No post sobre a questão dos horários do futebol apresentei alguns resultados do trabalho do Futebol do Futuro. Dado o interesse manifestado por leitores a respeito, vamos ver a íntegra do estudo apresentado pelo grupo.
O Futebol do Futuro foi formado em novembro de 2012 por um grupo de 21 profissionais ligados ao esporte fora de campo, atuando em diferentes áreas de gestão, maketing esportivo e advocacia. Eles se propõem a apresentar alternativas viáveis para o desenvolvimento do futebol brasileiro a partir de um enfoque técnico. Segundo seus integrantes, eles partilham da opinião de que todos ganharão se tivermos um ambiente de futebol mais eficiente, organizado, transparente e financeiramente sustentável e têm como objetivo final que o Futebol do Futuro aponte soluções técnicas e realistas para nossos principais problemas, criando condições para que possamos competir com o que há de melhor no futebol internacional.
O grupo acredita que por sermos a sétima maior economia do mundo e um país apaixonado e com tradição no futebol, é natural que busquemos estar entre os 3 maiores mercados do futebol no mundo a médio prazo.
Na primeira fase dos trabalhos do grupo foi feito um diagnóstico detalhado da situação atual do futebol brasileiro, com a identificação de 53 itens que integram o que eles chamam de 5 grandes desafios de nosso futebol:
Para embasar melhor as proposições, o Futebol do Futuro fez uma pesquisa com cerca de 300 profissionais envolvidos com a gestão e o marketing esportivo, com o objetivo de medir a percepção geral a respeito dos temas que foram identificados. Os resultados da pesquisa dão uma boa visão do que esses profissionais pensam a respeito da estrutura atual do futebol brasileiro, que veremos nas próximas tabelas.
Dos 53 itens pesquisados, nada menos que 37 foram classificados como de “Alto impacto negativo”. Os outros 16 entraram na categoria “Médio impacto negativo” e nenhum foi contemplado como “Baixo impacto negativo”.
Das 5 categorias em que os 53 itens foram classificados, GOVERNANÇA e FINANÇAS aparecem como as de pior índice de impacto médio, 72,1% e 70,6%, respectivamente. Para 68% dos pesquisados, os 18 itens da categoria GOVERNANÇA, apresentam “alto impacto negativo”. Na categoria FINANÇAS esse índice é de 65,8%.
Entre os 53 itens pesquisados, “Déficits financeiros recorrentes e fluxo de caixa negativo” foi considerado o problema mais grave, com 88% dos pesquisados classificando-o como de alto impacto negativo para o Futebol.
O segundo maior problema na opinião dos pesquisados é a “Violência dentro e fora dos estádios”, com 87% das respostas como de alto impacto negativo.
Outro indicador relacionado às Finanças – “Alto e crescente índice de endividamento dos clubes” – foi o terceiro maior problema, com 84% de respostas “alto impacto negativo”.
Sintomaticamente, e em linha com o que há anos debatemos, dos 10 principais problemas apontados, 6 – mais da metade – são da categoria GOVERNANÇA.
A visão do OCE
Como sabem os leitores desse espaço, todos esses problemas levantados nessa pesquisa do Futebol do Futuro (creio que sem uma única exceção), vêm sendo discutidos aqui há vários anos. Discorde de alguns pontos e conclusões, bem como do emprego de termos como “espanholização”. Por sinal, a esse respeito, na próxima semana apresentarei um trabalho que vai mostrar, através de números financeiros, que a ideia proposta por esse termo não ocorre entre nós, ao contrário da concentração econômica, fenômeno comum a todas as áreas da economia e em todo o mundo.
Vivemos um bom momento no futebol brasileiro fora dos gramados. Os debates aumentam em número, frequência e qualidade. O governo, bem ou mal, está procurando agir, o que já é um progresso em relação a tempos pretéritos. Há uma maior cobrança e fiscalização por parte da sociedade. Vozes discordantes vêm ganhando nas mais diferentes áreas. Candidaturas alternativas aparecem e, mesmo dentro de velhos esquemas, não deixam de apresentar um quê de novidade. É o novo velho, provavelmente melhor ou não tão ruim quanto o velho velho.
Aumenta, também, o número de informações sobre o futebol. As pesquisas se multiplicam e fornecem ajuda preciosa para uma melhor compreensão do quadro à nossa frente.
Boas medidas estão em discussão no Congresso Nacional, seguindo-se à aprovação da MP 620 que mexe em alguns pontos importantes (ver posts a respeito aqui).
O futebol vive um nítido momento de transição, de mexidas em sua estrutura, algumas com potencial para provocar mudanças profundas.
Definitivamente, há algo de novo no ar além dos aviões de carreira.