Futebol

Clubes evitam aviões comerciais por pacotes fretados na Série A

Parece coisa de país e de clubes ricos - o que está longe de ser o caso -, mas o Brasileiro 2020, marcado pela pandemia e paralisação que forçou adiamento do início da competição em 98 dias, tem um predicado a mais: é também o campeonato dos voos fretados.

Pelo menos 12 times já usaram do expediente nesta Série A. Nos casos de Atlético-MG, Bragantino, Flamengo, Goiás, Palmeiras, Vasco e São Paulo, os clubes fecharam pacotes – o Galo e o Tricolor paulista têm negociado com as companhias aéreas em pequenos pacotes, mas os demais compraram com valor pré-determinado até o fim da Série A.
 

O fretamento de voos no futebol – e no esporte em geral - está longe de ser novidade. É comum que os clubes decidam realizar maior investimento em reta final de competições, para privilegiar a privacidade dos atletas, a recuperação física e também facilitar a logística.

Mas a excepcionalidade de 2020 levou a união de dois fatores e um complicador neste bolo: clubes necessitados de melhorar logística com jogos de três em três dias e isolar atletas de voos comerciais, com mais riscos de contaminação; companhias aéreas com frota ociosa em aeroportos e queda livre de demanda (em abril e maio, de acordo com a Associação Brasileira das Empresas Aéreas, a queda foi de mais de 90% em comparação com os mesmos meses de 2019).

O fator complicador? A crise das companhias aéreas diminuiu a oferta de malha aérea para capitais do país. Para viajar para Goiânia, o São Paulo teria que ir na sexta de tarde e voltaria na segunda à tarde. Neste período, perde recuperação de atletas, tempo para treino e gasta com alimentação, hospedagem e, eventualmente, aluguel de campo.

Para se ter ideia, voos domésticos levaram apenas 399 mil passageiros em abril deste ano. Em abril de 2019, foram mais de 7 milhões transportados pelo país

Todo ano, a CBF, através da empresa Pallas, fornece verba de logística, que comtempla, normalmente, 33 pessoas – ou seja, 33 passagens. O pacote da CBF tem tabela de voos que passa pela patrocinadora Gol (com desconto). No entanto, os clubes sempre completam o restante para levar cerca de 40 pessoas em voos comerciais. Neste Brasileiro, algumas companhias aéreas, como a Azul, ofereceram pacotes econômicos.

O Vasco contabiliza acréscimo de custo de R$ 480 mil pelo fechamento do pacote com a Azul por voo fretado. O vice-presidente de finanças do Vasco, Carlos Leão, explicou a operação e os motivos da decisão do clube para oferecer este conforto aos jogadores – o que permitiu ao clube levar até chef de cozinha e auxiliar do restaurante de São Januário para viagens. Em média, R$ 33 mil por "perna" - trajeto de voo (só ida).

- Tínhamos orçado R$ 2.190 milhões pelas 16 rodadas de voos (menos os três clássicos com jogos no Rio). Com os fretados vamos gastar R$ 2.670 milhões. Seria R$ 1 milhão a mais, mas os voos fretados nos permitem economizar em hospedagem (já que voltamos muitas vezes no mesmo dia), receptivo, alimentação... Então, nossa conta é de R$ 480 mil de acréscimo de custo. Isso nos dá vantagem esportiva e os jogadores ficaram muito satisfeitos – observa o dirigente vascaíno.

O vice de finanças do Vasco lembrou que os profissionais de futebol iniciam recuperação de jogadores já no avião em deslocamentos. O que seria impossível em voo comercial. O "voo solo" também é útil para as equipes de comunicação que captam imagens dos atletas nos ares como se estivessem em ônibus para chegada e saída de estádio.

Athletico, Atlético-MG, Bragantino, Corinthians, Grêmio, Goiás, Flamengo, Fluminense, Palmeiras, São Paulo, Sport e Vasco já usaram voos fretados neste Brasileiro

O ge procurou a Azul, uma das empresas que ofereceu pacote para clubes, para falar dos valores. A companhia aérea não abre os preços, mas um valor que pode chegar a R$ 60 mil pode cair para quase a metade, dependendo do trajeto, é claro. Flamengo e Vasco, por exemplo, pagam R$ 17 mil no fretado para ir a São Paulo. E mais de R$ 100 mil para enfrentar um dos clubes nordestinos.
 

Nem Botafogo e nem Fluminense, por enquanto, fecharam pacotes. O São Paulo vai analisar a logística rodada a rodada, mas já tem usado voos fretados – assim viajou para o Rio de Janeiro para enfrentar o Vasco, por exemplo. O Tricolor das Laranjeiras voltou de Curitiba de fretado para ganhar um dia de treino. Pagou R$ 40 mil. Em Minas, o Galo também usou a Passaredo.

De volta à Série A depois de 22 anos, o Bragantino, com aporte da multinacional Red Bull, é um dos clubes que fechou pacote até o fim do Brasileiro. Mas o presidente do Bragantino, Marcos Chedid, diz que o investimento privilegiou, mais do que o conforto, a saúde dos atletas.

- Quanto menos tiverem contato nos voos é melhor. Para eles e para aqueles que os acompanhassem - lembrou, em referência a diferenças para voos comerciais. - É questão de saúde e de segurança. No avião fretado podemos seguir os protocolos de segurança da CBF - afirmou Marquinhos Chedid.

*Colaboraram Eduardo Rodrigues, Felipe Zito, Guilherme Gonçalves, Guilherme Frossard e Thiago Lima.

Fonte: ge
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