Se todos os ingressos forem vendidos e todas a gratuidades utilizadas para o primeiro jogo da final do Estadual hoje, às 16h, no Nilton Santos, entre Flamengo e Vasco, os times jogarão para um público de 41 mil pessoas. Sem dúvida nenhuma, bom número nos dias atuais. A história, porém, mostra que o “Clássico do Milhões” — nome dado por reunir muita gente — merece um borderô melhor. Por 18 vezes, um Flamengo x Vasco já recebeu um público três vezes maior que a lotação máxima de hoje. Por duas vezes (uma em 1974, outra em 1976), o quádruplo de gente assistiu in loco ao duelo. Dados de um tempo que não volta mais.
Faz 20 anos que o futebol brasileiro não registra um público maior do que o de 100 mil pessoas em um jogo de futebol — algo impossível hoje devido à redução das capacidades dos estádios. A lista com as 278 partidas que conseguiram tamanho público mostra a importância e a capacidade de arrastar multidões do clássico que hoje decide — com emoção, mas sem tanto charme — um resistente Estadual.
De 1950 a 1999 — metade de século gloriosa para os grandes públicos do futebol no Rio e no país —, Flamengo e Vasco jogaram 44 vezes para mais de 100 mil. Nenhum duelo teve mais. O Flamengo é o único clube a entrar em campo mais de 100 vezes com tanta gente nas arquibancadas, e o Vasco vem logo na sequência no ranking.
Maracanã domina
Em duas décadas, tanto o esporte como o modo de assisti-lo mudou, mas alguns números deixam claro que a hipérbole de chamar o clássico de “dos milhões” ficou ainda mais exagerada. O Carioca de 1999 foi o último com públicos superiores a 100 mil: foram três jogos, incluindo um Flamengo x Vasco. A média foi superior a 28 mil pessoas, quatro vezes maior que a de 2019, que não chega a 8 mil.
— Quanto mais público melhor para o jogador, para o espetáculo. Hoje diminuíram a capacidade dos estádios. Quando eu jogava no Athletico-PR, eram sete metros da primeira cadeira até a linha lateral. No Maracanã, antigamente eram 120 metros do lugar mais em cima até o gramado. Hoje são 180 — lembra, com saudade, Alberto Valentim, técnico do Vasco na final de hoje, que confia na presença da torcida, apesar do estádio menor e mais distante.
Nada menos que 77% dos jogos com mais de 100 mil pessoas no futebol brasileiro aconteceram no Maracanã, o palco natural de um clássico como o de hoje. A mudança da primeira final para o Nilton Santos — espécie de boicote do Vasco, mandante, ao tradicional estádio devido ao acordo para permissão de uso a Flamengo e Fluminense por 180 dias — é só um dos fatores que levarão ao inevitável esvaziamento da partida.
Seguindo a onda de quebra de tradições, o Vasco exerceu seu direito e não perdoou nem as mais recentes. Inverteu os lados em que as torcidas costumam ficar no estádio do Botafogo. A notícia gerou preocupação no Flamengo e na Polícia Militar, que temem trabalho dobrado para evitar episódios de violência antes, durante e depois da partida de hoje. O clima de rivalidade, acirrado pelos últimos episódios, preocupa, e o policiamento será reforçado. A segunda partida, marcada para domingo que vem, no mesmo horário, será no Maracanã.
A expectativa é que, pelos inúmeros fatores que envolveram a preparação para o jogo, o estádio fique longe de estar lotado. Até o início da noite de ontem, menos de dez ingressos tinham sido vendidos.
— A motivação para nosso elenco tem que ser muito grande. Clássico e final todos querem estar presentes. Temos que nos preparar e mentalizar para fazermos dois bons jogos. Seja no Nilton Santos ou no Maracanã, temos certeza que vai ser um jogo pegado — diz o uruguaio Arrascaeta, não fazendo questão do estádio que tem como maior público registrado as quase 200 mil pessoas que viram sua seleção ser campeã mundial em 1950.
Entre as tradições mantidas, ainda que por acaso, está a da decisão ser entre o campeão da Taça Guanabara, o Vasco, e da Rio, o Flamengo, que decidem quem será mais um campeão carioca em dois domingos de futebol. Ainda que com menos gente assistindo, o espetáculo continua.