A menos de dois anos da Olimpíada, o Atletismo no Rio, a cidade sede dos Jogos, não tem para onde correr. Falta a estrutura ideal disponibilizada em espaço público para atletas de ponta treinarem. Com a escassez de pistas, o sonho dos talentos que buscam índices para a competição foram enterrados.
Desde que o estádio Célio de Barros foi demolido para virar estacionamento na Copa do Mundo, soluções paliativas se apresentaram. O Centro de Desporto da Aeronáutica (CDA), em Deodoro, é a principal delas. No entanto, a área militar não possui um campo disponível para saltos, arremessos e lançamentos, que são feitos em um matagal.
— Estou sentindo falta da estrutura! Pois 2016 está chegando e não temos nada pronto! Não adianta fazer as coisas em cima, levamos tempo pra nos adaptar. As estruturas do Rio não são as melhores E com todo sacrifício estamos tentando nos preparar para as Olimpíadas! O Heptatlo está mas complicado pois não temos lugar para arremesso e nem lançamento — explicou Tamara.
A pista alternativa do Engenhão também foi oferecida, mas mas os atletas ficaram em segundo plano por causa dos treinos do futebol do Botafogo. A técnica do Vasco, Solange Chagas, chegou a usar a Quinta da Boa Vista, região central, como era o Célio de Barros. Lá formou atletas como Uhuru Figueira, 23 anos, que se viu bastante prejudicada.
— Foi muito complicado esse ano, a gente quase não treinou na pista. No final da temporada que começaram a deixar a gente treinar no Engenhão, estava proibido, só podiam cinco atletas, era limitado, não tinha como selecionar. Teve prejuízo pra fazer resultado, ficamos treinando na Quinta, que aumenta o risco de lesão, por causa do impacto. Essa temporada a gente praticamente perdeu pela falta da pista. Não tem como fazer resultado sem local para treinar. CDA é longe, não tem como ser todo dia. No Engenhão tem que sair no meio do treinamento por causa do futebol. É tudo imprevisto.— conta Uhuru.
A Confederação Brasileira de Atletismo tentou contornar a situação e oferece transporte e alimentação para os atletas selecionados pelos clubes treinarem na área militar. O coordenador técnico Alexandre Coelho admite as dificuldades em atender todos, mas lembra que os mais talentosos terão espaço.
— Para atleta olímpico, sim. Pode dizer que é longe, a gente oferece van, dá um jeito — explicou Coelho, que atende 40 atletas de ponta e cerca de 100 oriundos de clubes.
Segundo o coordenador, as condições no Rio não são ideais, apesar da boa vontade da Aeronáutica. Ele enumerou as opções da cidade e se mostrou preocupado.
— Aqui no CDA é uma pista de atletismo, não um estádio. No estádio pode fazer as provas de campo, como salto, arremessos e lançamentos. Lançar martelo, disco, dardo não tem permissão aqui. Só Célio de Barros. O Cefam (Marinha) é o mais parecido com estádio. Na Urca (Exército) não pode jogar no campo. Na Escola Naval também não. O Engenhão é estádio olímpico, mas tem campo de futebol. Quantas competições houve lá desde que foi inaugurado, no Pan? Menos de uma por ano. Poderia ter o Miécimo da Silva, que está arrasado. A Vila Olímpica do Mato Alto só são seis raias, de desenho mais antigo, curva fechada. A da Mangueira é pior ainda. Agora as pistas são em semi circunferência. Para o Rio, que ainda é a segunda potência do Atletismo do Brasil, se estamos desse jeito, imagina os outros.
Soluções ainda estão no papel
Um comitê organizado por atletas, ex-atletas e com apoio de alguns políticos como Romário pretende pressionar o governador Luiz Fernando Pezão para que a prometida obra de reforma do estádio Célio de Barros aconteça antes dos Jogos de 2016. Um protesto pacífico está sendo organizado para a festa do Prêmio Brasil Olímpico, no dia 16 de dezembro. Por enquanto, as soluções estão todas no papel.
A Federação de Atletismo do Rio (FARJ) e o Ministério Público do Rio tentam tombar o estádio novamente para fazer adequações. Segundo o vice-presidente da FARJ, José Claudio Bollorini, a concessionária Maracanã S/A sugeriu a manutenção do estacionamento e uma pista no andar de cima, com arquibancada lateral.
— Existe um projeto de fazer uma pista suspensa no Célio de Barros. Seria feita pela concessionária e manteriam o estacionamento. Mas seria pista de atletismo, não estádio. Colocaram asfalto em cima e está tudo enterrado. Era nossa casa. O Atletismo ficou muito prejudicado no Rio, está órfão. Está precária a situação — disse.
A concessionária Maracanã S/A informou que o projeto básico de obras do Célio de Barros foi aprovado pela Casa Civil do governo do Rio e atualmente está sob análise dos órgãos de licenciamento e patrimônio.
Uma outra solução está mais palpável no momento, mas não é área pública. A empresa Vale finaliza a construção de um Centro Nacional de Excelência, também em Deodoro, com apoio do Ministério do Esporte. Gerente de esporte da Fundação Vale, Eric Font garantiu que o espaço, voltado inicialmente para o projeto social, estará aberto para atletas do Rio.
— A previsão de inauguração da pista de atletismo é primeiro trimestre de 2015. Estaremos prontos para receber técnicos e alunos e queremos disponibilizar para atletas de alto rendimento — informou.
Uma segunda pista ainda será projetada no Centro de Desporto da Aeronáutica, mas não há prazo para obras. Talvez os atletas do Rio terão a estrutura ideal somente após os Jogos de 2016.