Nesta sexta, dia 5 de outubro, funcionários e jogadores do Vasco não vão receber seus salários. Os problemas financeiros do clube, agravados pela impossibilidade de receber o empréstimo de R$ 31 milhões, já mexem com o dia a dia, tanto do CT do Almirante como em São Januário. Se a previsão pessimista do presidente Alexandre Campello se confirmar, a tendência é piorar. E rapidamente.
Os funcionários que recebem até R$ 4 mil não foram muito impactados - embora o clube ainda tenha débito de dezembro e do 13º salário de 2017. Mas a crise em breve vai atingir forte também os que têm os menores salários.
Nos bastidores, há quem diga que o dinheiro do ano passado só será visto na conta sabe se lá quando, e muito provavelmente através da Justiça.
Entre os jogadores, que entram no segundo mês de atraso, a situação é tema recorrente de conversas e lamentações, mas com os atletas honrando compromissos.
E se o presente é sombrio, a falta de perspectiva de melhora imediata e de qualquer previsão de quando a asfixia financeira poderia dar um alívio, torna o ambiente pesado. Há o temor de que o exemplo de Wagner, que rescindiu seu contrato na Justiça, seja seguido por outros, principalmente os que recebem direito de imagem e convivem com este problema desde o ano passado.
- Dia 5 está vencendo mais um mês. Muito provavelmente não conseguiremos pagar. Temos trabalhado incessantemente para que as coisas aconteçam. Sem o empréstimo, fica muito difícil manter os compromissos em dia. Vamos conseguindo daqui e dali, mas inevitável que algum atraso ocorra. Sem empréstimo, sem previsão para pagar - confessou Campello.
No departamento médico, "jeitinho" para driblar a crise
Os fisioterapeutas às vezes compram do próprio bolso alguns tipos de material que necessitam no dia a dia - o clube alega que esta é uma prática antiga, e que faz o reembolso aos funcionários. Os médicos também tentam driblar as dificuldades, como a falta de pagamento a alguns fornecedores, usando seus conhecimentos. O mesmo acontece com equipamentos e exames.
Jogadores compram cestas básicas
Muitos funcionários já estão no vermelho, em situação complicada principalmente por causa de empréstimos que contraíram no fim de 2017. Alguns têm recebido ajuda de jogadores. Recentemente, parte do elenco fez uma "vaquinha" e comprou cestas básicas para distribuir.
Ônibus que fazia o trajeto São Januário-CT é suspenso
Com os treinos no CT do Almirante, o Vasco passou a oferecer um ônibus para levar funcionários de São Januário a Vargem Pequena, na Zona Oeste, mas recentemente foi cancelado. O trajeto tem cerca de 36km e tem sido feito por quem trabalha no futebol profissional do Cruz-Maltino por conta própria. Além da questão financeira, há quem diga que alguns atrasos também motivaram a decisão.
Na base, problemas ainda maiores
* Recentemente a bomba de água da lavanderia quebrou, e alguns treinos tiveram que ser suspensos. O material foi lavado fora do clube.
* Exames médicos na chegada de reforços para a base não são realizados mais pelo clube. A compra de suplementos alimentares para os atletas também foi cancelada.
Consultado pelo GloboEsporte.com sobre os problemas, o Vasco respondeu com o discurso que virou mantra de Campello:
"Mediante o esforço da atual gestão no sentido de adequar as finanças do Clube, naturalmente aumentando as receitas e diminuindo as despesas, o Vasco da Gama conseguiu manter os salários dos funcionários em dia até o mês de julho - sendo que, dos funcionários que recebem até R$ 4 mil, os vencimentos estão todos em dia até o presente momento. O empréstimo, conforme pontuado no Balanço divulgado no dia 30 de abril, sempre foi tratado como fundamental para o Clube honrar 100% de seus compromissos até o fim do ano. Por irresponsabilidade de determinados grupos políticos, o empréstimo só foi aprovado pelo Conselho Deliberativo 30 dias depois da primeira tentativa, o que, por conta do aumento dos juros, gerou uma perda de R$ 7 milhões. Quando o aporte, enfim, entraria nos cofres do Clube, uma liminar concedida pela Justiça atrasou novamente a operação. Fatos colocados, o Presidente Alexandre Campello tranquiliza sócios e funcionários e garante que está empenhado em resolver o mais rapidamente possível os problemas causados pelos referidos atrasos".
Futuro sombrio e eleição sem fim
A aposta agora fica por conta da tentativa de cancelar na Justiça a liminar que anula as últimas eleições. Algo que, caso aconteça, dificilmente será com a rapidez desejada pela atual diretoria.
- O empréstimo está inviabilizado, porque o banco não fecha o contrato com essa liminar. Sem empréstimo o clube fica asfixiado. Essa liminar inviabiliza o clube. Como eu fecho um patrocínio se a minha decisão poderá ser revogada em dois meses? - disse Campello.
Na decisão de anulação da última eleição, o novo pleito foi marcado para dezembro deste ano. Além da própria diretoria do Vasco, os três subscritores da Chapa Azul (João Carlos Nóbrega, Fernando Lima e Marco Antonio Monteiro) entraram com petição pedindo inclusão no processo como parte interessada. Eles já haviam pedido efeito suspensivo da liminar.
Em meio a esta indefinição, os grupos políticos se movimentam intensamente em busca de alianças para formar as chapas. Ninguém até o momento confirmou oficialmente a candidatura.