O técnico Paulo Autuori chegou ao Vasco e conquistou a torcida com o discurso de profissionalismo para remontar o clube apesar da crise financeira. A idolatria junto aos torcedores foi instantânea e a parceria caminhava sem obstáculos em meio aos problemas. No entanto, o evidente desejo de deixar o Cruzmaltino manifestado nas recentes entrevistas minou a relação e rendeu duras críticas ao comandante. A possibilidade de acerto com o São Paulo piorou a situação e transformou o profissional no vilão em uma das fases mais complicadas da instituição na temporada.
Não é surpresa para os envolvidos que Paulo Autuori poderia deixar o clube em julho. O futuro só será anunciado no decorrer desta terça-feira, mas a saída é considerada irreversível pelos próprios cartolas. Embora tentem convencê-lo a continuar o trabalho em São Januário, a permanência é vista como improvável e surpreendente.
Assim que assumiu o comando do Vasco há pouco mais de três meses, Autuori avisou que julho seria o limite para o fim dos salários atrasados com jogadores e funcionários. No entanto, os dirigentes alegam que o técnico vinha sendo informado de todos os procedimentos para a regularização fiscal com a Receita Federal e o anúncio dos novos patrocinadores.
O prometido pagamento do salário de maio não ocorreu na sexta-feira e o treinador manifestou a insatisfação. Ele conversou com o diretor executivo Ricardo Gomes e comunicou a decisão de deixar o comando do time apoiando-se em uma cláusula contratual. O dirigente argumentou com Autuori nos últimos dias e tentou mudar a opinião sem sucesso.
A última esperança está em novo papo nesta terça-feira. Mas a postura rígida do técnico e a possibilidade de acerto com o São Paulo trouxeram desconfiança para alguns membros do departamento de futebol e o transformaram em vilão junto aos torcedores. As críticas em fóruns do Vasco na internet dominaram as páginas durante toda a segunda-feira. Segundo os cruzmaltinos, os discursos de profissionalismo iriam ralo abaixo com a saída de quem se dizia fiel ao compromisso assumido.
Os dirigentes não assumem publicamente, mas estão frustrados com a decisão do técnico, já que alegam em conversas reservadas que o Vasco está muito próximo de obter as certidões negativas de débitos - documento emitido pela Receita Federal que comprova a não existência de dívidas com órgãos públicos. Na sequência, as parcerias com a Caixa Econômica Federal (R$ 20 milhões) e Nissan (R$ 8 milhões) serão anunciadas.
Sem saber o que irá acontecer, o elenco se reapresenta na manhã desta segunda-feira no estádio de São Januário. A presença de Paulo Autuori não está confirmada e tampouco a direção da equipe no clássico de domingo, contra o Flamengo, às 18h30, em Brasília. Caso a saída seja oficializada, o auxiliar Jorge Luiz deve comandar o time sob a supervisão de Ricardo Gomes no compromisso. Enquanto isso, o nome do técnico Ney Franco ganha força para substituir Paulo Autuori nos bastidores.