Torcida

Clubes ajudam a financiar a violência das torcidas organizadas

Um velho ditado da cultura brasileira ensina: “Filho feio não tem pai”. Órfãs, as organizadas se multiplicaram e ganharam força nos clubes. Mas, quando protagonizam incidentes como os das últimas duas semanas, que culminaram na morte do vascaíno Diego Martins Leal, ficam sem o apoio dos cartolas, que se afastam da responsabilidade e jogam sobre as costas do poder público a garantia de segurança nos eventos.

— Quem precisa fazer a segurança é a polícia, o Corpo de Bombeiros, as autoridades públicas — dizem os presidentes Mauricio Assumpção (Botafogo) e Roberto Dinamite (Vasco), em oposição ao que determina o Estatuto do Torcedor, que define o mandante como um dos responsáveis pela segurança.

Segundo o Ministério Público, só o Alvinegro, entre os quatro grandes cariocas, não mantém uma política de cessão e subsídio de ingressos às organizadas. Acordo que os próprios dirigentes, com ressalvas, admitem de forma velada e confusa. Dinamite reconhece \"um desconto\". Patricia Amorim, do Flamengo, ajuda as organizadas nas caravanas, mas é acompanhada por cartolas que falam diferente: Walter Oaquim, vice de relações externas, afirma que \"eles pagam meia\"; Paulo Cesar Coutinho, vice de futebol, conta que, às vezes, até dá ingressos: \"Não adianta de nada ficar com um bolo de ingressos na mão e ninguém no estádio. Queremos apoio nas arquibancadas, de organizadas ou não\", pede.

Só o Fluminense se posiciona de maneira aberta sobre o contato com as organizadas: o marketing do clube criou um sistema de cards recarregáveis — para coibir cambistas. A cada jogo, um número variável de ingressos (de 400 a 1.500) é repassado a sete agremiações, que podem vendê-los pelo preço que desejarem. E mesmo fazer outros usos dos bilhetes:

— Meu filho não é da Young Flu, ele só vai lá porque dão ingressos de graça — revela a mãe de um dos 21 presos no complexo de Bangu pela agressão a dois vascaínos, sábado passado.

Com o apoio dos clubes, as organizadas financiam viagens, materiais de arquibancada, como bandeiras e instrumentos musicais, e negociam apoio com os dirigentes — o Botafogo reserva um espaço nas lojas do clube para que as organizadas vendam produtos. Assim, perpetuam uma relação ambígua até com os patrocinadores das equipes, que ajudam a bancar comemorações, caravanas e faixas. Quando a relação se converte em violência, reina o silêncio.

O problema é que, na hora de acertar as contas nos borderôs, não existe distinção entre o que é de graça e o que é pago. E os clubes sempre arcam com os prejuízos.

Torcedores do Fluminense foram detidos por agressão a dois vascaínos Foto: Domingos Peixoto


Uma lista de tamanho incerto

A nove meses da Copa das Confederações, as autoridades públicas e privadas do esporte carioca ainda não chegaram a um consenso sobre um quesito fundamental da segurança nos estádios: a lista de banidos dos jogos.

No empurra-empurra, ninguém assume a responsabilidade. Para o tenente-coronel João Fiorentini, do Grupamento Especial de Policiamento em Estádios, é uma lista \"extensa\", mas inacessível ao Gepe. Já para Marcelo Viana, diretor de competições da Federeção de Futebol do Rio (Ferj), é \"pequenininha\" e está afixada em cada entrada dos estádios.

O Tribunal de Justiça do Rio, por outro lado, põe a conta no nome da CBF — que seria a responsável por repassar a lista à polícia. Mas a entidade, questionada, afirma que só detém o poder de repassar a lista de banidos à... Ferj. Um mistério.

Policiais prendem torcedores de uma organizada do Vasco em Niterói Foto: Domingos Peixoto


Legislação mais dura

Em conjunção com as medidas adotadas pelas polícias Civil e Militar para coibir a violência no futebol, como a criação de um subgrupo exclusivo para investigar as organizadas, uma revolução legislativa caminha — a passos lentos — em Brasília. A Câmara dos Deputados e o Senado discutem uma ampla reforma no Código Penal brasileiro, que é de 1940.

Sancionado por Getúlio Vargas no Estado Novo, o documento não comporta situações como os crimes de internet e as falsificações eletrônicas e se enquadra em um período no qual não havia campeonatos nacionais de futebol no Brasil, por exemplo, nos moldes grandiosos de hoje — e nem organizadas que atuam como empresas.

— Temos uma preocupação não só com a violência nos estádios, mas com a violência como um todo. Na reforma, pretendemos endurecer as penas a crimes que usam a violência e aumentar investimentos em inteligência, para evitar brigas marcadas na internet, por exemplo — argumenta o deputado federal Alessandro Molon (PT-RJ), relator da reforma do Código Penal na Câmara.

Enquanto isso, o Senado convocou uma equipe de 17 juristas para elaborar um outro projeto de renovação do Código Penal, arquivo que está sendo analisado há dois meses por uma comissão especial da Casa e inclui mudanças em questões como o aborto e a eutanásia. As duas propostas precisam se integrar para que, futuramente, haja a reforma legislativa.

Um dos principais pontos da mudança do Código Penal é o aumento da punição de crimes hediondos, como o homicídio e o latrocínio. Atualmente, a pena mínima para quem comete um assassinato é de seis meses.

Números da violência

Clássico de milhares: de acordo com Cadu Moura, diretor de arenas do Fluminense, sempre há acordo entre dois clubes cariocas para que haja repasse igual de ingressos às organizadas. No Fla-Flu do centenário, por exemplo, foram cerca de 800 para cada equipe. Bilhetes que, somados, oscilam entre R$ 30 mil e R$ 60 mil.

Os banidos de 2011: a relação mais recente da CBF de banidos dos estádios brasileiros conta com apenas nove torcedores e data de 19 de julho de 2011. Sendo que, nos últimos doze meses, só o Gepe deteve 400 pessoas.

Do lado de fora: desde agosto de 2011, o Ministério Público já suspendeu torcidas organizadas do Rio em 21 ocasiões. A Força Jovem do Vasco e a Jovem Fla estão proibidas de entrar nos estádios por seis meses. Agora, a Young Flu pode ficar até três anos banida.

Fonte: Blog Jogo Extra - Extra
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