Caminho mais curto para a Libertadores da América, a Copa do Brasil de 2011 começa nesta quarta-feira igual as de 2010, 2009, 2008, 2007... E não será apenas pela grande quantidade de jogos - 15 durante o dia - ou pelos 64 times que a disputam [desde 1999], mas principalmente pelo fato de os chamados grandes clubes do país sempre visitarem, no geral, os mesmos estados desde o seu início, em 1989. É o que mostra levantamento feito pela reportagem do ESPN.com.br.
As 23 edições da segunda mais importante competição nacional não tiveram um sorteio feito às claras, de forma a possibilitar qualquer tipo de duelo já na primeira fase, como, por exemplo, um Palmeiras x Flamengo ou São Paulo x Vasco, por exemplo, o que joga por terra a pecha de campeonato mais democrático do país. O que ocorre é exatamente o contrário, com a definição da tabela inicial parecendo ser algo já pré-estabelecido, faltando apenas determinar dias e horários.
Senão, vejamos: estados como Piauí, Sergipe, Paraíba, Mato Grosso do Sul e Espírito Santo foram agraciados ao menos 15 vezes cada com a presença de um dos 12 maiores times da federação, enquanto Amapá, Roraima e Tocantins tiveram o mesmo privilégio em apenas uma única oportunidade em 23 anos de disputa.
Se restringirmos a análise aos cinco clubes de maior torcida, Flamengo, Corinthians, São Paulo, Palmeiras e Vasco, a evidência de que a CBF monta os confrontos iniciais a seu gosto é ainda maior, com Piauí, Paraíba, Sergipe e Alagoas sendo os mais beneficiados ao longo da história. Os piauienses, de longe os mais presenteados, receberam uma destas cinco agremiações em 14 oportunidades; os paraibanos, 11, os sergipanos, nove, e os alagoanos, oito.
Algumas mudanças de tratamento e curiosidades também chamam a atenção ao longo dos anos. Embora tenha na maioria das vezes um dos 12 grandes em seu território, o Espírito Santo só recebeu uma vez um dos mais abastados em torcida, na ocasião, em 1996, o maior deles, o Flamengo. No mais, hospedou Cruzeiro, Atlético-MG, Grêmio..., que nem de longe têm o mesmo atrativo de público e, consequentemente, renda.
Mas os capixabas parecem ter perdido prestígio junto à entidade que rege o futebol no país, já que desde 2005 não têm conseguido o mesmo tratamento de antes. O Rio Grande do Norte passa pela mesma situação, não sabendo mais o que é ter Corinthians, Flamengo ou Cruzeiro, como já acontecera antes, desde 1997.
Uns perdem, outros ganham prestígio. É o que se observa com Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, que a partir de 1999 praticamente não saíram mais da rota dos 12 grandes. No entanto, só tiveram, respectivamente, um dos cinco gigantes de público em apenas quatro e cinco oportunidades cada. Neste ano, o Vasco será o chamariz no confronto diante do Comercial-MS. O estado vizinho terá de se contentar com Guarani e Ceará.
CBF diz usar ranking nacional para definir confrontos, mas critério não bate com a tabela
Responsável pela organização da Copa do Brasil, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) mantém um ranking nacional de clubes que atualiza ao final de cada ano para usá-lo no seguinte. É o posicionamento de cada time nesta tabela que a entidade afirma usar como critério para definir os confrontos iniciais da competição.
\"São 32 equipes mais [bem] ranqueadas contra 32 equipes menos ranqueadas. Este é um padrão que a gente usa em todas as Copas. Então, o Flamengo tem um ranking melhor que o Murici-AL, então ele joga com o Murici na condição de visitante, fora de casa, porque assim o favorito tem a possibilidade de eliminar o jogo de volta\", explicou à reportagem um membro CBF que pediu para não ter seu nome citado.
O problema é que o argumento não se sustenta. O Ranking Nacional dos Clubes (RNC) de 2011 [fechado em 06 de dezembro de 2010] contempla 419 agremiações e atribui pontos apenas aos que já participaram da Copa do Brasil ou de uma das quatro divisões do Campeonato Brasileiro. Assim, algumas equipes, como o River Plate-SE, sequer aparecem na tabela.
Excluindo-se times na mesma situação dos sergipanos e comparando o posicionamento dos clubes que de fato constam no ranking, vemos que há algo, no mínimo, errado com o critério. Não fosse isso, seria impossível o Coritiba, 15º na tabela da CBF, jogar contra o Ypiranga-RS, apenas o 271º, enquanto o Goiás, 13º, portanto melhor posicionado que os paranaenses, tem como adversário o Vitória-ES, 125º, mais bem colocado que os sulistas.