida protestava contra o presidente, apontado como principal vilão da campanha ruim e da queda no Brasileiro. Com direito a ofensas, o mandatário foi visto como peça determinante para o fracasso do Cruzmaltino.
Presidente em metade da campanha da primeira queda, em 2008, Dinamite viu a torcida partilhar a responsabilidade do descenso com Eurico Miranda, mandatário até junho daquele ano. Neste domingo, com o segundo rebaixamento, o ex-atacante fica definitivamente marcado por uma temporada com erros de planejamento, abandono do próprio grupo político e abalo na imagem de ídolo dos gramados.
A análise de pessoas que trabalharam ao lado de Dinamite nos últimos anos é de que a centralização de decisões causou a debandada de antigos aliados e resultou em erros. O vice-presidente de futebol José Hamilton Mandarino, que deixou o clube em 2012, diz que a decisão do mandatário de acumular a função de vice de futebol até outubro foi um dos erros da gestão.
"O presidente ter assumido a condução do futebol, em um momento que ele não conseguia dar conta do clube, foi um dos passos tortos. Não iria produzir resultados para o futebol. O ídolo é aquele que jogou muitos anos atrás, não muda. Todo vascaíno tem o maior orgulho. Mas como administrador ele foi muito mal, tem ido mal. Infelizmente".
As duas quedas guardam semelhanças nos problemas fora de campo: dificuldades financeiras e construção de elencos com qualidade discutível. O atraso salarial se repetiu na atual temporada como ocorrera há cinco anos. Jogadores e integrantes da comissão técnica ficaram quase três meses sem receber durante o atual torneio nacional, enquanto a diretoria tentava oficializar a assinatura do contrato de patrocínio com a Caixa.
As tentativas de reforçar o time também se mostraram falhas nos dois piores períodos do clube. O zagueiro Cris, em 2013, foi o espelho de Leandro Amaral, Edmundo e Pedrinho. Reforços contratados pelo currículo expressivo, mas que pouco ajudaram para evitar o primeiro rebaixamento. Apostas em nomes como Michel Alves e Robinho também foram muito questionadas pela torcida.
Entre as duas quedas, o Vasco ainda conquistou um título da Copa do Brasil - que encerrou jejum de oito anos - e Dinamite conseguiu uma reeleição tranquila em 2011. O título da série B em 2009 e o troféu nacional no ano seguinte pareciam indicar uma retomada do clube carioca. A realidade se mostrou outra e a decepção se repetiu.
Roberto Dinamite dividiu o tempo na presidência do Vasco com o mandato de deputado estadual na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro), cargo que ocupa desde 2003. Na atuação política, também tem desempenho pouco expressivo. Foram 23 ausências no ano e cinco projetos de lei apresentados no mesmo período. Um deles para alterar o nome da estação São Cristóvão do metrô para São Cristóvão/Vasco da Gama.
Alguns episódios no departamento de futebol vascaíno, aprovados por Dinamite, quase beiraram o amadorismo. No início de 2012, Franck Assunção foi apresentado como diretor executivo. Citou passagens por equipes italianas, que desmentiram o vínculo com o suposto dirigente. Viajou para a Europa para fazer 'contatos" e nunca mais apareceu em São Januário. A contratação de René Simões para o cargo também gerou criticas.
"Foram 14 meses de receitas bloqueadas. Não é fácil para ninguém montar um bom time com mais de um ano de bloqueio. É lógico que foram mais erros do que acertos da direção geral. Tudo isso vem de uma só vez. Quando tem uma montagem demorada e um time limitado é quase como trocar pneu com o carro andando", explicou o diretor de futebol Ricardo Gomes em entrevista publicada antes do rebaixamento ao UOL.