Um mês após a briga entre corintianos e vascaínos nas arquibancadas do Estádio Mané Garrincha, em Brasília, apenas quatro envolvidos foram identificados pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF). A investigação segue em curso e até esta quarta-feira nenhum processo foi aberto na Justiça contra esses torcedores.
"Já foram identificados quatro torcedores e as investigações continuam em andamento. Assim que tivermos novidades sobre o caso, entraremos em contato", informou comunicado enviado pela assessoria de imprensa da PCDF ao GLOBOESPORTE.COM.
Tudo indica que os quatro torcedores identificados pela polícia são os mesmos apontados em reportagens publicadas pela imprensa na semana posterior à briga. Dois dias após a confusão no estádio, os jornais "O Estado de S. Paulo" e "Lance!" publicaram fotos identificando os torcedores Leandro Silva de Oliveira e Raimundo César Faustino. Na sequência, os mesmos jornais apontaram ainda Cleuter Barreto Barros e Fábio Neves Domingos. Entre os torcedores reconhecidos, três estavam no grupo de 12 corintianos presos durante cinco meses e meio na Bolívia por causa da morte de Kevin Espada, de 14 anos: Leandro, Cleuter e Fábio. Já Raimundo César Faustino é vereador pela cidade de Francisco Morato, município da Grande São Paulo.
De acordo com a Secretaria Extraordinária da Copa no DF (Secopa-DF), responsável pelo estádio Mané Garrincha, as imagens das câmeras de segurança do estádio foram entregues à polícia poucos dias após a briga. A arena conta com cerca de 400 câmeras com tecnologia que permite a visualização detalhada do público nas arquibancadas, corredores e área externa.
Ainda no mês de agosto, o delegado responsável pelo caso, Marco Antônio de Almeida, afirmou que os torcedores identificados estavam indiciados pelo artigo 41-B do Estatuto do Torcedor, que prevê a exclusão dos estádios por até três anos para quem "promover tumulto, praticar ou incitar a violência, ou invadir local restrito aos competidores em eventos esportivos". Os termos circunstanciados referentes às infrações seriam encaminhados à Justiça para a abertura de processo. Também segundo o delegado, as imagens continuariam sendo analisadas para a identificação do máximo possível de torcedores envolvidos na briga.
O GLOBOESPORTE.COM tentou novo contato com o delegado Marco Antônio de Almeida, que não retornou as ligações. Até esta quarta-feira, nenhum procedimento referente ao caso havia sido protocolado no Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT).
"Demora um pouco"
Para o promotor Bruno Vergini de Freitas, do Ministério Público do DF (MPDFT), a demora para a punição dos torcedores envolvidos na briga é normal. Segundo Vergini, um dos motivos da lentidão é a morosidade da Justiça brasileira.
- Demora um pouco. Esse é o tempo normal, de 30 a 40 dias. Infelizmente, funciona assim. Temos que aguardar. A delegacia faz o termo circunstanciado, autua os envolvidos e envia para o Judiciário. Depois é encaminhado para o Ministério Público e só então designada uma audiência. Por isso demora, é um processo moroso. Neste caso, ainda tem o agravante de muitos envolvidos não morarem em Brasília. Terá que ser enviada uma carta precatória para realizar a audiência em São Paulo - explicou o promotor.
Apesar da lentidão no processo, Vergini confia na punição dos envolvidos.
- Tenho certeza absoluta de que serão punidos. Pode registrar isso. Agora, não posso dizer quando. Foge da nossa esfera de controle pessoal. Mas não haverá impunidade. Criminalmente, eles serão punidos de acordo com a lei, com banimento temporário dos estádios previsto no Estatuto do Torcedor, por exemplo - concluiu.
Clubes e organizadas são punidos rapidamente
A demora para identificar e julgar individualmente os torcedores envolvidos na briga contrasta com a agilidade com que as instituições foram punidas. Três dias após a confusão, o Governo do Distrito Federal (GDF) publicou uma portaria proibindo uma das torcidas organizadas do Corinthians, apontada como provocadora da confusão, de acessar estádios na capital federal por dois anos. Uma das uniformizadas do São Paulo, também indicada como causadora de outra briga no Mané Garrincha, recebeu a mesma punição.
Já o Corinthians e o Vasco passaram por dois julgamentos no Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) em menos de um mês. No primeiro, o tribunal determinou que cada clube teria que jogar quatro partidas como mandante de portões fechados. Após a apresentação de recursos por parte dos clubes, tribunal decidiu em um segundo julgamento liberar a presença de torcedores nos quatro jogos da punição. No entanto, as partidas terão que ser disputadas longe de casa.