O Conselho Deliberativo do Vasco se reuniu ontem (7) de maneira híbrida para conhecer os principais pontos da proposta vinculante da 777 Partners, empresa que pretende comprar 70% da SAF cruzmaltina. Após uma apresentação da holding norte-americana, alguns conselheiros reclamaram da falta de mais riqueza de detalhes, já que não puderam ter acesso à íntegra do contrato. Porém, o presidente do órgão, Carlos Fonseca, garantiu que não há nenhuma mentira sobre o que foi dito na sessão, e que há uma Comissão de Estudos —formada por integrantes da situação e oposição— apurando os detalhes do acordo.
"Eu acho que tem mais dados, a Comissão tem que ver esses dados. As perguntas dos vascaínos são fundamentais para serem respondidas. Garanto que não há ninguém mentindo. Para garantir que não há ninguém mentindo, existe a Comissão que está olhando o contrato e vendo: 'Olha, isso que ele falou, está aqui', 'Olha, vocês podem confiar que o que está dito é o que está no contrato'... Eventualmente, pode dizer que é ruim, mas está no contrato", garantiu o presidente do Conselho Deliberativo, em entrevista coletiva após a sessão.
Questionado sobre uma possível falta de transparência por alguns conselheiros na sessão, Carlos Fonseca ressaltou as cláusulas de confidencialidade e afirmou que, caso tenham acesso à íntegra, verificarão que não há maiores novidades sobre o que já foi revelado.
"Temos ali uma tensão entre o que é transparência. O que é transparência? Mostrar todos os contratos? Colocar todos os principais pontos à prova? Essa tensão existe na sociedade. É um contrato por sigilo, um contrato comercial, mas acredito que, se pegar o contrato para ler, talvez se tenha uma certa decepção, porque são páginas e páginas sobre algo que todo mundo já sabe. Um conselheiro falou: 'nada foi dito de novidade'. Mas a intenção é que não se tenha novidade mesmo. A intenção é que as coisas estejam claras a ponto dos vascaínos não terem dúvidas", comentou.
O presidente do Conselho Deliberativo admitiu que alguns assuntos precisam ser mais detalhados, porém reforçou a importância do email criado pelo clube (duvidas.saf@vasco.com.br) para que todo o vascaíno possa sanar suas eventuais dúvidas.
"Acho que tem coisas que precisam ser mais mastigadas. Que coisas são? As coisas que estão sendo colocadas. Então achei muito saudável o email criado, que o vascaíno tenha oportunidade de colocar seu questionamento e que esse questionamento passe para um FAQ com o intuito de que se tenha o maior número de respostas possíveis", disse Fonseca, complementando:
"Ainda tenho curiosidade de ver a Diretoria Administrativa falando sobre a proposta. Que ela apresente a proposta. Ouvimos o proponente, agora quero ouvir o outro lado da mesa porque eu, como julgador, me interesso em ouvir os dois lados".
Eis aqui o depoimento de Josh Wander,sócio da 777,para o Conselho do Vasco:
— Bruno Braz (@brazbruno) July 8, 2022
“Nosso principal objetivo é preservar a história e identidade do Vasco,enquanto asseguramos que o clube terá todas as ferramentas e estrutura para ser bem-sucedido dentro e fora de campo por muitos anos” pic.twitter.com/tN66PvyMEW
Investimentos
"Os R$ 70 milhões do empréstimo-ponte já foram. Agora tem mais R$ 630 milhões. Esses R$ 630 milhões serão aportados em três anos a partir da assinatura. Assinou, vem o primeiro aporte de recursos."
"Tudo que é relacionado a futebol vai para dentro da SAF, não é da 777, é da SAF. Então a SAF vai vender um atleta que foi gerado ali no seu meio custando R$ 20 milhões de investimento do clube e vai vender por R$ 100 milhões. Esses R$ 100 milhões vão para a SAF para novos investimentos. Acho que fica muito poluída essa coisa do clube, da SAF...É do futebol. Deixa de pensar no clube, na SAF e pensa no futebol. É do futebol. Acho que esse é o ponto que as pessoas têm que se ligar."
Pagamento da dívida
"São três empresas completamente distintas: Vasco, 777 e a SAF Vasco. O Vasco coloca nessa sociedade seu potencial de receita, seus ativos do futebol, e a 777 coloca nesta empresa capacidade de investimento. Esses dois itens somados vão gerar uma capacidade nova de receita. Não vai ser o que o Vasco gera hoje e eu não sei quanto vai ser, justamente pelo potencial que esses investimentos vão trazer. Vai valorizar o time, tendo uma valorização, se tem uma capacidade maior de competir, tendo uma capacidade maior, eventualmente, você ganha. Ganhando, se obtém dinheiro de premiação. Isso tudo vai fazer com que o Vasco seja diferente. Diferente quanto? Como falei, o Vasco tem um paradigma de receita, R$ 1 bilhão são os que os principais clubes do Brasil hoje recebem. O Vasco pode chegar nesse paradigma? Ultrapassar? Aí é uma avaliação individual em relação a este paradigma."
"Estes recursos que o Vasco irá gerar, por essa mistura de operação do futebol com os investimentos que irão chegar, é que pagaria a dívida. Então, a 777 não tiraria dinheiro do bolso deles para o pagamento da dívida. O dinheiro para o pagamento da dívida sairia desse misto que é a operação com o aporte."
"A dívida é ao longo do tempo. O Vasco passou recentemente por dois processos muito importantes de reestruturação da dívida. Um foi o RCE [Regime Centralizado de Execuções], ou seja, todas as dívidas judicializadas foram compiladas num grande programa de refinanciamento, e isso será pago em dez anos. Como em dez anos? A SAF, por força da lei, se for constituída, vai ter que mandar 20% da receita dela para pagar o RCE, e se em seis anos amortizar pelo menos 60 % do RCE, ganha-se mais quatro anos para pagar os 40% restantes. Então a gente tem um prazo limite de dez anos para pagar o RCE. E se quiser acelerar o pagamento? Por lei, pode ser acelerado se o credor der um deságio, um desconto na dívida."
"Mas o RCE é um pedaço da dívida do Vasco. O Vasco tem outras dívidas. Quais são? Dívidas normais, correntes, de antecipação de programa de sócios, pega hoje, paga amanhã... Dívida de capital de giro. Você tem a dívida tributária que também é de longo prazo, que não faz sentido porque a tributária já conseguiu todos os descontos na negociação. E outras dívidas não ajuizadas, gerais."
"Como vai ser pago? Não sei, mas sei que sai dessa mescla do que o Vasco vai receber com os investimentos que a SAF irá fazer. Porque isso aqui, com o passar do tempo vai se fundir, vai se transformar no Vasco da Gama Sociedade Anônima de Futebol. Vai parar de falar da 777, do Vasco e vai falar do Vasco SAF."
Convocação da AGE (votação dos sócios)
"Essa é a famosa divisão entre pressa e urgência. Eu tenho urgência, não tenho pressa. Não quero fazer a qualquer custo como algumas pessoas colocam. Eu quero fazer desde que o vascaíno tenha compreensão do que ele quer. Me parece que há uma convergência de entendimento do sócio e do torcedor vascaíno, mas a gente precisa cumprir com todos os ritos até chegar na tomada desse voto. A gente trabalha, inclusive eu, com a data a partir de 25 de julho, que é a primeira data da janela possível dada a convocação da Junta Deliberativa no dia 5. Se escorregar muito disso, a janela [de transferências] fica meio comprometida, porque como falei, tem que registrar, abrir CNPJ, conta no banco para poder contratar com a nova conta... A gente está ciente disso, mas não vamos cometer atropelos de viciar o processo ou puxar uma votação que, de repente, diga não porque os sócios não estão devidamente esclarecidos. Tem sempre que calibrar. Eu gosto do voto consciente, sabendo dos riscos, do que era. Votou sim ou não, mas fez o que queria fazer."
"Se der para aproveitar a janela de transferências cumprindo o rito, bacana. Se não puder, vai ser no tempo que necessitar. Podem ter medidas alternativas? Imagino que possa. Cabe a Diretoria Administrativa descobrir quais são e realizar. Eu acho que a janela não pode ser uma faca no peito do vascaíno porque vai fechar. Não é esse tipo de voto que eu quero."