São 45 títulos, mais de 20 clubes na carreira e campanhas publicitárias que lhe renderam cerca de 15 milhões de visualizações na internet. Aos 65 anos, Joel Santana é, indiscutivelmente, uma celebridade, mas para os moradores de Copacabana, famoso bairro do Rio de Janeiro, pouco importa o status adquirido pelo treinador do Vasco.
É caminhando pelas ruas do local, sem o apito, o boné e sua famosa prancheta, que ele passa a ser simplesmente Joel, aquele simpático senhor que há 30 anos frequenta o salão de seu Walter, apelidado pelo técnico de "Maradona da Tesoura", e o restaurante do Carlão, onde degusta sua caipivodka de maracujá, saboreia uma galinha ensopada e até analisa adversários assistindo a rodada futebolística.
Mesmo ciente de que, há muito tempo, não passa despercebido pela multidão, ele faz questão de não mudar seus hábitos e segue com sua habitual simpatia.
"O que ele é em frente às câmeras, é também aqui no dia a dia. Fala com todo mundo numa boa. Difícil ver um ídolo do esporte ser como ele é. O Joel é como nós. Se você chegar aqui, ele vai conversar com você normalmente. É uma pessoa muito bacana", diz "Maradona", oficialmente chamado de Walter Dias Bonfim, que há 35 anos trabalha como cabeleireiro.
E quem pensa que a vaidade de Joel Santana termina no tradicional "barba, cabelo e bigode" está enganado. Desde os tempos de jogador, contrata os serviços do podólogo José Roberto Ramos, há 45 na profissão, e que teve o privilégio de já ter cuidado dos pés de Zico, Romário, Bebeto, entre outros. O profissional revela que o treinador tem suas superstições:
"Ele gosta de vir aqui antes dos clássicos".
Questionado se, pelo fato de já possuir uma longa amizade, Papai Joel chora um descontinho, José Roberto entrega que isto é uma exceção.
"Só no dia do aniversário que ele gosta de fazer o pé de graça", diz o podólogo que, como não poderia deixar de ser, também recebeu um apelido do técnico: "Zé do Pé".
A dois quarteirões dali se encontra o "quartel general" de Joel Santana. O aprazível bar/restaurante "Pigalle", situado na orla de Copacabana e chamado pelo treinador de "restaurante do Carlão", em referência ao dono do estabelecimento, seu amigo de longa data.
Sua presença ali é quase diária, garantem os garçons. Mas se engana quem pensa que sua "batida de ponto" o faz ser um boêmio autêntico. Os funcionários juram de pé junto que seu relaxamento etílico é bem moderado.
"Acho que nunca o vi tomando chope. Ele gosta da batidinha dele. Já é especial da casa para ele. É uma caipivodka de maracujá. Mas às vezes toma uma e depois pede uma água. Domingo mesmo ele esteve aí com a família e passou a tarde toda. Ficou assistindo ao jogos da rodada", diz o garçom Francisco Assis.
E mesmo que a carreira bem sucedida já tenha lhe fornecido uma condição de conforto, Joel gosta de se juntar aos cidadãos comuns.
"De comida ele gosta de tudo. Às vezes come a mesma que a nossa, dos funcionários, sem ser do cardápio. Ele gosta muito é de uma galinha ensopada", revela Francisco, que faz questão de enaltecê-lo:
"Ele é um cara muito simples, do povão mesmo. Fala com todo mundo, tira foto com todo mundo. É muito gente boa".
O salão do "Maradona da Tesoura" e do "Zé do Pé" fica situado na rua Raul Pompéia e se chama "Le Soleil". Já o "Pigalle", ou "Restaurante do Carlão", localiza-se na Avenida Atlântica esquina com Joaquim Nabuco.