Rio - Na jornada que culminou na volta do Vasco à Primeira Divisão, não faltaram heróis. Fernando Prass, Ramon, Elton e os garotos Alex Teixeira e Souza foram decisivos. Mas o grande comandante da nau cruzmaltina foi Carlos Alberto. Sem estrelismo, o meia chamou a responsabilidade para si na Série B. Em entrevista ao Ataque, o capitão revelou os momentos mais emocionantes da caminhada e deixou claro que quer levantar a taça.
ODIA: Colocar o Vasco na Série A foi o maior desafio de sua carreira?
Carlos Alberto: Muita gente falava que eu não tinha nada a ver com o rebaixamento do clube, que eu não tinha noção do que era jogar a Série B, mas era um risco legal de correr. E isso faz você ter novos sonhos, às vezes muda até o panorama da sua vida. Diziam para mim: Se você não conseguir ter uma sequência, se não conseguir impor seu ritmo de jogo se isso, se aquilo... Mas a pior coisa que poderia acontecer era eu passar vergonha. O cara pode ficar sem jogar por opção do treinador, mas duro é você entrar em campo e passar um ridículo. Ao mesmo tempo em que tem um horizonte de coisas boas ao lado, tem as inseguranças também. Mas graças a Deus, com a ajuda de todos, com a cumplicidade do grupo, eu vejo que valeu a pena me expor, lutar, me desgastar pelo clube e pelas pessoas que estão vivendo comigo este momento.
Você teve chances de deixar o Vasco no fim do seu empréstimo, mas preferiu ficar. Por quê?
No meio do ano, tive a chance de voltar para a Alemanha e recebi propostas de outros clubes. Mas o que mais pesou para mim foram as pessoas que comandam o clube. O presidente e o Dorival me diziam sempre: Se você sair hoje será um estrago muito grande. Meus companheiros me pediam para não ir embora, diziam que eu era importante e fazia a diferença. Só se o cara tiver um coração muito duro para não ser perceptivo a esse sentimento. Senti que tinha que brigar para estar aqui. Procurei viver ao máximo este momento. O ser humano vive a busca excessiva pela felicidade, e aqui eu encontrei essa felicidade.
Você não acha que encontrou a felicidade numa circunstância incomum?
Tem umas coisas muitas loucas na vida. Se você voltar cinco anos na minha carreira, vai chegar à época em que fui campeão pelo Porto da Liga dos Campeões e do Mundial. Jamais eu faria um prognóstico de que em 2009 jogaria a Série B pelo Vasco, isso seria um descenso, mas estou feliz aqui.
Você amadureceu muito, está centrado. Nem lembra os tempos de bad boy. A rebeldia acabou?
Eu nunca me senti esse bad boy. Quem me conhece há mais tempo pode dar uma opinião melhor sobre isso. Sempre fui muito claro e direto. Bad Boy significa menino mau e eu nunca fui assim. (risos)
Então você foi apenas um menino travesso?
Menino travesso é melhor. Como seria isso em inglês, menino maluquinho (risos)? Muitos dos problemas que tive é porque me abria, dizia o que acontecia. Só que as pessoas interpretavam os fatos de outra forma e isso gerou um desgaste.
Hoje você é bom menino?
Sou mais garoto do que nunca. Quero ficar com essa imagem sempre. É lógico que o menino precisa crescer em alguns momentos. Mas eu não preciso esbravejar como antes.
Você foi o grande comandante deste time?
É natural as pessoas de fora me rotularem assim. Mas tenho a ajuda de muitas pessoas aqui, O Tiago, o Fernando Prass, o Amaral... são caras que dividem comigo as responsabilidades, que correram riscos.
O acesso já é coisa do passado e o título vai ficar em São Januário?
O título é sempre a cerejinha do bolo de um trabalho. No início do ano, eu dizia, sem demagogia nenhuma, da minha convicção em chegar ao fim do ano com a vaga no Brasileiro e o título da Série B. Eu nunca ia fazer um prognóstico como esse sem ter alguma coisa para me basear. Sempre acreditei no grupo.