Por muito tempo ele carregou nas costas uma cruz bem diferente da Cruz de Malta, que sempre carregou no peito. Considerado o principal culpado pela falha que culminou na virada por 2 a 1 da Seleção Uruguaia sobre o Brasil na final da Copa do Mundo de 1950, o goleiro vascaíno Barbosa completa nesta sexta-feira (7 de abril) 17 anos desde sua morte nos anos 2000. Apesar de toda a culpa, que por humildade teve que assumir, o arqueiro morreu ‘feliz’, como garantiu sua filha, Tereza Borba, em entrevista exclusiva ao FOXSports.com.br.
Barbosa jamais imaginaria que um único lance, aos 34 minutos do segundo tempo, em um Maracanã lotado com mais de 200 mil pessoas, terminaria nos pés do uruguaio Alcides Ghiggia, que viraria a partida para sua Seleção, e muito menos que a culpa que teve que carregar nas costas duraria tanto tempo. Esse sentimento, porém, ele não levou para frente, e inclusive pôde viver bons momentos mesmo após sua ‘crucificação’, como revela Tereza.
“O Barbosa era uma pessoa muito iluminada, ele não absolveu essa negatividade toda, ele não se enterrou no mundo dele, porque ele continuou a vida dele, continuou a jogar futebol, e só não foi para a Copa de 54 porque ele quebrou a perna em um jogo, e foi para ele foi muito bom, na verdade, porque excursões de colégios, foram até o hospital onde ele estava, visitá-lo, levar presentes, o hospital ficou lotado. Ele falou que nunca tinha visto tanto carinho na vida dele como naquele dia”, contou a filha do jogador ao FOXSports.com.br.
Como o próprio Barbosa afirmava, o único momento em que sentiu ‘triste’ foi naquele fatídico dia 16 de julho de 1950, logo após o gol sofridos. Mas depois disso, Tereza afirma que o goleiro, que integrou o histórico ‘Expresso da Vitória’ do Vasco da Gama, seguiu sua vida normalmente.
“No dia do jogo, ele fala que logo depois que ele sofreu o gol, que dava a vontade de fazer um buraco e se enterrar, naquele momento. Mas no outro dia ele já saiu, ele foi para a cidade, ele foi ter a vida dele normal”, lembrou.
Até mesmo a morte do goleiro foi ‘feliz’. Vítima de uma insuficiência respiratória no dia 7 de abril dos anos 2000, Barbosa veio a falecer na mesma data da chamada ‘Carta Resposta’ enviada pelo Vasco da Gama à Associação Metropolitana de Esportes Athléticos (AMEA), que em 1924, obrigou que o Cruzmaltino abrisse mão dos negros e operários de seu elenco para poder disputar competições daquele período, marcado ainda pelo amadorismo do futebol. O Gigante da Colina, porém, não só recusou acatar a ordem, mas também reafirmou a importância da democracia no esporte, até hoje eternizada na história do clube que Barbosa defendeu por quase 15 anos.
“A morte dele foi especial. Ele morreu no dia da ‘Carta Resposta do Vasco da Gama’, no dia 7 de abril, que é um dia muito importante para o clube, porque o Vasco é o time do amor, sem preconceito, dos operários. Para mim o Barbosa é imortal”, completou a filha do jogador.