A folha do calendário vai virar. Mas 2014 não vai trazer as mudanças esperadas pelos jogadores brasileiros. A próxima temporada promete ser de atritos ainda mais intensos entre o Bom Senso FC, grupo formado por mais de mil atletas profissionais, e a CBF. Se o presidente José Maria Marin não se mostrar atento ao movimento, uma greve geral pode ser convocada.
“Existe sim a possibilidade de greve. Já no início do ano, já nos estaduais”, garante Paulo César, veterano lateral que integra o núcleo mais ativo do Bom Senso.
Tal medida drástica quase se concretizou na última rodada do Campeonato Brasileiro, mas foi abortada pelas grandes consequências, entre elas prejudicar mais ainda as férias e a pré-temporada, já tão afetadas pela Copa do Mundo do ano que vem.
Em carta recente, o grupo elevou o tom das críticas à CBF e utilizou de ironia para falar das propostas apresentadas em Marin, em resposta às reivindicações. Em vez de limitar a quantidade de jogos por ano por clube e tratar do fair play financeiro, a nota ataca a decisão de impor um número máximo de partidas apenas aos jogadores individualmente.
Se os cartolas não se mostraram ativamente interessados em discutir mudanças concretas e um calendário adequado para 2015, o Bom Senso vai intesificar suas ações.
“Temos algumas ideias, paradas, manifestações mais fortes. Mas temos que sentar com todos em janeiro e decidir (os próximos passos)”, revela Paulo César.
Para o movimento, a um grande responsável pelo impasse que pode resultar numa ampla paralisação.
“O que estamos fazendo (com a carta) é responsabilizar o Marin. Precisamos ver como ele vai reagir. Ele não reconhece a dimensão do movimento. Mas ele vai reconhecer”, alerta o lateral, que defendeu o Audax de São Paulo este ano.
Ano que vem haverá eleição na CBF, antecipada para abril para evitar influência da Copa do Mundo, e os jogadores acusam Marin de “empurrar o problema com a barriga” para evitar desgaste.
“Em termos práticos, conseguimos muito pouco, quase nada (em 2013). Mas o movimento continuar e se todos não agirem, chegaremos a uma greve”, diz Paulo César.
Decisão no tapetão alimenta novas críticas
O triste fim do Campeonato Brasileiro, decidido no tapetão depois que os jogadores suaram ao longo de 380 jogos, alimentou a insatisfação do Bom Senso. Para o grupo de atletas que clama por maior profissionalismo no futebol, o desfecho da competição — com o rebaixamento da Portuguesa decretado pelo STJD pela escalação irregular de Héverton — é reflexo da incompetente gestão de Marin.
— É a CBF que organiza o campeonato. Se houvesse uma estrutura melhor, não ocorreria esse problema (escalação de jogador irregular). Tem julgamento sexta à noite, e aí alguém não avisa a punição para alguém. É inadmissível uma coisa dessas no Brasil — critica Paulo César.
Apesar disso, o Bom Senso não vai se manifestar especificamente sobre o assunto. O movimento tem atletas de todos os clubes e não seria possível tomar partido.
— Ficamos tristes pelos jogadores da Portuguesa, mas não temos como mudar uma decisão do tribunal. Precisamos é bater na desorganização — diz o lateral.