No último dia 24, os jogadores do Vasco encerraram uma greve que durou cerca de um mês. A forma de protestar contra os recorrentes salários atrasados no clube foi adotar a "lei do silêncio", quando passaram a não mais conceder entrevistas em jogos, coletivas, zonas mistas ou exclusivas. Capitão da equipe, o zagueiro Leandro Castan revelou ao UOL Esporte que a decisão de pôr fim ao ato foi unânime no elenco.
"Foi decisão em conjunto. Eu não decido nada sozinho no Vasco. Eu sou o capitão, que usa a faixa ali, mas o nosso grupo é bem unido e todas as decisões tomamos juntos. Quando decidimos fazer isso [protesto], era para dar um sinal para fora de que as coisas não estavam legais. A gente sempre tentou proteger ao máximo o clube, a diretoria, e quando o presidente conseguiu pagar uma folha para todos os funcionários e para nós - apesar de que tem alguns que recebem imagem e não receberam - achamos que era o momento em que deveríamos voltar a falar, até porque é um momento que o país vive dificuldade, então, a gente precisava pôr fim nisso", explicou.
Atualmente, o Vasco deve aos jogadores os salários de janeiro e fevereiro, além dos direitos de imagem que não são pagos desde setembro para quem recebe. Já aos funcionários, a dívida é dezembro e férias (para quem recebe acima de R$ 1,8 mil), além dos vencimentos de janeiro e fevereiro.
Após o movimento de greve do elenco, Leandro Castan espera que o Vasco resolva de uma vez as questões extracampo para voltar aos tempos de glória:
"A gente torce para que isso nunca mais aconteça, porque é muito ruim, não só para o clube, mas para os atletas também. Espero que as coisas fora de campo também se encaminhem e se endireitem porque é um clube que não pode ser acostumado a ter essa fama de não pagar, disso, daquilo... É um clube que temos que lembrar o que de bom ficou no passado, com tantos títulos, tradição, história... Isso que a gente tem que se apegar e torcer para que essas coisas fora de campo também se resolvam".
Castan cita atrasados ao comentar possibilidade de redução de salários
Com os campeonatos suspensos e ainda sem previsão de retorno por conta da epidemia do novo coronavírus, os clubes avaliam a possibilidade de reduzir os salários dos jogadores enquanto o futebol estiver paralisado. Presidente do Vasco, Alexandre Campello já sinaliza com a ideia de discutir a questão caso a paralisação permaneça após as férias decretadas de hoje (1º) até o dia 20 de abril.
"Eu entendo que o atleta de futebol não quer ter redução dos salários, mas precisamos entender que toda a sociedade vai perder com isso. Se houver uma paralisação para além do período de férias, vamos ter que discutir redução de salários. Não existe toda a sociedade perder e os jogadores e comissão técnica não passarem por isso", disse durante participação no programa "Os Donos da Bola", da Band.
Castan, porém, é mais cauteloso. Como capitão da equipe, o zagueiro lembra que o futuro da pandemia ainda é muito incerto e que há salários atrasados a serem pagos antes de se discutir tal hipótese.
"Temos conversado sobre esse assunto. É um assunto muito delicado. Acho que tem que ser tratado com calma, pouco a pouco. Não adianta você pensar daqui a 90 dias porque não se sabe o que vai acontecer. Então, a gente, principalmente aqui no Vasco, tem conversado com o presidente. Para nós, os meses de abril, maio e junho ainda estão distantes porque ainda temos salários atrasados. A gente primeiro precisa colocar o que está para trás em ordem para depois pensar no que tem que fazer e como ajudar o clube. Acho que isso vai ser uma coisa que cada clube vai decidir com seus atletas, porque a situação financeira de cada clube é diferente uma da outra, mas tenho certeza de que no final se chegará a um consenso, algo que seja bom para todo mundo", frisou Castan, que fez ainda uma ressalva:
"Acho que, no momento, a principal coisa é não querer tirar vantagem de nada, porque é uma catástrofe isso [pandemia], é algo muito ruim para o todo. Então, nesse momento, temos que ser inteligentes, ter muito bom senso e saber que ninguém leva vantagem sobre ninguém. Temos que estar todos juntos para que as coisas possam melhorar e a gente consiga vencer essa epidemia. Mas foi como falei: aqui no Vasco, os meses de maio e junho estão longe para pensarmos nesse assunto. Tem alguns meses para trás para depois estarmos pensando nisso."
Saída de Abel: 'Todos devem se sentir culpados'
No bate-papo com a reportagem, Leandro Castan também avaliou a saída do técnico Abel Braga, no início deste mês, após muita pressão dos torcedores e da crítica. Em sua análise, todos os jogadores do Vasco também devem se sentir culpados:
"Sempre ficamos tristes. Até falo para a rapaziada que quando um treinador sai do time, todos os jogadores devem se sentir muito culpados também, porque a responsabilidade não é só do treinador, é dos atletas também. Temos que ficar tristes porque não deu certo o trabalho com a gente, temos que assumir a responsabilidade também. É um treinador consagrado, e eu gosto muito de trabalhar e estar perto de pessoas vencedoras, porque com certeza elas te ensinam alguma coisa. Então, fica o agradecimento ao Abel e a lamentação que não tenha dado certo. Desejo boa sorte no futuro para ele."