Eleição direta ou indireta, reforma do estatuto, realização ou não da Assembleia Geral Extraordinária... o cenário eleitoral do Vasco ganhou um novo campo de divergência: a lista de sócios aptos a votar no pleito presidencial de 7 de novembro (definido como Assembleia Geral Ordinária, a AGO).
Ao ver o que definiu como irregularidades, o presidente Alexandre Campello disse entender haver uma tentativa de burlar o processo. Em entrevista ao ge, o mandatário acusou Roberto Monteiro, presidente do Conselho Deliberativo e seu desafeto político, de substituir 50 nomes que estariam em dia com suas obrigações e, portanto, com direito a voto por outros 50 em situação irregular, ou seja, impossibilitados de participar do processo - são, na verdade, 46 nomes pois quatro deles apareceram duplicados na listagem final (antes disso, porém, Campello assinou a ata e a lista de sócios). Afirmou ainda que Faues Cherene Jassus, o Mussa, presidente da Assembleia Geral, se omitiu de fazer a conferência.
Tanto Monteiro quanto Mussa negam as afirmações de Campello. E apresentam versões diferentes para a situação (veja abaixo).
- Primeiro, precisamos entender se houve dolo. Não me parece ser um mero equívoco. Todos podem errar, mas quando se coloca 50 nomes que não estavam em nenhuma lista... me parece uma tentativa de burlar o processo. Não sou advogado, não sei se isso pode ser tipificado como ação criminal passível de ser levada adiante. Tem de entender com o jurídico, mas me parece estar longe de ser um mero equívoco - afirmou Campello.
A lista de sócios aptos a voto foi publicada na sexta-feira no site oficial do Vasco. Antes disso, a Junta Eleitoral (reunião dos cinco presidentes de poderes do Vasco), se reuniu presencialmente em São Januário na terça. E definiu os critérios para elaboração da lista de votantes, já usados na AGE que aprovou a eleição direta, mas por decisão judicial está com resultado sub judice:
Um ano de associação com pagamento em dia
Ser maior de 18 anos
Exclusão de sócios gerais anistiados
Inclusão de Beneméritos Remidos, Remidos e Sócio Campeão mesmo não recadastrados desde que tenham até 90 anos.
Com esses critérios, o Vasco apurou a lista com 8.843 nomes - a linha de corte, na comparação com a AGE, mudou pois foram incluídos os associados que entraram nos meses de julho e agosto de 2019 e excluídos quem não pagou os meses de julho e agosto de 2020. Segundo Campello, em reunião virtual da Junta na quinta-feira, foi definido que Roberto Monteiro faria a ata e a revisão da lista fornecida pelo clube. Neste caso, o presidente do clube disse entender que Mussa se omitiu.
- Eu me ofereci a fazer a ata, mas a maioria decidiu que Roberto Monteiro deveria fazê-la. O que deveria ser papel do presidente da Junta Eleitoral, o presidente Mussa, foi delegado ao Roberto Monteiro. Ele deu os números finais à lista. Ele pegou a lista apresentada pelo clube e retirou aqueles que, segundo a Junta, não estariam aptos a votar. Esse número deveria ser 862 sócios - disse, para completar:
- Qual foi a nossa surpresa? Ao fazer o cruzamento entre a lista que fornecemos e a que recebemos, verificamos que havia número maior de sócios alijados do que deveria ter. O número não era de 862, mas 912 nomes diferentes entre as listas. Se concluiu que alguns foram inseridos para que o número final batesse com o que foi acertado. Descobrimos, então, que haviam 50 nomes diferentes, que jamais estiveram na lista. Posso afirmar que todos são inadimplentes, alguns deles eliminados do quadro social e, portanto, sem condição de votar. Alguns, desde 2018. Levantando os nomes, identificamos que são nomes ligados ao grupo Identidade Vasco, que é liderado pelo Roberto Monteiro. Isso, realmente, causou surpresa.
O ge, então, questionou Campello sobre dois aspectos:
1- Por qual motivo publicou a lista antes de fazer a checagem?
"Primeiro, agimos de boa fé entendendo que a lista tinha números tratados dentro da Junta Eleitoral. O número final estava alinhado com o que foi definido. Havia prazo a ser cumprido, e sexta-feira era o último dia para ser cumprido. Para publicar, o trabalho é grande pois temos de digitalizar um número grande de folhas. Se não fosse feito na sexta, ia impactar nos prazos do processo eleitoral. Agimos de boa fé entendendo que a lista continha as decisões da Junta. O clube entendeu que tinha compromisso com o sócio. Eu fui voto vencido e era importante que o clube prestasse contas".
2 - Se entende que o sócio anistiado tem direito a voto, por qual motivo assinou a ata que diz o contrário?
"É simples. A ata foi feita de maneira sintética. Na realidade, eu ratifiquei ser contra a exclusão dos anistiados. Entretanto, isso já havia sido votado na reunião da AGE. Não fazia sentido voltar a essa discussão, ou seja, ter critérios diferentes para a AGE e AGO. Até porque sabia que não mudaria. O 4 a 1 não aprovou a exclusão, o que foi aprovado foi publicar a lista com aqueles números finais. Entendo que os critérios já tinham sido votados, e eu fui derrotado. Quando o Mussa vota contra, é um voto político. Eu entendi que não deveria, naquele momento, politizar a Junta. A ideia era fazer uma eleição tranquila e transparente. Lamentavelmente, Mussa e os grupos que o acompanham tentam politizar. Não significa absolutamente que sou favorável à retirada dos anistiados. Se pegar o áudio, verá que o Mussa disse que faria uma publicação de inteiro teor. Vão verificar que reiterei a minha posição".
Na checagem feita pelo Vasco, segundo Campello, nomes da atual gestão foram retirados dos que têm direito a voto. Casos de Sonia Andrade (segunda vice) e Pedro Seixas (vice de obras). Os dois, assim como os demais 912 associados, receberam e-mail do clube orientado como proceder.
- A partir da identificação, a gente comunicou aos 912 que, para o clube, são sócios adimplentes, com direito a voto e que eles ingressem com recurso, uma impugnação na Junta Eleitoral. Os outros 50, ainda estamos estudando, mas nós vamos impugnar na Junta. O que não inviabiliza outras medidas a serem tomadas, que vamos avaliar internamente com o nosso jurídico para definir qual o melhor caminho a seguir. Vale lembrar que foram retirados dessa lista diretores e vices do clube, que têm a situação legalizada, regular e adimplente. Então, eu poderia admitir que isso trata-se de um equívoco se fosse a retirada de um ou outro. Mas quando se incluiu 50 nomes que jamais fizeram parte de qualquer lista, especialmente ligados a grupo político, me causa estranheza talvez no sentido de alterar o curso e o resultado da votação em novembro - finalizou Campello.
Monteiro: "Desfaçatez para encobrir o erro nos anistiados"
O ge entrou em contato com Roberto Monteiro. O presidente do Conselho Deliberativo afirmou que, na primeira reunião da Junta, ficou definido que o Vasco iria apresentar uma lista sem os anistiados, o que representaria uma redução de "quase 900 nomes". O dirigente não soube informar o motivo de isso não ter sido cumprido.
Desta forma, alegou Monteiro, o trabalho foi baseado na lista inicial da AGE com a seguinte ressalva:
- Na reunião de terça, eu disse: fica mais fácil o Vasco inserir os associados de julho/agosto de 2019 e os dados financeiros de julho/agosto de 2020. Porém, o Campello me apresentou uma nova lista. Eu tomei como base a lista da AGE. Lista, aliás, que queremos ter acesso faz tempo e só tivemos, com as informações financeiras, após decisão judicial.
Monteiro afirmou ainda que não tem interesse algum em favorecer o seu ou qualquer grupo político. Ele negou ter colocado 50 novos nomes na listagem e disse que eventuais erros, de qualquer parte, podem ser corrigidos na Junta de Recursos. Ou seja, no entender dele, é prematuro fazer qualquer acusação de dolo.
- Não teve troca de 50 por 50. Todo o nome retirado teve incongruência financeira. Eu vou querer favorecer o meu grupo? Eu não sou candidato, não inseri nada. Não são 50 votos que vão decidir a eleição. Quero saber quem é ligado a mim que entrou. Ora, cabe à Junta de Recursos impugna-los. É a Junta que decide, não sou eu. Eu defendo a lisura da lista desde o começo. Qual o benefício que vou ter se não sou candidato? Eu estou mexendo no interesse da muita gente na eleição, aí ocorrem essas situações.
Ao lembrar que Campello assinou a ata e a lista de sócios, Monteiro questionou a divulgação, por parte do presidente, das supostas irregularidades.
- Antes de divulgar, tem de recorrer. Antes de fazer juízo de valor de qualquer pessoa, que se questione na Junta de Recursos. Para se ter qualquer conclusão, tem de esperar o julgamento dos recursos. Isso é uma desfaçatez para encobrir o erro nos anistiados. São 750 nomes que o Campello e o Mussa querem colocar na lista, mas não podem. A votação de agora foi 4 a 1, e o Campello não se posicionou a favor dos anistiados. Se ele não o fez, como vai reclamar agora? - disse Monteiro, para completar:
- O sócio geral é uma categoria que não adquire o titulo de sócio. Ele é inserido em uma categoria que, passados os três meses de inadimplência, perde o título. E tem de comprar um outro. Ele foi inserido no sistema e foi colocada a data retroativa. O presidente não pode dar anistia a quem perdeu o título. Eles não têm regularidade
Por fim, Monteiro lembrou que, em duas reuniões da Junta para a AGO, houve falta de luz um São Januário, o que dificultou os trabalhos. Ele lembrou que muitos recursos não foram julgados para a AGE, o que pode ter induzido a erro na lista da AGO. E deu um exemplo: Leandro de Souza Moura, membro suplente do Conselho Fiscal e integrante da Identidade Vasco, ficou de fora e terá de recorrer.
- Não há nenhum interesse na causa. Há interesse em não legitimar a fraude eleitoral. Por exemplo, havia o nome da esposa do presidente Campello na lista e, por haver incongruência financeira, foi retirado. Eu não estou aqui dizendo que houve má fé. Se houve erro, com eventual recurso, a Junta vai corrigir - finalizou Monteiro.
Mussa diz que foi contra a lista
Procurado pelo ge, Faues Cherene Jassus, o Mussa, presidente da Assembleia Geral, lembrou não ter assinado a ata e a lista de sócios aptos a voto. Negou ter autorizado Roberto Monteiro a fazer a checagem da listagem, como dito por Campello.
"Não é verdade. Eu não concordei que o Monteiro deveria checar a lista. Isso é atribuição minha, mas os quatro presidentes não deixaram. Eu não assinei nada pois eles tiraram muitos nomes, a listagem mudou muito e eu desconfiei. Tem gente que votou na AGE e agora não poderá votar na AGO. Achei que tinha algo errado e não quis assinar. Não afirmo que houve má intenção, mas ao meu ver há erro.
O presidente Campello aprovou a lista, eu não assinei. Eu fui contra. A votação foi 4 a 1. Senti que tinha problemas, então, não quis fazer parte. Agora que ele está vendo isso? Por qual motivo ele não concordou comigo? Por qual motivo eu fui voto vencido?
Quem fazia as atas das reuniões que eu presidia era o João Riche. Mas os quatro presidentes foram contra. Eles colocaram em votação, e o Monteiro ganhou. Então, ele fez a ata. E também não é verdade a questão do e-mail. Eu quis desde o começo que os sócios pudessem fazer impugnações pelo e-mail".
A ata da Junta Eleitoral