Em meio à polêmica, atordoado e assustado com a história sobre seu espancamento no complexo de favelas da Maré, Bernardo deixou o Rio de Janeiro. Ele mora em um hotel na Barra da Tijuca, zona oeste, mas deixou o local e a cidade com medo de represálias dos traficantes que o torturaram com choques elétricos e socos. O jogador do Vasco foi intimado a depor como vítima pelo delegado José Pedro Costa, titular da 21ª DP (Bonsucesso) às 14h desta sexta-feira, mas adiou a ida à delegacia. Além dele, José Pedro chamou Wellington Silva, do Fluminense, e a irmã de Dayana Rodrigues para prestarem esclarecimentos.
A tendência é que Bernardo, 22 anos, deponha no início da próxima semana. O jogador rompeu os ligamentos do joelho esquerdo e tem cirurgia marcada para o dia 1º de maio. A previsão inicial é que ele fique fora de campo por seis meses e só deve estar de volta ao dia a dia do Vasco entre o fim de julho e agosto.
A preocupação no Vasco é em relação ao lado psicológico do jogador. Mesmo com a lesão, Bernardo se mostrava, ao menos nas declarações, disposto a encarar o problema de frente:
- Esse tempo que eu vou ficar parado, vai dar pra pensar em muitas comemorações chegou a brincar.
Com o caso vindo à tona, porém, o panorama mudou. Bernardo é pai de quatro filhos, que têm entre dez meses e seis anos, e temia que o espancamento na Maré chegasse ao conhecimento público. Na noite desta quinta-feira, o GLOBOESPORTE.COM revelou que a polícia investigava o caso ocorrido com o jogador na favela carioca. Atualmente, o jogador vive um relacionamento com a estudante Monique Braga.
Segundo informações da polícia, no último domingo, Bernardo foi sequestrado e agredido por traficantes dentro do Complexo da Maré. O motivo teria sido o seu envolvimento com Dayana Rodrigues, supostamente uma das mulheres de Marcelo Santos das Dores, o Menor P, líder do tráfico no local.
Bernardo e Dayana teriam sido flagrados por bandidos na Favela Salsa e Merengue, e de lá levados para uma casa na Vila do João, onde teriam sido deixados nus, amarrados com fita crepe, torturados com choques elétricos e espancados.
As informações da polícia dão conta de que Wellington Silva teria sido chamado quando os traficantes começaram a espancar Bernardo e convencido os traficantes a pouparem Bernardo argumentando que se o jogador morresse \"a favela teria UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) no dia seguinte\".
Wellington Silva negou que tenha encontrado Bernardo na favela, mas confirmou que o jogador o comunicou sobre o episódio violento:
- Ele me ligou depois e disse o que aconteceu. Eu falei: Tu é doido, Bernardo?! Ele disse que ainda estava muito abalado e depois conversaríamos pessoalmente.
Dayana levou cinco tiros nas pernas (dois de raspão), foi libertada e atendida no Hospital Santa Maria Madalena, na Ilha do Governador. De lá seguiu para o Hospital Souza Aguiar, onde permaneceu até esta quinta-feira. O caso foi registrado na 37ª DP (Ilha do Governador) sob o registro de ocorrência 037-02705/2013 e está sendo investigado pela 21ª Delegacia Policial (Bonsucesso).
Dayana depõe informalmente
Em conversa informal na 21ª DP, um inspetor informou que Dayana levou prestou depoimento quando ainda estava internada no Souza Aguiar, de onde teve alta nesta quinta, e negou o envolvimento de traficantes. Ela não teria retornado para o Complexo da Maré temendo o desdobramento do caso.