Técnico campeão do mundo, bicampeão da Libertadores e campeão Brasileiro, Paulo Autuori trouxe ao Vasco um currículo de peso raro no cenário nacional. Embora os últimos trabalhos no Brasil, por Cruzeiro e Grêmio, passassem longe dos melhores do treinador consagrado, a relação Autuori e Vasco parecia mais fortalecida ainda pelas origens vascaínas do treinador, que era torcedor de infância do clube de São Januário. Em pouco mais de três meses, a cada oportunidade, o técnico lembrava o orgulho em trabalhar na reconstrução do Vasco, mas mostrava preocupação com a realidade que distanciava o clube de sua gloriosa história. Em campo, na breve união dos dois, Vasco e Autuori trilharam um caminho tortuoso. Em 11 jogos, foram quatro vitórias, dois empates e cinco derrotas. O aproveitamento de 42% é inferior ao do treinador que ele substituiu. Gaúcho treinou o Vasco apenas no Carioca, onde chegou às finais da Taça Guanabara, com 12 jogos e 52% de aproveitamento - seis vitórias, um empate e cinco derrotas.
Na estreia, o Vasco de Autuori empatou com o Olaria: 0 a 0 que já deixava a situação do time na Taça Rio ainda mais difícil. A derrota por 3 a 0 para o Botafogo só manteve as - remotas - esperanças matemáticas, mas o discurso já era voltado para o Brasileiro. Depois vieram as duas primeiras vitórias e, na despedida do Estadual, a melancólica derrota para o Madureira - 2 a 1.
A primeira pausa teve um breve período em Pinheiral, no interior do Rio, local onde o time já se preparara na pré-temporada, ainda com René Simões como diretor, Gaúcho de técnico e Ricardo Gomes de diretor técnico. Na estreia do Brasileiro uma vitória magra e no sufoco contra a Portuguesa: 1 a 0, gol de Tenorio. Na primeira fora de casa, uma goleada acachapante: 5 a 1 para o São Paulo, em partida que virou 0 a 0 no intervalo. O diagnóstico era o mesmo desde os primeiros dias de São Januário: Autuori lembrava que encontrara um time que se abatia com facilidade a cada gol sofrido.
- Precisamos trabalhar a força mental da equipe - repetia o treinador do Vasco.
Com a paralisação da Copa das Confederações e a perda de São Januário para a Fifa - o estádio vascaíno recebeu metade das seleções que disputou a Copa das Confederações, mas desabrigou treinamentos e até dois jogos no Brasileiro -, o Vasco voltou ao Cefan, mesmo local onde Autuori treinava o Botafogo há 20 anos, como lembrou o técnico em entrevista no clube. Num dos treinamentos, a presença de centenas de crianças num dos campos do quartel da Marinha provocou o cancelamento das atividades. Na mesma semana, o salário que não teria sido pago para poucos atletas - o que foi prontamente combatido pela direção, que alegou problema de portabilidade de bancos na conta desses jogadores - também provocou a inatividade do elenco no período de preparação do Brasileiro. O tempo tão necessário para ajustes numa equipe em formação e que sofria com o desgaste de salários atrasados já estava prejudicado por outro obstáculo: um amistoso contra o América-MG não foi realizado devido aos protestos da população mineira em Uberlândia.
No último mês, apesar de defender sempre a diretoria em entrevistas - citando, inclusive, os \"pequenos sinais de mudanças\" que enxergava -, o treinador já avisava aos jogadores que deixaria São Januário caso o prazo estabelecido pela diretoria não fosse cumprido. A última viagem para Pinheiral já tinha sido descartada e a chance de realizar amistosos já não existia. Na sexta-feira, dia 5 de julho, o dinheiro para o pagamento não veio. A espera pelas certidões e desbloqueios de verbas, além da entrada de novos patrocinadores, tinha sido em vão, na avaliação do técnico, que chegara há pouco mais de três meses em São Januário como a esperança de novos tempos na Colina Histórica. Sem dinheiro, o Vasco acorda com a dura realidade de ficar também sem técnico para o restante da temporada, que se torna a cada dia mais complicada.