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Bruno Maia fala sobre patrocínios, Diadora e meta de receitas

Num Vasco às voltas com problemas financeiros e em plena tentativa de voltar a se viabilizar, o marketing é uma das alternativas do clube para buscar novas receitas. Depois de um primeiro de muitas mudanças e adaptação, o vice-presidente da pasta, Bruno Maia, acredita em novidades para 2019.

A principal missão é começar o próximo ano com o tão necessário patrocinador máster. Isso se a questão política não modificar os rumos do clube: no mesmo dia em que a entrevista foi concedida, por exemplo, uma liminar anulou a eleição e marcou novo pleito - o que significava que Bruno, talvez, nem pudesse executar o que tem em mente para os próximos anos.

- Acho que para 2019 vamos abrir o ano com isso resolvido. Não é uma promessa, mas existe uma quantidade de conversas em que a gente tem mais confiança de que a chance é muito maior agora.

- E todas elas são em patamares maiores do que todas as outras que aconteceram hoje. A melhor entre as que recebemos para 2018 era menor que qualquer uma que está na mesa agora. Tenho razão para acreditar nisso, mas qualquer novidade no clube joga tudo por terra - disse o dirigente.

Bruno, de 36 anos, assumiu a VP em fevereiro e foi um dos poucos – junto com Rogério Peres, do Jurídico – a acompanhar Alexandre Campello desde o início da gestão. Sem vínculos políticos, viu de perto o turbilhão e o racha entre grupos antagônicos na diretoria, enquanto ele próprio precisava desatar nós do marketing.

Agora, mais habituado ao cargo, prepara uma reformulação na pasta para atingir as metas propostas: R$ 30 milhões de receita de patrocínio e pelo menos 45 mil sócios (considerando todas as categorias, está em curso a tentativa de equiparar o acesso aos benefícios do sócio-torcedor para o estatutário) até o fim de 2019.

Em uma conversa de pouco mais de duas horas, Bruno repassou seu trabalho e detalhou algumas de suas ideias para o Vasco.

Confira:

Início de trabalho

- Como eu nunca fiz parte da vida política do clube, eu tinha um olhar de fora, de quem é torcedor. Tinha um monte de ideia, mas entre ter ideia e chegar e realizar, demora um pouco. O Campello não chegou para mim com um plano de marketing dele. Ele me deu total liberdade. Isso leva um tempo.

Você testa algumas coisas, vê o campo em que está jogando. Antes de entrar, você não vê todos os passivos da marca, todos os contratos, todas as multas rescisórias para mudar coisas básicas que a torcida pede. Foi um prazo longo para entender isso. Sou empreendedor, tenho 10 anos com a minha empresa. Para mim, é fundamental trabalhar com planejamento, meta, prazo.

A polêmica da Lasa

- A gente tinha um contrato assinado. O Vasco ficou até fevereiro preso num contrato sem poder se mexer sob perda de uma multa muito alta. A gente tinha que esperar os prazos legais. Se ele cumprisse, o contrato era, de fato, bacana. O problema era que ele não cumpriu. A gente ficou tentando fazer com que ele cumprisse, conversando. Era muito fácil chegar e dizer que desconfiava e romper o contrato. Não. Tinha uma multa muito alta, e agora estamos cobrando na Justiça.

-Reformulação do sócio-torcedor

- Conseguimos colocar a primeira versão do sócio-torcedor, com muitas mudanças, e 95% delas foram colhidas nas redes sociais do Vasco. Não acho que já concluímos. Um dos principais temas tem sido decidir como vai ser a gestão do programa no ano que vem.

Estamos juntando o projeto de sócio-torcedor com sócio estatutário. Estamos encaminhando uma gestão única, sabendo as diferenças. O principal é a equiparação do estatuário com o sócio-torcedor, no sentido de que todo mundo vai ter acesso aos benefícios do sócio-torcedor, e eles vão estar codificados e precificados.

Sócio-torcedor com direito a voto?

- Não podemos dar direito a voto a sócio torcedor, estatutariamente. Eu particularmente penso que no mundo todo é assim. Você pode fazer com que o sócio-torcedor tenha voto. Não acho que seja prerrogativa. O sócio-torcedor pode sair a qualquer momento. Tem um dado de responsabilidade que deixa o cara participar de forma eventual. Deixar para o cara decidir o futuro do clube, não vejo obrigação de uma coisa estar ligada a outra.

Eu gosto da ideia de ter pesos diferentes para tipos de sócios, em função do tempo de relação com o clube. Acho natural que um cara investindo há 35 anos no Vasco tenha uma relevância diferente da de quem entrou há pouco tempo. E acho natural que haja um prazo mínimo de relação com o clube antes de direito ao voto, para minimizar chance de que aconteçam coisas como os tais dos mensalões.

O consenso é facilitar a entrada. Fizemos anistia com mais de 2 mil sócios proprietários que voltaram ao quadro. O Vasco deve ter um aumento de 50% do quadro eleitoral.

Questão política

- Politicamente tem sido um ano infernal. Temos sofrido muito. Esse fato do empréstimo ter sido adiado e o clube perder R$ 7 milhões em um mês. É surreal ter essa dificuldade interna. É um valor muito alto na vida do clube para abrir mão. A gente já sentiu dificuldade ao longo do caminhar para fechar negociações de patrocínio por conta do contexto político.

Fundos de investimento

- Sabemos que é uma operação complexa. Não é o primeiro fundo. E já recebi conversas com outros fundos com bastante projeção de investimento. Confio plenamente que quem está trazendo já fez as checagens que a gente fez com quem nos abordou.

Existem conversas em níveis diferentes. Não tem perspectiva concreta que se possa fechar um fundo. Você pergunta: esse cara já opera no Brasil? Vai entrar de que forma? Quem responde? Tem uma série de coisas que você não tem clareza de como opera. Eu não estou no Vasco para sacanagem. Se não tiver clareza, eu travo o processo.

Alguns estão mais preparados, mas a contrapartida não é tão interessante. Pode ser que uma dessas conversas dê frutos ali na frente. A instabilidade política do clube afeta para caramba. Varia muito o valor. Já teve coisa na casa de 80 milhões de dólares. Tenho muita confiança de que esse discurso da Sempre Vasco vai ter consistência (Nota da redação: a entrevista foi feita antes da apresentação do fundo de investimento levado por Julio Brant). Tenho certeza da responsabilidade que os caras têm. Mas vamos questionar como questionamos qualquer parceiro.

Trabalho de gestão

- As pessoas estão preocupadas com esse ano, não com 2020. Estamos para trabalhar e resolver. O Vasco tem um problema muito grave que é o da dívida de curto prazo. Muitas dívidas estourando pesadas agora.

Já foi uma redução na faixa de R$ 100 milhões de dívidas. De 120 credores, 80 foram negociados. O Vasco equalizou essas dívidas, mudou o prazo, renegociou os juros.

Influência das redes sociais

- A gente ouve muito, discute muito. Todo dia tem muito print. Um dia chegou uma ideia que achei sensacional e descobri que já tinha sido discutida internamente, que era fazer um produto da carta histórica. Já estava começando a andar numa pesquisa com eventuais parceiros.

A palavra influenciar é complicada. A gente não se pauta pela rede social, mas ela é termômetro de muita coisa.

Streaming de jogos do Vasco

- Streaming é uma discussão mais ampla e eu acredito que este é um negócio na fase inicial de apreensão pela população. Netflix está na boca das pessoas, mas o nível de consumo é crescente e exponencial. Minha percepção é que o negócio sobre imagem e transmissão de conteúdo ainda é incipiente em relação ao que vai ser nos próximos 10 anos. A gente não sabe exatamente aonde vai chegar.

O Vasco tem a obrigação de se preparar, porque quando a curva começar a chegar aqui, a gente vai ficar para trás. Estamos estruturando isso. A questão do streaming depende muito dos direitos e do interesse dos parceiros. Não é o Vasco que vai pegar e transmitir o jogos, até porque não pode por contrato. Estas propriedades já foram comercializadas. Mas existem outras propriedades sendo criadas.

Se a gente puder transmitir um jogo da base, óbvio que vai acontecer. Mas não tem uma receita imediata. É bacana em termos de imagem. Queremos que a imagem seja combinada com alguma receita. É relativamente possível fazer, com uma estrutura minimamente paga, com parceiros comerciais. Não posso criar uma nova equipe, com novo custo, para transmistir jogo da base e não ter como se pagar.

Meta de receita

O que a gente tem projetado de patrocínio para o ano que vem, e eu tenho razão para acreditar, é de R$ 30 milhoes.
Com sócio-torcedor a curva é outra. Depende muito da aprovação ou não das joias. A gente está para relançar o programa de sócio com muitas novidades. A ideia é fazer conjunto, então precisamos saber como o sócio estatutário vem. Imagino que essa seja uma situação para fevereiro, março do ano que vem.

Projeção de sócios

- Para o ano que vem, não acho que o Vasco tenha direito, em situação normal, de chegar com menos de 45 mil sócios, pelo menos, somando sócios-torcedores e sócios.
A meta maior é entregar o Vasco com 100 mil. E acho totalmente factível, porque se você avalia a curva dos clubes nesta faixa, ela é mais lenta na base. Quando pega, alarga mais rápido. Nossa expectativa é chegar no fim deste ano com 25 mil.

Dificuldade para fechar patrocinio máster

- Tem várias negociações. Não fechamos esse ano por algumas razões: não teve proposta financeira que justificasse. Algumas propostas foram convertidas em outros espaços da camisa. Uma parte do ano a gente estava fechado com outra marca, que não cumpriu o combinado.

É difícil botar na conta da situação política. Prefiro puxar para mim. Mas não preciso dizer o que o Vasco tem passado no ano politicamente. Voce não empresta 10 reais pro seu vizinho se você não acreditar que ele vai te devolver.

Possibilidade da Caixa Econômica

- Estivemos na Caixa, conversamos sobre a possibilidade da Caixa voltar. Mas com toda empresa estatal tenho que resolver as CNDs. Não posso conjecturar com isso.

O Vasco está impedido pelas CNDs. É super complexo de ser liberado, não tivemos êxito ainda nas negociações. Faz parte da estratégia do clube. Pode quitar, mas tira dinheiro de coisas mais importantes. Talvez seja melhor passar um ano, um ano e meio sem CND. Por um lado é estratégia de não execução, por outro é questão jurídica.

Diadora continua?

- Nosso contrato é com eles, e nosso compromisso é fazer o melhor. Conversas com o mercado eu tenho obrigação de ter, não significa que é para fazer negociação.

A gente não negociou com empresa alguma. Contato com empresas, diria que quase 10 empresas. Daí a ter negociação para acabar o contrato com a Diadora, não é isso. Rescisões podem acontecer. Mas não trabalhamos para isso.

Tivemos dificuldades com a Diadora, sim. Nisso avaliamos o que é melhor para o Vasco. Podemos cogitar, mas com muito respeito e clareza, e trabalho para que todos os parceiros do clube sejam tratados como prioridade e respeito. A Diadora fez um investimento no Vasco. A gente considera que pode fazer ajustes e melhorias no contrato.

Por exemplo, a velocidade de abastecimento (das primeiras camisas) nas lojas e a demora pra se apresentar a terceira camisa à torcida foram coisas que nós não ficamos satisfeitos. A gente cobrou a Diadora. Entendemos as razões, mas não aceitamos. A Diadora é cobrada firmemente. Significa que para o ano que vem estamos trabalhando com antecedência nunca vista. Já está em fase avançada as três camisas do ano que vem. A gente confia que a Diadora possa responder bem.

Fonte: ge
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