O rompimento entre Alexandre Campello e o grupo Identidade Vasco bagunçou ainda mais o sempre complicado tabuleiro político do clube. Com alto poder de barganha - são 13 cadeiras de vice-presidente vagas desde sábado -, o dirigente corre contra o tempo para reconstruir sua diretoria administrativa. Ao mesmo tempo, ele passou a conviver com um alvo pendurado nas costas. Não falta gente disposta a acertá-lo em cheio, embora haja os que já se levantaram, dispostos a defendê-lo.
O primeiro caso é de “fogo amigo”, ou melhor, de ex-amigos. Na segunda-feira, Fred Lopes liderou uma entrevista com nove dos 13 vice-presidentes que pediram exoneração alegando falta de transparência e interferência de Campello nas pastas. Luiz Gustavo Pereira, ex-vice-presidente de patrimônio, foi mais longe: em entrevista ao “Globoesporte.com”, acusou o dirigente de ter pego dinheiro emprestado com o clube. O pior: ele teria pago a dívida com uma parcela recebida pelo Vasco referente à negociação de Douglas, ainda em 2017.
- Não dá para confiar mais nele. Houve uma quebra de confiança, não acredito mais nas informações. Existe um universo financeiro paralelo dentro do Vasco - disparou Lopes, que ainda afirmou que foi impedido de ter acesso à pasta com o contrato da venda de Paulinho para o Bayer Leverkusen, da Alemanha. O objeto teria sido retirado do departamento de futebol.
A Identidade Vasco, principal grupo responsável pela eleição de Campello, promete novas denúncias contra o ex-aliado. A ideia de conduzir um processo de impeachment contra o presidente já foi mais forte entre seus pares. Entretanto, a dificuldade para conseguir os votos necessários para aprovar a derrubada é um dos motivos que pesam contra a iniciativa.
Caso avance nesse sentido, a Identidade deverá ter o apoio de Eurico Miranda e seu grupo político, o Casaca. Na segunda, o antecessor de Alexandre Campello e atual presidente do Conselho de Beneméritos seguiu a batida da crise e colocou mais pressão sobre o médico ortopedista: convocou reunião extraordinária para a próxima sexta-feira. A ideia é obter esclarecimentos de Campello a respeito de uma carta recebida pelos beneméritos.
Há também quem esteja disposto a sair em socorro de Campello. Uma reunião entre pesos pesados da política do Vasco, atualmente desgarrados dos grupos mais consolidados, aconteceu na tarde de segunda. Otto de Carvalho, Fernando Horta, José Luís Moreira, Olavo Monteiro de Carvalho, Jorge Salgado e José Carlos Osório são beneméritos e grandes beneméritos com boa capacidade de mobilização de votos. A tendência é que assumam posição a favor de Campello, o que será de grande serventia para o presidente daqui para a frente, em termos de governabilidade.
Antes de se preocupar com votações no Conselho Deliberativo, Alexandre Campello possui um problema mais urgente para resolver. Com a debandada da Identidade Vasco, o dirigente precisa preencher as vice-presidências do clube: somente Rogério Peres, vice jurídico, Bruno Maia, vice de marketing, e José Pinto Monteiro, do departamento social, permaneceram. São 13 cadeiras abertas, dois grupos políticos numerosos com que não pode contar, e outro, a Sempre Vasco, de Júlio Brant, vítima na manobra protagonizada por Campello às vésperas da eleição, que garantiu à presidência ao ex-médico do clube.
Nesta terça-feira, Campello dará entrevista coletiva, às 12h. Nela, há poucas chances de anunciar novos vice-presidentes. A tendência é que se defenda das acusações da Identidade Vasco, algo que pode ter de se repetir nos próximos dias.