O retorno de David Jackson ao basquete brasileiro não foi em grande estilo como ele gostaria, mas serviu para deixar os torcedores vascaínos animados. Há apenas uma semana e meia no Rio de Janeiro, o americano nascido em Rockville, no estado de Maryland, comprovou em quadra que fez bem em ter trocado as férias durante o verão nos Estados Unidos por treinos individuais que o permitiram estrear pelo Vasco ao menos nas mesmas condições físicas que seus companheiros. Último a se apresentar ao técnico Christiano Pereira, o experiente ala de 34 anos pode não ter brilhado na vitória do clube de São Januário sobre o Botafogo, nesta segunda-feira, por 77 a 53, em General Severiano, mas, apesar da falta de ritmo, aprovou sua estreia e mostrou que tem tudo para ser a principal arma da equipe no restante da temporada.
- Foi um estreia ok, mas ainda precisamos nos conhecer um pouco melhor para ganharmos entrosamento. Mas foi bom ter tido a oportunidade de enfrentar uma outra equipe para corrigir algumas coisas e organizar melhor nossa maneira de jogar. Mas valeu, nós precisávamos disso. É claro que senti um pouco a falta de ritmo, mas acho que consegui encaixar algumas características do meu jogo no sistema da equipe e fiz um ótimo trabalho servindo meus companheiros - analisou David Jackson.
Mais do que confiança no seu taco, David Jackson mostrou personalidade ao admitir que desconhecia o passado vitorioso do novo clube quando chegou a São Januário. Não bastasse isso, o americano esbanjou sinceridade, rechaçou qualquer tipo de frustração em relação à sua passagem pelo Flamengo e deu a entender que o esperado clássico contra o ex-clube não terá nenhum sabor especial e será como tantos outros que já disputou ao longo da carreira.
- Tínhamos um grande time, esperávamos ter sido campeões, mas infelizmente não aconteceu. Fizemos uma grande competição, mas fomos eliminados pelo São José no quinto jogo, onde eles tinham o mando de quadra e fizeram o que tinham que fazer. Já sei bem sobre a rivalidade com o Flamengo (risos),de muitos anos. Agora estou aqui e vou tentar ajudar o meu time a ganhar. Pode ser um jogo diferente para outras pessoas, mas não para mim, já participei de outras partidas com muita rivalidade. Atuei pelo Peñarol, da Argentina, e lá existia uma rivalidade muito grande com o Quilmes, como aqui, mas sempre encarei esse clássicos como apenas mais uma partida, onde meu time precisava ganhar e pronto. Nos Estados Unidos é diferente. Temos uma outra cultura, principalmente em relação ao Brasil ou países onde o futebol é o principal esporte e essa rivalidade acaba se refletindo em outras modalidades quando esses times estão envolvidos - afirmou o ala, que era apenas um adolescente sem planos para o futuro quando o Vasco de Helio Rubens ganhava tudo no país.
- Eu era muito novo nessa época, ainda estava no colegial e não sei nada sobre esse passado glorioso do clube. Estava preocupado apenas em passar de ano e me formar, ainda não pensava nem em começar a jogar profissionalmente.
Mesmo tendo atuado a última temporada fora do Brasil, o ex-jogador do Quimsa, da Argentina, sabe que os rubro-negros são os rivais a serem batidos. Apesar de o basquete do Vasco ainda estar em um processo de reconstrução e não contar com o mesmo investimento do arquirrival, David Jackson acredita no elenco que reúne alguns ex-companheiros de Flamengo e Limeira, como Hélio, Wagner, Nezinho e Bruno Fiorotto, e aposta na força da camisa vascaína para recolocar o clube entre os principais times do país.
- Temos que ser o Vasco, nos fechar e fazer aquilo que sabemos sem ficar pensando em outros times ou o que eles fizeram no passado. O que passou tem que ficar no passado e viver o presente. Estamos aqui agora e vamos tentar fazer de tudo para vencê-los. Se não acreditasse que podemos enfrentar os principais times em igualdade de condições não teria vindo. Tenho a mesma expectativa toda temporada de ser um dos melhores jogadores, não apenas do meu time, mas de toda a Liga. Eu me cuido para sempre estar no meu ápice e a cada verão eu procuro aprimorar alguma coisa no meu jogo independentemente do time que eu vá jogar - destacou o americano.
Mais do os sete pontos, dois rebotes, duas assistências e quatro bola roubadas no seu retorno ao basquete brasileiro, David Jackson confirmou diante do Botafogo uma mudança marcante na característica daquele jogador que desembarcou no Brasil em 2011 para defender o rival. Tranquilo, de fala mansa, ele só exercia sua liderança pelo bons exemplos que dava fora de quadra. Com a bola em jogo, o americano mais ouvia do que falava. Se não chegava a ser um defeito, seu comportamento também não servia de modelo para quem chegou ao país como referência.
Mas a conversa que acabou transformando a postura do então pacato americano não aconteceu na Gávea. Com a mudança para Limeira, veio também a convivência com Dedé Barbosa. Dono de uma personalidade forte desde os tempos de jogador, o novo treinador deu o empurrãozinho que faltava para David Jackson passar a adotar uma liderança bem diferente da que estava habituada.
- Sou um jogador mais paciente, que tenta ler melhor o jogo e sou mais participativo. Nas últimas temporadas com o Limeira, o técnico Dedé sempre me pediu para falar mais porque achava que eu era um líder apenas pelos exemplos que dava. Realmente nunca fui muito de falar ao longo da minha carreira, mas depois disso passei a falar mais e espero conseguir trazer essa nova característica para cá - explicou o americano de 34 anos, que faz questão de deixar claro que essa mudança não tem nada a ver com individualismo em quadra.
- Nunca fui um individualista, sempre procurei jogar para o time, independentemente do número de pontos que faça, de rebotes que anote ou de como me entregue na marcação, sempre tento dar o que minha equipe precisa. Hoje sou apenas um cara mais falante e que tenta motivar meus companheiros em quadra dessa maneira.
Pelo visto essa mudança deu super certo. Logo na sua primeira temporada sob o comando de Dedé, o americano venceu uma disputa particular com Nicolas Laprovittola, então armador do Flamengo, e se tornou o primeiro estrangeiro e ganhar o prêmio de MVP (jogador mais valioso) do NBB.