inda no gramado do Barradão, enquanto comemorava o título de campeão baiano, o Bahia de Feira assumiu uma nova alcunha. O Tremendão se autoproclamou o Cavalo Avionado. Mas se engana que pensa que o único voo previsto era o do título estadual. O Tricolor do interior quer ir mais longe.
A primeira meta é conseguir o acesso à Terceira Divisão ainda em 2011 e, em dois anos, disputar a Série B. A partir de 17 de julho, a equipe disputa a Série D do Campeonato Brasileiro e, no ano que vem, já está confirmada na disputa da Copa do Brasil. O presidente do conselho do Tremendão, Jodilton Souza, não esconde de ninguém que o seu sonho é enfrentar, na Copa do Brasil, um dos grandes do futebol carioca.
- Quem sabe, no ano que vem, a gente não recebe um Vasco ou um Flamengo aqui em Feira de Santana? diz.
Como não goza de uma posição de destaque no ranking da CBF, o atual campeão baiano tem grandes chances de enfrentar logo na largada da Copa do Brasil um dos gigantes do futebol brasileiro. No entanto, o confronto está condicionado ao desempenho dos clubes da Primeira Divisão, uma vez que estes podem ficar de fora da competição nacional, caso conquistem vaga na Taça Libertadores.
O projeto mais palpável no momento é o de subir para a Terceira Divisão. Para tanto, a diretoria promete se reforçar, uma vez que o time perdeu seus quatro jogadores mais importantes. O goleiro Jair, o meia Diones e o atacante João Neto foram contratados pelo Bahia da capital, enquanto o meia Bruninho teve o passe comprado pelo Cruzeiro.
- Vamos nos reforçar para fazer um bom time para a Série D. Fizemos um grupo forte. Quatro jogadores vão jogar a Série A, o que prova que fizemos um bom trabalho. Queremos, em dois anos, chegar na Série B disse Jodilton.
Para o cartola feirense, o título do Bahia de Feira pede uma nova forma de olhar para o futebol do interior do estado. Ele ainda lembrou que o momento de maior glória da Bahia foi conquistado em um momento semelhante.
- É preciso olhar com carinho para o interior. Não podemos esquecer que o Bahia viveu seu melhor momento quando olhou para o nosso estado e pegou jogadores da Catuense, do Fluminense de Feira e assim foi campeão Brasileiro em 88 lembrou.
Bicho-papão nos anos 40, Tremendão renasceu nos últimos três anos
Clube mais antigo da cidade de Feira de Santana, a segunda maior do estado, o Bahia de Feira viveu sua fase áurea nos anos 40, no século passado, quando rivalizava com o Fluminense nas disputas locais.
- Mas, logo depois disso, o clube entrou em uma fase de decadência. Recuperou-se e passou a realizar competições amistosas pelo interior e dentro de Feira de Santana, obtendo grandes vitórias contra equipes como o Internacional de Porto Alegre, Atlético-MG, Bahia e o Galícia da capital. Por esses feitos, passou a ser chamado de Bicho-Papão do Interior relembra Moacir Cerqueira, pesquisador de Feira de Santana.
Nascido Associação Desportiva da Bahia, o clube adotou o nome da cidade e passou a se chamar Associação Desportiva Bahia de Feira. De acordo com informações não oficiais, o motivo teria sido a pressão feita pelo xará da capital.
O apelido de Tremendão é uma homenagem à Jovem Guarda. Na época em que Roberto e Erasmo Carlos animavam plateias pelo país inteiro, o Bahia de Feira curtia mais uma fase áurea. Em 1967, o Rei Roberto e seu amigo de fé, Erasmo, desfilavam em ritmo de aventura e o Tricolor de Feira de Santana fazia a sua estreia na elite do Campeonato Baiano, onde ficou até 1971.
Depois disso, o clube viveu uma trajetória de montanha russa. Em 1983, foi campeão da Segundinha. Mas, no ano seguinte, nova queda. Em 1986, levou mais uma vez o título da Série B regional, e, na temporada seguinte, repetiu o filme de 84 e voltou a ser rebaixado. Desta vez foram 22 anos longe da elite do futebol baiano.
O retorno aconteceu somente em 2010. Antes, em 2009, mais uma conquista da Segunda Divisão estadual. Mas, diferente das outras ocasiões, o ano seguinte ao do acesso teve o que se comemorar. O Tremendão conseguiu ficar entre os quatros melhores times da competição. Já em 2011 foram duas taças em apenas quatro meses. O Torneio Início, conquistado na abertura do Campeonato Baiano, foi o primeiro aviso. Depois disso, uma campanha encantadora fez do time de Feira de Santana campeão estadual.
Conquista premiou nova administração
O inédito título estadual premia a gestão que assumiu o clube a partir de 2009. Uma empresa local, que tem como principal acionista o presidente do conselho, Jodilton Souza, assumiu a coordenação do clube. O empresário nomeou o filho, Thiago Souza, para a presidência.
Atualmente, o clube treina em um Centro de Treinamento alugado, que funciona em São Gonçalo dos Campos, nas proximidades de Feira de Santana. Chamado de Ribeirão, o local oferece uma boa estrutura para os atletas e funcionários. Existe um campo com gramado em boas condições, alojamento, sala de estar com TV a cabo, sala de fisioterapia e refeitório. Mas melhorias estão a caminho. Os dirigentes já compraram uma área de aproximadamente 150 mil metros quadrados no povoado de São José, em Feira de Santana. Já foi dada entrada do projeto do CT no Ministério do Esporte, onde tramita.
O presidente do clube destaca que a forma de conduzir o clube foi fundamental para o sucesso.
- O planejamento que fizemos nesses dois anos foi muito bem-feito e aí está o resultado. E já foi assim no ano passado. O que nos diferenciou neste ano é que tivemos uma equipe muito mais forte e em condições de brigar de igual para igual com os grandes.
Outra figura de importância ímpar à frente do projeto de ressurgimento do Tremendão, é o técnico Arnaldo Lira.
- Procuramos nos planejar com cuidado nas contratações. É importante você não contratar errado. O pagamento é sempre em dia. Então, tudo isso facilitou o nosso trabalho diz Lira.
No começo deste ano, Lira chegou a receber uma proposta de um clube do Ceará, mas recusou o convite, porque o Bahia de Feira cobriu a oferta, além de apresentar ao treinador um projeto a longo prazo. Porém, dias depois da conquista, o técnico confidenciou que, a depender das propostas, pode deixar o time.
- Se aparecer alguma coisa de Série B ou de Primeira Divisão, estou pronto para trabalhar disse o treinador. No entanto, a intenção da diretoria é manter Lira no projeto de voos mais altos do Tremendão.