Começar uma carreira esportiva já não é fácil. Encerrá-la costuma ser pior ainda. O fantasma da aposentadoria vive rondando a cabeça dos atletas quando o corpo começa a não obedecer mais os comandos com tanta facilidade. Impulsionada pela realização das Olimpíadas do Rio, essa transição tem sido bem mais suave para alguns destaques brasileiros. O Comitê Olímpico Brasileiro (COB) está aproveitando cada vez mais o conhecimento de experientes nomes do esporte para trabalhar no desenvolvimento das modalidades e na preparação dos Jogos de 2016.
Camila, Monique e Marina são \"assistentes de preparação esportiva\" do COB (Foto: Arquivo Pessoal)
Quem chega à sede do COB, no Rio de Janeiro, é capaz de reconhecer vários rostos conhecidos. Antes no alto pódio, atletas olímpicos cada vez mais ocupam cargos na entidade brasileira. A judoca Daniela Polzin, a jogadora de polo aquático Marina Canetti, a nadadora Monique Ferreira e a remadora Camila Carvalho são algumas das últimas aquisições.
- É uma gerência de unidades de desenvolvimentos de atletas. A gente tem que prover os atletas para que eles cheguem da melhor maneira possível nos Jogos Olímpicos. Pensar nisso com a cabeça de atleta é mais fácil. Nós temos um feeling maior explicou Marina Canetti.
No fim do ano passado, a entidade nacional, em parceria com o Instituto Olímpico Brasileiro, criou o Programa de Apoio ao Atleta, para ajudar os esportistas do país em transição na carreira ou próximos da aposentadoria. A ideia é dar suporte e planejamento à formação desses atletas, para que assumam uma nova atividade profissional quando deixarem o esporte de competição.
Polzin deixou o tatame, mas não o esporte. A judoca, formada em Arquitetura, passou a trabalhar no COB depois da aposentadoria. Os projetos logo começaram a surgir, como as salas de treinamento do Time Rio e o CT da seleção de ginástica artística, ambos assinados pela ex-atleta.
Monique, Marina, Daniela e Camila reforçam time do
Comitê Olímpico Brasileiro (Foto: Arquivo Pessoal)
Com direito a homenagem das amigas depois de sua última prova, pelo Campeonato Brasileiro, a carioca Monique Ferreira deixou as piscinas em dezembro do ano passado. A transição depois de 25 anos dedicados à natação só não foi mais difícil porque logo já teve de colocar a mão na massa na nova função. Além disso, mesmo que de uma forma diferente, ela continua envolvida com o esporte.
- Os atletas acabam nos procurando. O pessoal da natação acaba vindo falar mais comigo, o pessoal do remo e da canoagem tem procurado mais a Camila... contou Monique, que é formada em Direito.
A remadora Camila Carvalho é mais nova contratada do grupo. Embora ainda não tenha \"abandonado o barco\" totalmente, há quase dois meses, passa mais tempo na cadeira do escritório. A brasiliense formada em Ciências Políticas e Relações Internacionais embarcou no novo desafio após perder a disputa por vaga na barco double skiff peso leve, ao lado da campeã mundial Fabiana Beltrame, e não ter mais chances de disputar os Jogos de Londres.
- Legal que o COB tem essa cabeça de incluir os atletas. Para nós, isso é fundamental. Agora eu posso comer, posso fazer tudo o que quiser. E ainda estou no meio do esporte. Só que agora fico doida de ficar tanto tempo sentada. Fico até com dor nas costas brincou Camila, que segue treinando no Vasco, mas não pretende mais disputar provas internacionais.
Marina Canetti ainda faz parte da seleção brasileira
de polo aquático (Foto: Satiro Sodré/AGIF)
Marina Canetti ainda planeja manter por um tempo a pesada jornada dupla. Um dos destaques da seleção brasileira de polo, a carioca já está há um ano e meio se dividindo como pode.
- É uma loucura. Treino duas vezes ao dia e tenho que trabalhar de 9 às 18h. Vou para academia na hora do almoço e treino à noite. No final de semana, ainda vou para São Paulo para fazer os treinos coletivos com a seleção. Eu estava na Europa, e lá meu trabalho era isso. Como decidi voltar para o Brasil, e aqui o polo não é profissional, tinha que pensar uma maneira de ganhar dinheiro. Ao mesmo tempo, ainda estava em condição de continuar a carreira de atleta. Se eu conseguir ir levando até 2016, vai ser um marco. Mas não sei o que me espera comentou.