Jogador que mais vestiu a camisa do Vasco, com exceção de Roberto Dinamite, Carlos Germano está há dois anos afastado dos gramados. Não por falta de convites, mas por um ideal. Assim como uma noiva que sonha com o dia de subir ao altar, o goleiro se resguarda a fim de dar final feliz a uma história de amor. Desde que rompeu com o Penafiel, de Portugal, ele recebeu propostas de clubes das Séries A, B e C. Porém, acha que só há um lugar para pendurar as luvas: em São Januário.
- Jogo no Vasco até de bengala. É só os dirigentes me convidarem. Não queria atuar por muito tempo. Basta um Estadual ou uma partida festiva para eu me aposentar feliz da vida. Conversei com o Paulo Angione e o Eurico (Miranda) há cerca de um mês, e eles ficaram de me dar uma resposta. Queria colaborar com o clube seja como goleiro, preparador de goleiros ou coordenador das divisões de base - admite Carlos Germano, de 37 anos, que envergou a camisa cruzmaltina 632 vezes (além das 87 como amador) contra 1.108 jogos de Roberto Dinamite.
São Janu ao Maraca
Ao lado da esposa Ana Luzia, Carlos Germano conta que não perde um jogo do Vasco. E ainda se quisesse esquecer do clube que o projetou, acha que não seria possível. Pois as filhas Ana Carolina, Ana Clara e Ana Cristina fazem questão de lembrá-lo, além das duas primeiras guardarem na lembrança as vezes em que entraram em campo de mãos dadas com o pai em São Januário. Magia que faz com que o goleiro considere o estádio da Colina mais aconchegante que o Maracanã.
- Diferentemente do Romário, não queria uma despedida no Maracanã. Prefiro em São Januário, onde passei a minha adolescência. Morei na concentração dos 14 aos 20 anos. Foi lá que adquiri disciplina, por causa dos horários rígidos de almoço, lanche e janta. Como num exército, quem se atrasasse ficava sem a refeição e tinha que se alimentar na rua. Luxo? Nem pensar. Dormia em um quarto de seis beliches, com mais 11 candidatos a jogador de futebol - recorda Germano, que prometeu levar a filha mais nova, Ana Cristina, em um jogo do Vasco para que a menina, como as irmãs, sinta a emoção de entrar em campo com o time.
Tarado por treino
Em meados deste ano, a saudade da bola falou mais alto. E Carlos Germano ensaiou algumas defesas no campo do CFZ. Não que ele tenha disputado a Segunda Divisão do Campeonato Carioca pelo time de Zico. Mas para se reciclar, o goleiro que, por dez anos foi titular do Vasco, fez estágio de \"preparador de talentos\".
- Sempre gostei de treinar. Em São Januário, era o primeiro a chegar e o último a sair de campo. A ponto de o Jair Bragança (preparador do goleiro na década de 90) implorar para eu diminuir o ritmo. O Acácio era assim. Aprendi com ele e ainda hoje não resisto a um treino de bolas paradas, por exemplo. Agora, quero descobrir promessas do gol no Vasco, após essa passagem pelo CFZ. - garante o goleiro, que não abre mão de uma pelada disputada às segundas-feiras.
Quase flamenguista
Carlos Germano relembra de quando quase foi parar no Flamengo. Só não vestiu a camisa rubro-negra por que na hora \"amarelou\". Embora as negociações já estivessem bem adiantadas, ele preferiu preservar a identidade cruzmaltina.
- Em 97, o Kléber Leite depositou o valor do meu passe na Federação. E queria que eu assinasse com o Flamengo por três ou quatro anos. Na hora h, eu disse que não era possível. Os torcedores vascaínos morreriam (risos). Em todos os outros clubes que atuei (Santos, Portuguesa, Internacional, Botafogo, América e Madureira), com exceção do Penafiel, enfrentei o Vasco. Mas vestir rubro-negro nem pensar. Já basta a vergonha que passei na época em que defendi o Botafogo e a torcida vascaína não parava de gritar meu nome. Queria acenar para quem me saudava e não podia - diz, às gargalhadas.
Lista dos 10 jogadores que mais atuaram pelo Vasco
Jogador | Jogos |
Roberto Dinamite | 1.108 |
Carlos Germano | 632 |
Sabará | 576 |
Alcir Portela | 511 |
Barbosa | 485 |
Mazarópi | 477 |
Pinga | 466 |
Coronel | 449 |
Paulinho de Almeida | 436 |
Bellini | 430 |